Como
um pastor de ovelhas lidera gatos e outros bichos? Como liderar equipes de alto
desempenho? Seriam os gatos membros efetivos de uma equipe de alto desempenho? Sim,
se o que você deseja são miados e coco de gato. O alto desempenho precisa do
recurso certo capaz de fazer o trabalho corretamente.
O desempenho funciona melhor com
especialistas, com gente que sabe o que está fazendo. Isso seria como dizer,
trocando os bichos, cada macaco no seu galho. Mas, além de contar com gente competente,
as equipes de alto desempenho precisam ter o entusiasmo e a atitude correta de
querer fazer. A grande escritora Clarice Lispector afirmou que “a atitude é uma pequena coisa que faz uma grande
diferença”. Quem já esteve envolvido com o trabalho em equipe sabe que ela
tinha razão!
No
livro “Facilitação de Projetos – Conceitos e Técnicas para Alavancar Equipes”,
Peter Pfeiffer afirma que juntar um grupo de pessoas não as torna
automaticamente uma equipe. Dentro de um grupo de pessoas muitos fatores
poderão variar como, por exemplo, a dedicação, a personalidade, as competências
e as experiências individuais. O autor destaca que as equipes precisam ser
construídas e desenvolvidas, em um trabalho que passa por quatro estágios:
Formar: As pessoas se aproximam, se sondam
mutuamente, geralmente com simpatia, mas sem muita confiança;
Contestar: As pessoas começam a testar
umas às outras, bem como os próprios limites, desafiando e questionando
posições e conteúdos. A produtividade é ainda baixa e às vezes conflitos vêm à
tona;
Normatizar: Começa-se a construir valores
e visões comuns que resultam em normas e regras de convivência e de trabalho;
Desempenhar: Já com maior confiança entre
as pessoas, a cooperação começa a fluir melhor e resulta em maior produtividade
e satisfação.
O
autor reforça ainda que as equipes precisam ser desenvolvidas sistemática e
continuamente. Os relacionamentos entre as pessoas não são construídos em um
único momento para durar para sempre, eles têm que ser confirmados e renovados
ao longo dos trabalhos a serem realizados em equipe. Neste processo, a
confiança é um elemento-chave, embora não o único, para o bom desempenho de
equipes.
Do
ponto de vista das metodologias ágeis existem práticas que auxiliam a formação
de equipes de alto desempenho. Vitor Massari, em seu livro Gerenciamento Ágil
de Projetos, destaca as seguintes práticas:
Na visão do líder deve-se:
·
Criar
uma visão compartilhada para a equipe;
·
Deixar
claras as expectativas;
·
Ter
metas realísticas;
·
Limitar
a equipe a no máximo 12 (doze) membros;
·
Construir
uma identidade da equipe;
·
Prover
uma forte liderança.
Na visão da equipe deve-se:
·
Buscar
a auto-organização (sem depender da figura do líder para delegar ou controlar
tarefas);
·
Ser
fortalecida para tomar decisões;
·
Acreditar
que podem resolver qualquer problema;
·
Comprometer-se
com o sucesso da equipe;
·
Assumir
decisões e compromissos;
·
Motivar
por confiança;
·
Ser
dirigida a consenso (buscar consenso através de técnicas participativas de
decisão);
·
Viver
em um mundo de constante desacordo construtivo (usar conflito construtivo para
evolução e amadurecimento da equipe).
O
autor ainda reforça os principais pontos que devem ser evitados em equipes de
alto desempenho: falta de confiança, medo do conflito, falta de
comprometimento, atitude de evitar responsabilidade e desatenção aos
resultados.
