“ – Um minuto-luz é a distância
que a luz consegue percorrer no intervalo de um minuto. E ela é grande, pois no
espaço sideral a luz percorre trezentos mil quilômetros em apenas um segundo.
Um minuto-luz, em outras palavras, é trezentos mil vezes sessenta, isto é,
dezoito milhões de quilômetros. Um ano-luz corresponde a cerca de dez trilhões
de quilômetros.
- E qual a distância daqui até o
Sol?
- Pouco mais que oito
minutos-luz. Os raios do Sol que aquecem nossa face num dia quente de verão
viajaram oito minutos pelo universo antes de nos alcançar.
- Continue!
- A distância até Plutão, que é o
primeiro planeta mais afastado do nosso sistema solar, é de meras cinco horas-luz
desde o nosso próprio planeta. Quando um astrônomo observa Plutão na objetiva
do seu telescópio, na verdade está retrocedendo cinco horas no tempo. Podemos
dizer de outra forma: que a imagem de Plutão leva cinco horas para se mover até
aqui.
- É difícil imaginar uma coisa
assim, mas, para dizer a verdade, eu acho que compreendo o que você quer dizer.
- Que bom, Hilde. Mas até agora
nós só começamos a nos orientar no espaço. Nosso próprio Sol é apenas uma entre
os quatrocentos bilhões de estrelas numa galáxia que chamamos de Via Láctea.
Essa galáxia se assemelha a um grande disco com vários braços em forma de
espiral, num dos quais está o nosso Sol. Quando observamos o céu de uma noite
de inverno, podemos ver um largo cinturão de estrelas. Isso porque estamos
olhando diretamente para o centro da Via Láctea.
- É por isso que a Via Láctea se
chama “Rua do Inverno” em sueco.
- A distância até nossa vizinha
mais próxima na Via Láctea é quatro anos-luz. Talvez seja aquela estrela ali,
brilhando acima daquela ilha lá longe. Imagine que agora mesmo lá existe um
astrônomo amador com um telescópio bem potente apontado para Bjerkely: ele está
enxergando a Bjerkely de quatro anos atrás. Talvez ele esteja vendo uma garota
de onze anos se balançando aqui.
- Incrível!
- Mas essa é apenas a estrela
vizinha mais próxima. A galáxia inteira, ou “nebulosa” como também a chamamos,
possui noventa mil anos-luz de largura. Essa é a quantidade de anos de que a
luz precisaria para ir de uma extremidade a outra. Quando vemos o brilho de uma
estrela da Via Láctea que está a cinquenta mil anos-luz de nosso próprio Sol,
estamos olhando para cinquenta mil anos no passado.
- É uma ideia muito grande para
uma cabeça pequena como a minha.
- A única maneira de enxergarmos
o universo é justamente olhando de volta no tempo. Não sabemos jamais como é o
universo lá fora. Só conseguimos saber como ele era. Quando olhamos para uma
estrela que está a milhares de anos-luz de distância, na verdade estamos
retrocedendo milhares de anos na história do universo.
- Isso é completamente
inimaginável.
- Tudo que vemos chega aos nossos
olhos através da luz, que se locomove em ondas. E essas ondas precisam de tempo
para viajar pelo espaço. Podemos fazer uma comparação com o trovão. Ouvimos o
trovão um tempo depois de termos visto o relâmpago ou o raio. Quando ouço o
trovão, estou ouvindo o barulho de algo que aconteceu no passado, ainda que
recente. Assim é também com as estrelas. Quando olho para o alto e vejo uma
estrela que se encontra a milhares de anos-luz daqui, estou “vendo o trovão” de
algo que aconteceu num passado remoto, há milhares de anos”.
Diálogo entre Hilde, uma menina
prestes à completar 15 anos, e seu pai. No livro eles vivem num lugar chamado
Bjerkely, na Noruega.
........................................................................................................
O texto acima, entre aspas, foi extraído
do livro O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia, de Jostein
Gaarder, que vendeu, somente no Brasil, mais de um milhão de exemplares.
Fonte: Gaarder, J. “O Mundo de
Sofia: romance da história da filosofia”. São Paulo: Cia das Letras, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Inclua seu comentário: