Será
que é difícil ser uma pessoa bem humorada no mundo corporativo? Para ser sincero,
acredito que sim, isso é muito difícil! Afinal de contas, na grande maioria das
empresas, o ambiente de trabalho não costuma ser parecido com uma praia no
verão, ensolarada e tranquila, um lugar perfeito para uma cerveja gelada, sem
cobranças ou preocupações. Ao contrário, quem está no ambiente de trabalho
costuma conviver com muita pressão e estresse. E não é só isso! É comum ver
discursos cheios de verdades seletivas, que é o que acontece quando se conta
uma estória com apenas a parte da verdade que interessa a empresa. Sim, isso
significa pisar em ovos, em um caminho cheio de armadilhas capazes de provocar
grandes tropeços aos menos avisados. Será preciso ser muito perspicaz para
traduzir uma comunicação muitas vezes confusa, outras vezes vazia ou evasiva,
cuidadosamente preparada para informar o mínimo necessário, e feita por vozes mais
preocupadas com o eco das massas do que com o conteúdo da mensagem em si.
Me
deixa explicar isso melhor. De tempos em tempos o problema da energia elétrica
surge na mídia como o assunto do momento, com artigos e reportagens mostrando
como todos nós, cidadãos preocupados com o bem estar comum, devemos dar a nossa
contribuição pessoal para economizar energia e usar essa riqueza de forma consciente.
Há alguns anos, na empresa em que eu trabalhava, houve uma campanha de
comunicação para economia de energia elétrica muito bem elaborada. Era tão bem
feita que fazia cada funcionário se orgulhar de trabalhar em uma organização
que demonstrava preocupação com o bem comum. Mas essa comunicação entrou em
rota de colisão, na mente desses mesmos funcionários, quando – na mesma época
em que rolava essa campanha - toda uma área da empresa foi dissolvida e todos
os funcionários dessa área foram demitidos sumariamente, sem que houvesse
nenhuma preocupação com o que ia acontecer com eles. Não houve nenhum aviso ou
comunicado oficial nas caixas de e-mail ou nos quadros de aviso. Simplesmente,
nada. Com a ação de eliminar postos de trabalho a empresa comunicou que era
dura e faria o que fosse necessário, quando entendesse que isso era o melhor a
fazer do ponto de vista da empresa. Sem piedade, sem preocupação com o bem estar
dos outros, só com o seu próprio. Não sejamos inocentes, a maior parte dessas
campanhas não passa de puro marketing. A empresa diz: - “Eu sou uma organização
que me preocupo com o meio ambiente”. Sim, mas o que ela deseja é a simpatia de
seus clientes e o aumento nas vendas por conta disso. É por isso que eu sempre
torço o nariz quando vejo empresas fazendo campanhas de abrangência social,
sobre coisas que não tem impacto direto e imediato sobre elas. Isso faz parte
da comunicação confusa, que mostra uma face quando o assunto está muito
distante do chão de fábrica e das mesas do escritório, e outra quando o buraco
é mais embaixo e próximo de suas operações. A questão central aqui é que nenhuma
empresa pode ser dar ao luxo de ser boazinha e esquecer que precisa obter
lucro. Os gestores, em certas ocasiões, terão que tomar medidas duras, não
porque são pessoas ruins, mas porque será necessário. De uma forma ou de outra,
isso é estressante, com toda a certeza.
Alguém
me disse uma vez que se, em um determinado assunto, você pensa de forma
diferente do jeito de pensar da empresa, deve guardar a sua opinião diferente
para você mesmo. Se você expressar essa opinião terá que justificá-la muito
bem. Caso contrário, tem grande chance de levar a fama do sujeito que não está
alinhado com a cultura da empresa. O que é péssimo para suas pretensões de
crescimento profissional. Puxa vida, mas isso foi só um mal entendido, alguém
poderia pensar. Que gente apressada em rotular as pessoas, diria outro leitor.
Sim, nas empresas existem fofocas, a famosa “radio peão”, os puxa saco do
chefe, os colegas sangue suga, que se aproveitam do trabalho alheio, os
oportunistas, os arrogantes e por aí vai! Por tudo isso é difícil manter o bom
humor no mundo corporativo. A maioria de nós, pessoas normais com sangue latino
correndo nas veias, com qualidades e defeitos, não consegue ficar imune a
correria desenfreada das empresas, com conflitos e constantes cobranças por
resultados. E aí, o bom humor já era!
É
bom que se diga, se bem me lembro nesses mais de 35 anos de experiência
profissional, que já convivi com colegas que, mesmo com todos os problemas
citados anteriormente, conseguiam manter o bom humor. Com toda a certeza, um
grupo de pessoas especiais. Tinham, dentro de si, algo muito importante e
desejado: a habilidade de manter a calma e o bom humor nas situações difíceis e
nas crises. Um deles me disse uma vez, com certa ironia, que “o pior que pode
acontecer comigo aqui na empresa, se tudo der errado, é ser despedido. Mas isso
não é pior que a morte”. Sim, esse meu colega usou uma boa dose de humor negro,
que poderia ser considerada até de mau gosto, mas que tinha a qualidade de
mostrar a real magnitude dos problemas que estávamos enfrentando, com situações
que não admitiam erro e, se mal conduzidas, poderiam produzir grandes danos
para a empresa. Ele procurava se manter calmo e demonstrava muita confiança.
Era bom estar com ele nos momentos difíceis. Afinal, é na tempestade que o
capitão do navio demonstra sua capacidade. Nessas horas complicadas ninguém
gosta de gente que fica o tempo todo se lamentando e que só mostra a sua
incapacidade de agir. Ficar choramingando e de mau humor não resolve nenhum
problema.
Descrevi,
no início desse post, aspectos negativos que podem ser encontrados em muitas
empresas. Mas nem todas as empresas são iguais, e nesse ponto também sou
testemunha. Digo isso porque também tive a oportunidade de trabalhar em
empresas que, embora não fossem perfeitas, porque empresas perfeitas não
existem, sabiam comemorar o alcance de suas metas, com gestores que apoiavam
suas equipes ao invés de apenas cobrar, tinham abertura para novas ideias,
incentivavam seus colaboradores a buscar o seu melhor e sabiam que cara feia
não significa, necessariamente, seriedade no trabalho.
Outro
dia li um texto de um desses gurus de recursos humanos – que agora não tenho
vontade de dizer o nome - afirmando que "não é bom para os negócios de uma
empresa ter empregados mal humorados". Bem, acho que as empresas precisam fazer a
sua parte se realmente desejarem que isso aconteça. E, mais uma vez lembrando tudo
que foi aqui mencionado, não é uma parte pequena. O bom humor melhora o clima
organizacional, une a equipe, reduz o estresse e aumenta a produtividade. Moral
da história: - O bom humor é bom, apesar de tudo.
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