O
trabalho da equipe depende do trabalho de cada um de seus membros. Nesse
sentido, é vital investir na melhoria contínua individual. E aqui vale comentar
uma técnica chamada PSP, ou Personal Software Process. O PSP foi criado, por Watts
Humphrey, com o objetivo de prover métodos bem definidos para melhoria
individual dentro do desenvolvimento de software. O PSP auxilia os engenheiros
de software a melhorar sua capacidade de estimativa e planejamento, assumir
compromissos que possam cumprir, gerenciar a qualidade dos seus projetos e, não
menos importante, reduzir o número de defeitos no seu trabalho. Embora
desenvolvida para a engenharia de software, a técnica PSP é aplicada em várias outras
áreas com sucesso. O livro “Gerenciamento dos Recursos Humanos em Projetos”, de
Carlos J. Locoselli e Márcio Zenker, descreve os princípios de qualidade dessa
técnica:
·
Dentre
os profissionais que desempenham um mesmo papel, num mesmo projeto, um é diferente
do outro e para que uma pessoa seja eficaz naquilo que realiza, deve planejar
seu trabalho e basear seus planos sobre os próprios dados pessoais;
·
Para
que o indivíduo melhore constantemente o próprio desempenho, deve usar
processos e métricas pessoais bem definidas;
·
Para
produzir produtos de qualidade, o profissional deve se sentir pessoalmente
responsável pela qualidade dos seus produtos, uma vez que produtos de alta
qualidade não são feitos ao acaso: ele deve esforçar-se para fazer um trabalho
de qualidade;
·
O
custo para encontrar e corrigir defeitos desde o início de um processo é
consideravelmente menor do que detectá-los e corrigi-los nas fases finais do
mesmo;
·
Há
muito mais eficiência em prevenir defeitos do que encontrá-los e corrigi-los;
·
A
maneira correta é sempre a maneira mais rápida e barata para fazer um trabalho.
Os
autores destacam que o PSP mostra como planejar o trabalho por um
processo definido, além de estabelecer metas mensuráveis para
acompanhar o desempenho do profissional.
Nesse
debate sobre equipes de alto desempenho, Eugênio Mussak, professor do MBA da
Fundação Instituto de Administração (FIA), vai um pouco mais além. Ele acredita
que uma equipe de alto desempenho precisa ter paixão! Um trecho do artigo do prof. Mussak, publicado no site da revista Exame, diz exatamente o seguinte: “Analisando mais de perto essa questão, percebemos
que a paixão não existe por si só. Ela tem fontes reais, origens claras
e consistentes. Podemos dizer que uma equipe, para desenvolver tal sentimento e
atingir desempenho acima do esperado, precisa ter três qualidades essenciais:
• Primeira:
a equipe
precisa de um objetivo bem definido. Uma meta que as pessoas considerem
uma missão grandiosa. Equipes de alta performance adoram causas para defender.
E essa missão tem de ser acompanhada de uma estratégia inteligente,
claro. Uma missão sem estratégia não passa de uma aventura irresponsável.
• Segunda:
a equipe deve
ser formada por pessoas que, além das qualidades comuns aos bons times, como
complementariedade, entrosamento e confiança, gostem de desafios. É bom
lembrar que o desafio sempre vem acompanhado de risco. Então, é necessário
ter apreço pelo risco.
• Terceira: a equipe deve ter um líder
inspirador. Aquele tipo de líder que, além de defender a causa e ter apreço
pelo desafio e pelo risco, transpira uma insatisfação pessoal permanente.
Ele sempre acha que, por melhores que sejam, os resultados poderiam ser
ainda melhores — a começar por seu próprio desempenho.
Para
tocar a rotina, uma equipe é suficiente. Para partir para novas conquistas e
colocar a empresa em um novo patamar, é preciso uma equipe de alto desempenho.
Mas cuidado — os times de alta performance, por gostarem de desafios, ficam
desmotivados quando não estão enfrentando nenhum.
Se
você é líder e deseja que sua equipe seja de alta performance, prepare-se para
lidar com a energia de pessoas inquietas e esteja pronto também para ser, você
mesmo, um líder de alto desempenho. O chefe deve ser o primeiro a dar o
exemplo”.
Nem ovelhas, nem gatos ou macacos, os projetos são feitos por pessoas, seres humanos que precisam se conectar e lidar com suas emoções. Basta reler e confirmar! E
você? Na sua opinião, o que é importante para liderar
uma equipe de alto desempenho? Envie o seu comentário.
Referências bibliográficas:
PFEIFFER,
P. ”Facilitação de Projetos: Conceitos e Técnicas para Alavancar Equipes”. Rio
de Janeiro: Brasport, 2006.
MASSARI,
V. L. “Gerenciamento Ágil de Projetos: Uma Visão Preparatória para a
Certificação Ágil do PMI (PMI-ACP)”. Rio de Janeiro: Brasport, 2014.
LOCOSELLI,
C. J., ZENKER, M. “Gerenciamento dos Recursos Humanos em Projetos”. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2014.
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