Vivemos num mundo no
qual o profissional desejado pelas organizações não é mais aquele que apenas faz bem a
sua parte. As qualidades e competências que as empresas exigem dos
profissionais são tantas que, muitas vezes, confundem e, até mesmo, assustam a
maior parte dos seus empregados. Esse colaborador precisa ter afinidade com os
objetivos da empresa, ser auto motivado, ter iniciativa própria, ter capacidade
de comunicação, ser orientado à resultados, ser flexível, procurar assimilar os
valores e a cultura da empresa, saber gerenciar seu tempo e trabalhar em
equipe. E tudo isso sem esquecer, é claro, da sua especialidade, aquilo que o
colaborador sabe e conhece e motivou a sua contratação. É como se as empresas
quisessem demais! Elas pedem demais, sem fazer a menor cerimônia, como se isso
fosse a coisa mais natural do mundo.
Para enfrentar esse
mar de pressões as empresas buscam pessoas com um certo tipo de comportamento
adequado. E bota adequado nisso. Alguém que haja no melhor interesse da
organização, mesmo nas situações mais difíceis. Alguém que não amarele, não
trema, não pipoque, não se apavore, mesmo nos piores momentos. Alguém que
consiga, apesar das imperfeições e problemas organizacionais, da inexplicável
ignorância do chefe, das falhas de sistema, da falta de informação, das panes
inexplicáveis e erros inconfessáveis, entregar o que promete.
Devido a tantas
pressões, muitos acreditam que as pessoas vivem num verdadeiro inferno chamado
empresa, e que isso não ajuda as pessoas em nada, e nem fornece o combustível
necessário que as ajude a dar conta de suas tarefas em meio às montanhas de e-mails, às demandas de
reuniões, e dificuldades de relacionamento com superiores, colegas, clientes e
fornecedores. Estão todos contra todos, esbravejam alguns. Elas dizem: - “As
pessoas (= os outros) são o problema”.
No
meu post “Odeio Gente”, escrevi: “O trabalhador não sofre de estafa só
por ter trabalhado em excesso – ele se esgota por causa das pessoas”. Essa é
uma das frases do capitulo de introdução de Odeio Gente, um livro sobre o
relacionamento humano no ambiente de trabalho. A ideia básica dos autores
Jonathan Littman e Marc Hershon é que há uma crise na relação entre
colaboradores nas organizações que provoca muito stress por causa de certos
comportamentos das pessoas, que acaba gerando ineficiência operacional e que
atrapalha o alcance dos objetivos.
O filósofo Sartre
disse certa vez que “o inferno são os outros”. Pessoas nos machucam, fazem com
que nossos planos não deem certo, por isso, geralmente pensamos que se não
fossem os outros, a vida seria mais fácil. Contudo, se não fossem os outros,
também não teríamos em quem confiar, não poderíamos compartilhar nossas
vitórias e nos faltaria um ombro amigo para buscar apoio e conselhos. Sem os
outros, não teríamos nenhum motivo para trabalhar. Para que fazer algo de
extraordinário, se não vai servir a ninguém? Obviamente, o filósofo deve ter
considerado “outros” de tipos diferentes, alguns que são bons para nós e
outros, é preciso dizer, nem tanto.
Nos projetos –
implementados nas organizações por pessoas - convivemos intensamente com as
faces dessa mesma moeda humana: os projetos são feitos por pessoas e o ser
humano, com toda a sua riqueza e diversidade, está no centro das ações. Sim,
algumas vezes as pessoas são o problema. Mas, na maior parte das vezes, as
pessoas serão a solução. Mas onde encontrar as pessoas certas para o projeto?
Elas estão por aí, na sua própria empresa e no mercado. Pergunte para a área de
RH da sua empresa.
“O bêbado estava
procurando a chave debaixo do poste, quando alguém perguntou se ele a havia
perdido naquele lugar. Ele disse que não, mas estava procurando ali porque era
onde estava mais claro. Moral da estória: Há sempre uma tentação de buscar as
respostas onde está mais claro – e não onde elas realmente se encontram”
(XAVIER, 2006).
Sim, essa história não
tem um final feliz. Essa história tem muitas constatações e mais
perguntas do que respostas. Se você precisa trabalhar, esse é seu desafio. Vá
se acostumando.
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Fonte: Xavier, R.
“Gestão de Pessoas na Prática: Os desafios e as soluções”. Editora Gente: São
Paulo, 2006.
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