Uma das formas de analisar as
organizações é descobrir se são orientadas aos processos ou se são orientadas
aos projetos.
As organizações do tipo process
driven (orientadas aos processos) trabalham seguindo
os seus processos de trabalho, com operações rotineiras necessárias para
garantir o fluxo produtivo. As empresas multinacionais, por exemplo, são
organizações típicas do tipo process driven, que operam sem limitações de tempo (24 horas por dia) ou
de espaço (em vários países de diferentes continentes do planeta). Essas
organizações crescem em termos de conhecimento e da escala de suas operações. O
conhecimento é criado e transferido. O conhecimento deve se transformar em
procedimentos e melhores práticas explicitamente documentadas. Este
conhecimento é dirigido para o sistema da organização e não para as pessoas. Nesse
modelo, a organização “não precisa” das pessoas, confirmando o ditado que diz
que ninguém é indispensável ou insubstituível. Isso significa que, se um
funcionário que fazia alguma tarefa ou atividade deixa a organização, um novo
funcionário – que será contratado com a necessária experiência e formação
adequada - poderá assumir e seguir os passos descritos na documentação e, com
algum treinamento e em algum tempo, poderá realizar o trabalho que era feito
pelo funcionário que deixou a organização. Tudo isso carrega a ideia da
organização como uma entidade independente das pessoas, cujo comportamento é
governado por um conjunto de regras pré-definidas e de políticas. Alguns
exemplos de grandes empresas que são dirigidas por processos e, portanto, são do
tipo process driven: A Ford Motors, que inventou a linha de montagem para
ganhar eficiência, a Wal-Mart com seus esforços para automação em seus
processos, e a Dell que decidiu adotar o modelo de negócio de só iniciar a
produção após receber o pedido de compra. Além das montadoras de automóveis,
grandes redes de supermercados e fabricantes de computadores, muitas empresas –
notadamente no segmento de manufatura - são tipicamente process driven.
As
organizações do tipo project driven tem estruturas com departamentos e pessoal
organizadas em torno de cada projeto particular. Em outras palavras, os
funcionários podem pertencer a departamentos diferentes, mas todos precisam
estar alocados a algum projeto específico. As empresas de construção,
aeroespacial e de pesquisa, são exemplos típicos de organizações do tipo project driven.
De acordo com
Menezes (2009), é possível observar que grande parcela das organizações
encontra-se em um estágio intermediário: existem operações rotineiras para
garantir o fluxo produtivo e existem também atividades inovadoras
(implementadas através de projetos) para garantir a melhoria dos processos e de
toda organização. Por exemplo, as empresas de TI (Tecnologia da Informação),
que se incluem na indústria de serviços, são consideradas como híbridas, uma
vez que uma parte dessas organizações opera como project
driven (quando está desenvolvendo um novo aplicativo de software), e outra
parte opera como process driven (quando está
fornecendo serviços de suporte para suas aplicações de software).
Uma organização matricial é um tipo
híbrido de organização (como as empresas de TI acima citadas) em que estão
presentes os departamentos especializados (vendas, marketing, suprimentos,
recursos humanos, jurídico, financeiro, produção, etc). O fluxo produtivo da
empresa será garantido pela execução dos processos (process
driven). Todavia, para realizar um projeto, a empresa opera com equipes
compostas por funcionários de diversas especialidades e departamentos (project
driven). Nessa situação, um funcionário tem um superior hierárquico no seu
departamento (que é o gerente de linha ou gerente funcional) e também precisa
se reportar ao superior no projeto, que é o gerente de projetos. Aliás, esse é
um dos fatores que torna a coexistência das operações rotineiras e dos projetos
muitas vezes difícil, para dizer o mínimo.
E o que isso tem a ver com a ideia de
maturidade em gerenciamento de projetos?
Sim, exatamente, tem tudo a ver! É óbvio
que diferentes organizações poderão estar em diferentes níveis de maturidade em
relação ao gerenciamento de projetos. Ser maduro em relação ao gerenciamento de
projetos significa, para começo de conversa, compreender que para gerenciar um
projeto é necessário usar métodos, técnicas e ferramentas diferentes daquelas
usadas na gestão dos processos e rotinas do dia a dia da empresa. Significa também
compreender as características próprias do trabalho de um gerente de projetos.
No Brasil existe o Modelo de Maturidade
em Gerenciamento de Projetos (MMGP) do prof. Darci Prado. Esse modelo considera
que as organizações poderão se encontrar em cinco níveis diferentes de
maturidade; a saber:
Nível 1 – é o nível embrionário ou ad
hoc, que representa um cenário em que a organização não efetuou nenhum esforço
para a implantação de um modelo de gestão de projetos. Os projetos são
executados de forma isolada, em que cada um adota uma forma de gerenciar,
sendo, portanto, executados na base da intuição, boa vontade ou do melhor
esforço individual. O resultado positivo é fruto do esforço individual ou da
sorte.
