terça-feira, 3 de novembro de 2020

Refletindo sobre a Pregação no Mundo VUCA

 


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Segundo o Wikipedia, o conceito de mundo VUCA (sigla formada pelas letras V U C A) foi descrito pela primeira vez em 1987, pelos professores Warren Bennis e Burt Nanos. Por sua vez, o U.S. Army War College (que é a Escola Superior de Guerra dos EUA) introduziu o conceito de VUCA para descrever o mundo multilateral que surgiu como resultado do fim da Guerra Fria. O mundo VUCA é mais volátil, incerto, complexo e ambíguo.

O capitalismo – que é o sistema em que vivemos no mundo - passa por tempos interessantes e desafiadores. Há um grande debate sobre o sistema capitalista e sua crise.

É válido pontuar que as condições políticas e históricas levaram à necessidade de conciliar o capitalismo com a democracia, oferecendo para a sociedade uma perspectiva de bem-estar social. Em outras palavras, o capitalismo sempre esteve associado à democracia, em maior ou menor escala, dependendo da região do planeta. Nos dias de hoje, vivemos em tempos de crise.

O que presenciamos agora é, de um lado, o questionamento sobre as desigualdades sociais geradas pelo capitalismo, produzindo revoltas complexas, que a democracia e suas instituições parecem incapazes de solucionar, além de – na outra ponta - respostas duras, autoritárias e pouco flexíveis de governos apostando na ideia de que vale a pena corromper os princípios democráticos em nome da preservação do capitalismo liberal. Isso torna o nosso mundo mais instável, passando por uma grande onda de transição.

Esse mundo instável, que dentro do conceito de VUCA carrega as condições de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, como um tsunami, acaba inundando as organizações – empresas públicas e privadas - que fazem parte desse mesmo mundo.

O mundo VUCA é volátil e isso se refere à velocidade de mudança em uma indústria, mercado ou no mundo em geral. Quanto mais volátil é o mundo, mais rápido as coisas mudam.

O mundo VUCA é incerto e isso se refere a incapacidade das pessoas e empresas de entender o que está acontecendo. Quanto mais incerto é o mundo, mais difícil é prever.

O mundo VUCA é complexo e isso se refere ao número de fatores que precisamos levar em consideração, sua variedade e as relações entre eles. Quanto mais complexo é o mundo, mais difícil é analisá-lo.

O mundo VUCA é ambíguo e isso se refere à falta de clareza sobre como interpretar algo. Quanto mais ambíguo é o mundo, mais difícil é interpretá-lo.

A discussão sobre o chamado mundo VUCA, que começou lá atrás envolvendo até a Escola Superior de Guerra dos EUA, posteriormente se enraizou em abordagens sobre liderança estratégica que se aplicam a uma ampla gama de organizações.

Segundo o website vuca-world.org/, no mundo de hoje, nem a liderança de uma organização nem suas estratégias são poupadas. Experiências, dogmas e paradigmas devem todos ser examinados. Não é mais o caso de encontrar um caminho único ou uma ferramenta de gestão única, uma vez que os padrões darão lugar à individualidade.

Mesmo assim, existe uma moda de tentar generalizar formas de comportamento nas organizações que são boas, positivas e bem-sucedidas em determinadas situações e circunstâncias particulares, sugerindo aplicá-las para toda e qualquer situação. As pessoas escrevem como se fossem pregadores religiosos e nós o seu rebanho de seguidores ignorantes.

Menos, cara pálida! Quando se força uma ideia goela abaixo, com pressa e sem muita cerimônia, erros são cometidos e coisas básicas são esquecidas.  Mas, basta refletir um pouco para ver que tais ideias não irão muito longe. 

Um bom exemplo é quando se fala na importância de encontrar soluções em equipe, aproveitando a inteligência de todos para resolver problemas. Nesse caso, é comum encontrar argumentos como o seguinte: - As soluções que uma pessoa - mesmo um gênio - pode apresentar são quase invariavelmente inferiores às geradas pela sabedoria da multidão. Já se foi o tempo em que a perícia técnica e o carisma reinavam supremos. Hoje em dia, é mais importante fazer as perguntas certas do que saber as respostas - e não é necessariamente o líder que sabe as respostas certas.

