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Segundo o Wikipedia, o
conceito de mundo VUCA (sigla formada pelas letras V U C A) foi descrito pela
primeira vez em 1987, pelos professores Warren Bennis e Burt Nanos. Por sua
vez, o U.S. Army War College (que é a Escola Superior de Guerra dos EUA) introduziu
o conceito de VUCA para descrever o mundo multilateral que surgiu como resultado
do fim da Guerra Fria. O mundo VUCA é mais
volátil, incerto, complexo e ambíguo.
O capitalismo – que é o
sistema em que vivemos no mundo - passa por tempos interessantes e desafiadores.
Há um grande debate sobre o sistema capitalista e sua crise.
É válido pontuar que as condições políticas e históricas
levaram à necessidade de conciliar o capitalismo com a democracia, oferecendo
para a sociedade uma perspectiva de bem-estar social. Em outras palavras, o
capitalismo sempre esteve associado à democracia, em maior ou menor escala,
dependendo da região do planeta. Nos dias de hoje, vivemos em tempos de
crise.
O que presenciamos agora é, de um lado, o questionamento
sobre as desigualdades sociais geradas pelo capitalismo, produzindo revoltas
complexas, que a democracia e suas instituições parecem incapazes de solucionar,
além de – na outra ponta - respostas duras, autoritárias e pouco flexíveis de
governos apostando na ideia de que vale a pena corromper os princípios
democráticos em nome da preservação do capitalismo liberal. Isso torna o nosso
mundo mais instável, passando por uma grande onda de transição.
Esse mundo instável, que dentro do conceito de VUCA carrega
as condições de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, como um
tsunami, acaba inundando as organizações – empresas públicas e
privadas - que fazem parte desse mesmo mundo.
O mundo VUCA é volátil e isso se refere à velocidade de
mudança em uma indústria, mercado ou no mundo em geral. Quanto mais volátil é o
mundo, mais rápido as coisas mudam.
O mundo VUCA é incerto e
isso se refere a incapacidade das pessoas e empresas de entender o que está
acontecendo. Quanto mais incerto é o mundo, mais difícil é prever.
O mundo VUCA é complexo e
isso se refere ao número de fatores que precisamos levar em consideração, sua
variedade e as relações entre eles. Quanto mais complexo é o mundo, mais
difícil é analisá-lo.
O mundo VUCA é ambíguo e
isso se refere à falta de clareza sobre como interpretar algo. Quanto mais
ambíguo é o mundo, mais difícil é interpretá-lo.
A discussão sobre o chamado
mundo VUCA, que começou lá atrás envolvendo até a Escola Superior de Guerra dos
EUA, posteriormente se enraizou em abordagens sobre liderança estratégica que
se aplicam a uma ampla gama de organizações.
Segundo o website vuca-world.org/, no
mundo de hoje, nem a liderança de uma organização nem suas estratégias são
poupadas. Experiências, dogmas e paradigmas devem todos ser examinados. Não é
mais o caso de encontrar um caminho único ou uma ferramenta de gestão única,
uma vez que os padrões darão lugar à individualidade.
Mesmo assim, existe
uma moda de tentar generalizar formas de comportamento nas organizações que são
boas, positivas e bem-sucedidas em determinadas situações e circunstâncias
particulares, sugerindo aplicá-las para toda e qualquer situação. As pessoas
escrevem como se fossem pregadores religiosos e nós o seu rebanho de seguidores
ignorantes.
Menos, cara pálida! Quando
se força uma ideia goela abaixo, com pressa e sem muita cerimônia, erros são
cometidos e coisas básicas são esquecidas.
Mas, basta refletir um pouco para ver que tais ideias não irão muito
longe.
Um bom exemplo é
quando se fala na importância de encontrar soluções em equipe, aproveitando a
inteligência de todos para resolver problemas. Nesse caso, é comum encontrar
argumentos como o seguinte: - As soluções que uma
pessoa - mesmo um gênio - pode apresentar são quase invariavelmente inferiores
às geradas pela sabedoria da multidão. Já se foi o tempo em que a perícia
técnica e o carisma reinavam supremos. Hoje em dia, é mais importante fazer as
perguntas certas do que saber as respostas - e não é necessariamente o líder que
sabe as respostas certas.
