sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sobre Equipes de Alto Desempenho

Como um pastor de ovelhas lidera gatos e outros bichos? Como liderar equipes de alto desempenho? Seriam os gatos membros efetivos de uma equipe de alto desempenho? Sim, se o que você deseja são miados e coco de gato. O alto desempenho precisa do recurso certo capaz de fazer o trabalho corretamente. 
 
 
O desempenho funciona melhor com especialistas, com gente que sabe o que está fazendo. Isso seria como dizer, trocando os bichos, cada macaco no seu galho. Mas, além de contar com gente competente, as equipes de alto desempenho precisam ter o entusiasmo e a atitude correta de querer fazer.  A grande escritora Clarice Lispector afirmou que “a atitude é uma pequena coisa que faz uma grande diferença”. Quem já esteve envolvido com o trabalho em equipe sabe que ela tinha razão!

No livro “Facilitação de Projetos – Conceitos e Técnicas para Alavancar Equipes”, Peter Pfeiffer afirma que juntar um grupo de pessoas não as torna automaticamente uma equipe. Dentro de um grupo de pessoas muitos fatores poderão variar como, por exemplo, a dedicação, a personalidade, as competências e as experiências individuais. O autor destaca que as equipes precisam ser construídas e desenvolvidas, em um trabalho que passa por quatro estágios:
Formar: As pessoas se aproximam, se sondam mutuamente, geralmente com simpatia, mas sem muita confiança;
Contestar: As pessoas começam a testar umas às outras, bem como os próprios limites, desafiando e questionando posições e conteúdos. A produtividade é ainda baixa e às vezes conflitos vêm à tona;
Normatizar: Começa-se a construir valores e visões comuns que resultam em normas e regras de convivência e de trabalho;
Desempenhar: Já com maior confiança entre as pessoas, a cooperação começa a fluir melhor e resulta em maior produtividade e satisfação. 
O autor reforça ainda que as equipes precisam ser desenvolvidas sistemática e continuamente. Os relacionamentos entre as pessoas não são construídos em um único momento para durar para sempre, eles têm que ser confirmados e renovados ao longo dos trabalhos a serem realizados em equipe. Neste processo, a confiança é um elemento-chave, embora não o único, para o bom desempenho de equipes.
Do ponto de vista das metodologias ágeis existem práticas que auxiliam a formação de equipes de alto desempenho. Vitor Massari, em seu livro Gerenciamento Ágil de Projetos, destaca as seguintes práticas:
Na visão do líder deve-se:
·         Criar uma visão compartilhada para a equipe;
·         Deixar claras as expectativas;

·         Ter metas realísticas;

·         Limitar a equipe a no máximo 12 (doze) membros;

·         Construir uma identidade da equipe;

·         Prover uma forte liderança.
Na visão da equipe deve-se:
·         Buscar a auto-organização (sem depender da figura do líder para delegar ou controlar tarefas);

·         Ser fortalecida para tomar decisões;

·         Acreditar que podem resolver qualquer problema;

·         Comprometer-se com o sucesso da equipe;

·         Assumir decisões e compromissos;

·         Motivar por confiança;

·         Ser dirigida a consenso (buscar consenso através de técnicas participativas de decisão);

·         Viver em um mundo de constante desacordo construtivo (usar conflito construtivo para evolução e amadurecimento da equipe).
O autor ainda reforça os principais pontos que devem ser evitados em equipes de alto desempenho: falta de confiança, medo do conflito, falta de comprometimento, atitude de evitar responsabilidade e desatenção aos resultados.
O trabalho da equipe depende do trabalho de cada um de seus membros. Nesse sentido, é vital investir na melhoria contínua individual. E aqui vale comentar uma técnica chamada PSP, ou Personal Software Process. O PSP foi criado, por Watts Humphrey, com o objetivo de prover métodos bem definidos para melhoria individual dentro do desenvolvimento de software. O PSP auxilia os engenheiros de software a melhorar sua capacidade de estimativa e planejamento, assumir compromissos que possam cumprir, gerenciar a qualidade dos seus projetos e, não menos importante, reduzir o número de defeitos no seu trabalho. Embora desenvolvida para a engenharia de software, a técnica PSP é aplicada em várias outras áreas com sucesso. O livro “Gerenciamento dos Recursos Humanos em Projetos”, de Carlos J. Locoselli e Márcio Zenker, descreve os princípios de qualidade dessa técnica:    