Em primeiro lugar, não é verdade que a perícia técnica deixou de ser importante. Além disso, a boa ideia do conhecimento coletivo, de encontrar soluções em equipe, não se opõe ao conhecimento técnico de seus membros. Um SQUAD, apenas para dar exemplo, que tratamos no artigo SQUADS para implementar agilidade organizacional”, é semelhante a uma equipe que tem todas as habilidades e ferramentas necessárias para projetar, desenvolver, testar e liberar para produção. Eles são uma equipe auto-organizada e decidem sua própria maneira de trabalhar. Uma equipe desse tipo não pode abrir mão do conhecimento técnico de seus membros, caso contrário, eles (e elas) não teriam todas as habilidades e ferramentas necessárias para fazer seu trabalho. Portanto, frases como “já se foi o tempo em que a perícia técnica e o carisma reinavam supremos” acabam sendo apenas uma fonte de confusão teórica. Além disso, existem muitos exemplos na história da humanidade mostrando que a sabedoria da multidão nem sempre cria soluções sábias.

Outra questão é a ideia de que o novo líder deve se sentir confortável operando à beira do caos e ser congruente e integrado nas sensações, pensamentos, sentimentos e ações corporais. Isso estaria em oposição a velha mensagem do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Os que adoram criar as novas regras para o novo mundo VUCA afirmam que em vez de tentar equilibrar a vida pessoal e o trabalho, os líderes devem trazer todo o seu ser para ambos, o trabalho e a família. Sim, parece confuso. Isso seria o que essa turma chama de ser congruente.

Hora, por definição, ser congruente significa coincidir e ser correspondente de forma harmônica. Em outras palavras, a turma das novas regras do mundo VUCA afirma que o novo líder deveria se dedicar na mesma medida e dar a mesma importância para o trabalho e a família, mesmo que inúmeras pesquisas já tenham comprovado o quanto isso é difícil para as pessoas de carne e osso em todos os lugares do planeta. As pessoas até querem isso, mas não conseguem. Isso não muda o fato de que ser autêntico e verdadeiro consigo mesmo é algo bom e positivo.  

Ter que trabalhar operando à beira do caos é uma coisa, que talvez seja uma realidade que se impõe a muitos de nós. Mas, se sentir confortável com isso, já é pedir demais e forçar uma barra que, na prática, não será sustentada apenas por um jogo conveniente de palavras.

Há também o discurso de que tudo deve ser tratado com base no feedback do mercado, como no desenvolvimento Ágil de produtos,  largamente adotado em produtos digitais. Uma abordagem que está longe da perfeição, mas atinge os resultados desejados muito mais rapidamente. Essa ideia estaria em oposição as filosofias de produção em larga escala da era industrial que usam abordagens como o 6 Sigma e a manufatura enxuta.

Quando se desenvolve um produto adotando uma abordagem Ágil deve-se trabalhar em ciclos curtos, colocar o cliente no centro de tudo, com a obtenção do feedback do cliente, buscando sempre alcançar o que traz e representa valor para o cliente. Isso é correto e positivo.

Mas, ao mesmo tempo, devemos lembrar que existem milhares de produtos já desenvolvidos e que continuam a ser produzidos em larga escala nesse mesmo mundo VUCA. É como se a velha era industrial ainda continuasse existindo, ao mesmo tempo que a nova era digital está surgindo.

Em suma, não dá pra simplesmente jogar fora filosofias de qualidade, como o 6 Sigma, que buscam eliminar variações no processo de fabricação para produzir produtos sem defeitos em 99,99966% do tempo.

Isso continua sendo muito bom para os produtos fabricados em larga escala. Nesses casos, errar pode custar caro e gerar desperdícios.

Não devemos esquecer que existe uma gama enorme de produtos que não admitem erros. Eu falo de medicamentos e alimentos, apenas para citar dois exemplos simples de entender.

Em resumo, mesmo com a desculpa do mundo VUCA ou, refraseando para ser menos deselegante, mesmo levando em consideração os efeitos do mundo VUCA e seus impactos no ambiente de negócios, não se deve tentar impor metodologias de trabalho e estratégias que são boas, positivas e bem-sucedidas em determinadas situações e circunstâncias particulares, sugerindo aplicá-las para toda e qualquer situação. Vale o ditado popular do “cada macaco no seu galho”, e como dito no início do presente texto, não é mais o caso de encontrar um caminho único ou uma ferramenta de gestão única.

E terminando esse artigo eu gostaria de citar Leonardo Da Vinci que disse: “Quem pensa pouco, erra muito”. Bem, acho que vamos ficar por aqui. Então tá falado, até a próxima.


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