Nível 2- é chamado de nível conhecido, que
representa o cenário onde a organização desenvolveu algum esforço em gestão de
projetos, no sentido de criar uma linguagem comum, ou seja, uma linguagem única
para o assunto. A organização faz investimentos regulares em treinamento e
adota softwares de gerenciamento de projetos. Nesse nível ainda falta um
modelo padronizado de gestão de projetos. Isso deixa a organização exposta a
vários problemas como, por exemplo, atrasos nos prazos, erros nos custos,
mudanças de escopo no decorrer do projeto, não atendimento a indicadores de
eficiência e insatisfação dos clientes.
Nível 3 – é chamado de nível padronizado,
que representa o cenário no qual a organização implanta e utiliza um modelo
padronizado para gerenciamento de projetos, com base em uma metodologia, usando
recursos computacionais e uma estrutura organizacional adequada. É
feita a padronização de procedimentos a ser difundida e utilizada em todos os
projetos, sob a liderança de um PMO (Project Management Office, ou Escritório
de Projetos), visando alcançar um alto grau de comprometimento das partes
interessadas no projeto.
Nível 4 – é chamado de nível gerenciado,
e inclui a consolidação das ações iniciadas no nível 3 (metodologia,
informatização, estrutura organizacional e alinhamento estratégico). No nível 4,
o modelo de gerenciamento de projetos implantado no nível 3 está sendo
praticado de forma eficiente e eficaz. É feita a avaliação permanente de quanto
o modelo está funcionando bem, e os resultados são armazenados em um banco de
dados que contém as informações sobre cada projeto encerrado, possibilitando o
acesso às melhores práticas executadas. Neste nível se investe na evolução do
gerenciamento, com ênfase no alcance de relacionamentos humanos eficientes, principalmente
por meio de treinamento nas seguintes áreas: gestão de pessoas, técnicas de negociação,
gerenciamento de conflitos, motivação e liderança.
Nível 5 – é conhecido como nível otimizado,
que representa um cenário em que a organização alcança a sabedoria em
gerenciamento de projetos. Nesse nível, todas as iniciativas implantadas nos
níveis 2, 3 e 4 alcançaram um patamar de excelência. A experiência e o
conhecimento adquiridos na execução dos projetos transformam-se em melhores práticas
para projetos futuros, que serão executados de forma otimizada. A organização conquista
a confiança de seus profissionais e passa a aceitar novos desafios.
Ainda no MMGP, a análise do nível de
maturidade em gerenciamento de projetos para uma organização leva em conta seis
dimensões; a saber: conhecimento (que é a competência técnica em gerenciamento de
projetos), uso de metodologia, uso de informatização, uso de adequada estrutura
organizacional, competência comportamental (ligada aos relacionamentos humanos) e
alinhamento com os negócios da organização (e estratégias).
Conhecimento (competência técnica em
gerenciamento de projetos) - envolve o conhecimento adquirido com práticas de
gestão de projetos existentes, contidas em diferentes modelos.
Uso de metodologia – envolve a
estruturação e utilização de uma metodologia de gestão de projetos com uma
série de passos a serem seguidos para garantir a aplicação correta dos métodos,
técnicas e ferramentas.
Uso da informatização – representa a
elaboração (ou a compra) de um sistema informatizado em que os dados de todos projetos
da organização podem ser visualizados (e atualizados). O sistema deve permitir
o acompanhamento dos indicadores de desempenho dos projetos.
Uso de adequada estrutura organizacional
– envolve a formação dessa estrutura de forma a diminuir os conflitos e
aumentar os resultados.
Competência comportamental (relacionamentos
humanos) – envolve o conhecimento do relacionamento humano, visando a motivar
os membros da equipe e minimizar possíveis conflitos. Os aspectos de
relacionamento humano afetam todos os envolvidos no projeto.
Alinhamento com os negócios da
organização – também chamado de alinhamento estratégico, envolve o alinhamento
dos produtos atuais e futuros projetos com os objetivos estratégicos da
organização. A tabela abaixo apresenta o relacionamento entre as dimensões e os
níveis de maturidade do MMGP.
Tabela 1: Relacionamento entre as Dimensões e os Níveis de Maturidade do Modelo MMGP (Adaptado de Prado, 2008) |
Para saber mais sobre o modelo de
maturidade em gerenciamento de projetos do prof. Darci Prado acesse o seguinte
link: http://www.maturityresearch.com/novosite/index.html
Referência:
MENEZES, L. C. de M. “Gestão de Projetos”. 3ª. edição. São Paulo: Atlas, 2009.
PRADO, D. “Maturidade
em Gerenciamento de Projetos”. Minas Gerais: INDG-Tecs, 2008.
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