Vou iniciar esse post com a seguinte pergunta:
- o que fazer quando o Sr. Cliente, confrontado com uma situação desfavorável,
resolve virar a mesa? O Sr. Cliente – todo poderoso que nos dá o seu dinheiro
em troca dos nossos serviços que, por sua vez, são criados por um projeto - ameaça
reclamar com o seu chefe, diz que você, como gerente do projeto, deveria conhecer
melhor o contrato e está tentando incluir coisas que já estão contratadas. E o
pior é que nada disso é verdade.
Você conhece o contrato muito bem, afinal
ajudou a escrevê-lo. Mas, o Sr. Cliente decidiu pegar pesado com a sua equipe.
Um aparente jogo de cena usado como mecanismo de defesa. Ele percebeu, de
repente, no meio da reunião, que o seu pessoal esqueceu de incluir no contrato um
serviço importante e que agora fará falta. Ele não deseja pagar pelo serviço
adicional, mesmo sabendo que é isso que deve ser feito. Ao invés de perguntar o
preço desse serviço extra, ele decide pressionar o fornecedor. E você, caro
gerente de projetos, se vê do outro lado da imensa bola de ferro. Ele reclama,
cria uma situação desagradável, tentando obter o que está faltando. Quem sabe,
em nome da manutenção do bom relacionamento, o fornecedor não cede a essa
pequena pressão? Afinal, não custa tentar. Ele diz palavras ásperas como uma lixa e faz
ameaças, mas isso são apenas negócios. Nada é pessoal. Tenho certeza que muitos
que estão lendo esse post já devem ter passado por situações semelhantes, na
posição de cliente ou de fornecedor.
O gerente de projeto à princípio congela, sem
saber direito como lidar com uma reação tão inesperada e dura, por parte do
cliente. O Sr. Cliente tinha sido tão educado da vez passada. O que teria
mudado agora, você se pergunta? Ah, é claro, essa reação brusca começou quando
você mencionou o serviço adicional que não estava incluso no contrato. Parece
que o Sr. Cliente não quer pagar pelos serviços, embora queira recebê-los! Alguns
membros da equipe tentam iniciar uma resposta, mas as palavras engasgam na
garganta. A situação inusitada consegue transformar experts em jumentos. Se a
equipe de projeto não se preparou para negociar, não previu que uma mudança –
como a que veio para a agenda da reunião – poderia gerar uma situação de
conflito, estará em desvantagem nesse momento. Então, é preciso estar preparado
para negociar se uma situação de negociação se apresenta.
Em uma negociação, é comum encontrar táticas
empregadas para que um lado se beneficie, ao mesmo tempo que cede o menos
possível. São manobras que criam a percepção de que o seu poder de conseguir o
que quer é inferior ao da outra parte, diminuindo sua resistência. Talvez seja
exatamente isso que o cliente do exemplo acima está tentando fazer. Ele está
usando algumas táticas para obter alguma vantagem. Mas vamos, por um momento, deixar
de lado o diálogo cliente-fornecedor que estávamos explorando como um bom
exemplo para apresentar uma abordagem clássica da negociação.
A negociação é uma competência universal, ou
seja, ela é importante para qualquer área do conhecimento. No ambiente
empresarial, a negociação é uma necessidade freqüente, surgindo em diferentes
frentes, muitas vezes ao mesmo tempo, com processos de comunicação estabelecidos
com diversos interlocutores. Além disso, num ambiente profissional é necessário
fugir da improvisação, e é aí que se precisa conhecer o que se está negociando
e com quem se está negociando. Ter absoluta clareza sobre o que se deseja
alcançar com essa negociação. Discutir e aplicar as estratégias e táticas que
melhor se adaptam a situação presente. Saber trabalhar com as variáveis básicas
de uma negociação: poder, tempo e informação. Conhecer o seu nível mínimo
aceitável. Ser persuasivo e comunicar-se de forma simples e clara, e até mesmo
saber o momento de se levantar e ir embora.
O
quadro 1 traz a definição de negociação por diversos autores.
Na barganha posicional uma parte procura
aumentar a probabilidade de que qualquer acordo alcançado lhe seja favorável,
começando numa posição extremada, aferrando-se obstinadamente a ela, iludindo a
outra parte quanto a suas verdadeiras opiniões e fazendo pequenas concessões
apenas na medida necessária, para manter a negociação em andamento. O mesmo se
aplica a outra parte.
Quanto mais extremadas as posições iniciais e
menores as concessões, maiores serão o tempo e o esforço despendidos para
descobrir se o acordo é ou não possível. Discutir posições põe em risco a
mantenção do relacionamento! Quando há muitas partes, a barganha posicional é
ainda pior.
O
quadro 2 ilustra os estilos clássicos de negociação.
A negociação ocorre em dois níveis. Num deles,
a negociação diz respeito à substância; no outro, concentra-se, em geral, no
procedimento para lidar com a substância. Ao invés da negociação apenas na base
da força de vontades, pode-se trabalhar a negociação adotando-se quatro
fundamentos básicos; a saber:
Pessoas: separe as
pessoas do mérito do problema
Interesses: concentre-se
nos interesses, não nas posições
Opções: crie uma
variedade de possibilidades antes de decidir o que fazerCritérios: insista em que o resultado tenha por base algum critério objetivo
Pessoas
- Somos criaturas com fortes emoções. Temos percepções diferentes e
dificuldade de nos comunicar. Tipicamente, emoções acabam se misturando com os
méritos de um problema. Antes
de trabalhar no problema substantivo, o problema das pessoas deve ser
desembaraçado dele e tratado separadamente.
Interesses - O objetivo de uma negociação é satisfazer os
interesses das partes. Concentrar-se apenas nas posições pode obscurecer o que
realmente se quer.
Opções
- Trata-se de entender como é difícil conceber soluções ótimas enquanto
se está sob pressão. Ter muita coisa em jogo inibe a criatividade. O mesmo se
aplica a busca de uma única solução correta. Para contrabalançar essas
limitações prepare-se para a negociação criando soluções com alternativas que
sejam mutuamente vantajosas.
Critérios
- Quando os interesses são opostos, o negociador pode obter um resultado
favorável sendo simplesmente teimoso. Esse método tende a premiar a
intransigência e a produzir resultados arbitrários. Entretanto, se você pode
objetar a esse negociador, insista em que a simples afirmação dele não basta e
que o acordo deve refletir algum critério justo, independentemente da pura e
simples vontade de qualquer das partes. Isso não significa insistir em que os
termos se baseiem no padrão escolhido por você, mas sim em algo razoável e
aceito, como por exemplo, o valor de mercado, a opinião especializada, a lei,
ou mesmo as práticas aceitas por ambas as partes. Dessa forma os negociadores
poderão acatar uma solução justa.
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