Em primeiro lugar, não
é verdade que a perícia técnica deixou de ser importante. Além disso, a boa
ideia do conhecimento coletivo, de encontrar soluções em equipe, não se opõe ao
conhecimento técnico de seus membros. Um SQUAD, apenas para dar exemplo, que
tratamos no artigo “SQUADS para implementar agilidade organizacional”, é semelhante a uma equipe que tem
todas as habilidades e ferramentas necessárias para projetar, desenvolver, testar
e liberar para produção. Eles são uma equipe auto-organizada e decidem sua
própria maneira de trabalhar. Uma equipe desse tipo não pode abrir mão do
conhecimento técnico de seus membros, caso contrário, eles (e elas) não teriam todas
as habilidades e ferramentas necessárias para fazer seu trabalho. Portanto,
frases como “já se foi o tempo em que a perícia técnica e o carisma
reinavam supremos” acabam sendo apenas uma fonte de confusão teórica. Além
disso, existem muitos exemplos na história da humanidade mostrando que a
sabedoria da multidão nem sempre cria soluções sábias.
Outra questão é a ideia de que o novo
líder deve se sentir confortável operando à beira do caos e ser congruente e
integrado nas sensações, pensamentos, sentimentos e ações corporais. Isso
estaria em oposição a velha mensagem do equilíbrio entre trabalho e vida
pessoal.
Os que adoram criar as novas regras para o novo mundo VUCA afirmam que em
vez de tentar equilibrar a vida pessoal e o trabalho, os líderes devem trazer
todo o seu ser para ambos, o trabalho e a família. Sim, parece confuso. Isso seria
o que essa turma chama de ser congruente.
Hora, por definição, ser congruente significa coincidir e ser
correspondente de forma harmônica. Em outras palavras, a turma das novas regras
do mundo VUCA afirma que o novo líder deveria se dedicar na mesma medida e dar
a mesma importância para o trabalho e a família, mesmo que inúmeras pesquisas
já tenham comprovado o quanto isso é difícil para as pessoas de carne e osso em
todos os lugares do planeta. As pessoas até querem isso, mas não conseguem.
Isso não muda o fato de que ser autêntico e verdadeiro consigo mesmo é algo bom
e positivo.
Ter que trabalhar operando à beira do caos é uma coisa, que talvez seja
uma realidade que se impõe a muitos de nós. Mas, se sentir confortável com
isso, já é pedir demais e forçar uma barra que, na prática, não será sustentada
apenas por um jogo conveniente de palavras.
Há também o discurso de que tudo deve ser tratado com base no feedback do mercado,
como no desenvolvimento Ágil de produtos, largamente adotado em produtos digitais. Uma
abordagem que está longe da perfeição, mas atinge os resultados desejados muito
mais rapidamente. Essa ideia estaria em oposição as filosofias de
produção em larga escala da era industrial que usam abordagens como o 6 Sigma e
a manufatura enxuta.
Quando se desenvolve um
produto adotando uma abordagem Ágil deve-se trabalhar em ciclos curtos, colocar
o cliente no centro de tudo, com a obtenção do feedback do cliente, buscando
sempre alcançar o que traz e representa valor para o cliente. Isso é correto e
positivo.
Mas, ao mesmo tempo, devemos
lembrar que existem milhares de produtos já desenvolvidos e que continuam a ser
produzidos em larga escala nesse mesmo mundo VUCA. É como se a velha era
industrial ainda continuasse existindo, ao mesmo tempo que a nova era digital
está surgindo.
Em suma, não dá pra
simplesmente jogar fora filosofias de qualidade, como o 6 Sigma, que buscam eliminar
variações no processo de fabricação para produzir produtos sem defeitos em 99,99966%
do tempo.
Isso continua sendo muito
bom para os produtos fabricados em larga escala. Nesses casos, errar pode custar
caro e gerar desperdícios.
Não devemos esquecer que
existe uma gama enorme de produtos que não admitem erros. Eu falo de
medicamentos e alimentos, apenas para citar dois exemplos simples de entender.
Em resumo, mesmo com
a desculpa do mundo VUCA ou, refraseando para ser menos deselegante, mesmo
levando em consideração os efeitos do mundo VUCA e seus impactos no ambiente de
negócios, não se deve tentar impor metodologias de trabalho e estratégias que são
boas, positivas e bem-sucedidas em determinadas situações e circunstâncias
particulares, sugerindo aplicá-las para toda e qualquer situação. Vale o ditado
popular do “cada macaco no seu galho”, e como dito no início do presente texto,
não
é mais o caso de encontrar um caminho único ou uma ferramenta de gestão única.
E terminando esse artigo eu
gostaria de citar Leonardo Da Vinci que disse: “Quem pensa pouco, erra muito”. Bem,
acho que vamos ficar por aqui. Então tá falado, até a próxima.