·         Dentre os profissionais que desempenham um mesmo papel, num mesmo projeto, um é diferente do outro e para que uma pessoa seja eficaz naquilo que realiza, deve planejar seu trabalho e basear seus planos sobre os próprios dados pessoais;

·         Para que o indivíduo melhore constantemente o próprio desempenho, deve usar processos e métricas pessoais bem definidas;

·         Para produzir produtos de qualidade, o profissional deve se sentir pessoalmente responsável pela qualidade dos seus produtos, uma vez que produtos de alta qualidade não são feitos ao acaso: ele deve esforçar-se para fazer um trabalho de qualidade;

·         O custo para encontrar e corrigir defeitos desde o início de um processo é consideravelmente menor do que detectá-los e corrigi-los nas fases finais do mesmo;

·         Há muito mais eficiência em prevenir defeitos do que encontrá-los e corrigi-los;

·         A maneira correta é sempre a maneira mais rápida e barata para fazer um trabalho.

Os autores destacam que o PSP mostra como planejar o trabalho por um processo definido, além de estabelecer metas mensuráveis para acompanhar o desempenho do profissional.
Nesse debate sobre equipes de alto desempenho, Eugênio Mussak, professor do MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA), vai um pouco mais além. Ele acredita que uma equipe de alto desempenho precisa ter paixão! Um trecho do artigo do prof. Mussak, publicado no site da revista Exame, diz exatamente o seguinte: “Analisando mais de perto essa questão, percebemos que a paixão não existe por si só. Ela tem fontes ­reais, origens claras e consistentes. Podemos dizer que uma equipe, para desenvolver tal sentimento e atingir desempenho acima do esperado, precisa ter três qualidades essenciais:
Primeira: a equipe precisa de um objetivo bem definido. Uma meta que as pessoas considerem uma missão grandiosa. Equipes de alta performance adoram causas para defender. E essa missão tem de ser acompanhada de uma estratégia inteligente, claro. Uma missão sem estratégia não passa de uma aventura irresponsável. 
Segunda: a equipe deve ser formada por pessoas que, além das qualidades comuns aos bons times, como complementariedade, entrosamento e confiança, gostem de desafios. É bom lembrar que o desafio sempre vem acompanhado de risco. Então, é necessário ter apreço pelo risco
Terceira: a equipe deve ter um líder inspirador. Aquele tipo de líder que, além de defender a causa e ter apreço pelo desafio e pe­lo risco, transpira uma insatisfação pessoal­ permanente. Ele sempre acha que, por melhores que sejam, os resultados poderiam ser ainda melhores — a começar por seu próprio desempenho. 
Para tocar a rotina, uma equipe é suficiente. Para partir para novas conquistas e colocar a empresa em um novo patamar, é preciso uma equipe de alto desempenho. Mas cuidado — os times de alta performance, por gostarem de desafios, ficam desmotivados quando não estão enfrentando nenhum.
Se você é líder e deseja que sua equipe seja de alta performance, prepare-se para lidar com a energia de pessoas inquietas e esteja pronto também para ser, você mesmo, um líder de alto desempenho. O chefe deve ser o primeiro a dar o exemplo”
Nem ovelhas, nem gatos ou macacos, os projetos são feitos por pessoas, seres humanos que precisam se conectar e lidar com suas emoções. Basta reler e confirmar! E você? Na sua opinião, o que é importante para liderar uma equipe de alto desempenho? Envie o seu comentário.
Referências bibliográficas:

PFEIFFER, P. ”Facilitação de Projetos: Conceitos e Técnicas para Alavancar Equipes”. Rio de Janeiro: Brasport, 2006.
MASSARI, V. L. “Gerenciamento Ágil de Projetos: Uma Visão Preparatória para a Certificação Ágil do PMI (PMI-ACP)”. Rio de Janeiro: Brasport, 2014.
LOCOSELLI, C. J., ZENKER, M. “Gerenciamento dos Recursos Humanos em Projetos”. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

 

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