terça-feira, 3 de março de 2015

Coletando Dados para o seu TCC – Parte 3

Como afirmamos em posts anteriores, uma hipótese é uma proposição feita na tentativa de verificar a validade de uma resposta existente para um determinado problema. Trocando em miúdos, uma hipótese é uma resposta antecipada, provisória, que se supõe estar correta, e que para o pesquisador funciona como um guia para os passos seguintes do projeto e para o percurso da pesquisa.
 
 
 
Sim, isso é parte do projeto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Um projeto de TCC, além do tema, inclui tópicos como problematização, hipótese, objetivos, justificativa, metodologia, cronograma e bibliografia. Abaixo, apresentamos um resumo sobre cada um dos tópicos mencionados:

·         Tema: é sobre o que será a pesquisa do TCC;

·         Problematização: é o problema (ou problemas) relacionado (s) ao tema escolhido;

·         Hipótese: é uma proposição feita na tentativa de verificar a validade de uma resposta existente para um determinado problema;

·         Objetivos: é o que será estudado, desenvolvido e analisado na pesquisa;

·         Justificativa: é o que explica a importância e relevância da pesquisa;

·         Metodologia: é o modo como a pesquisa será realizada (pesquisa bibliográfica, analise de textos, pesquisa qualitativa, pesquisa quantitativa, estudo de caso, ... )

·         Cronograma: deve conter as atividades desenvolvidas pelo aluno na sua pesquisa e para escrever o artigo do TCC;

·         Bibliografia: são os livros, artigos e outros materiais usados pelo aluno como fonte de consulta para elaboração do artigo do TCC.

Vejamos um exemplo de pergunta para um questionário de pesquisa criado à partir de hipóteses do projeto de TCC. Vamos supor que o tema do TCC de um aluno do curso MBA em Gestão de Projetos é o planejamento do projeto, tendo em destaque as seguintes hipóteses:

·         Sem um bom planejamento há maiores chances de um projeto atrasar;

·         Sem um bom planejamento o projeto está sujeito a gastar mais recursos do que seria necessário;

·         Sem um bom planejamento o projeto está sujeito a muitos tipos de problemas que poderiam ser evitados.

A pesquisa do TCC nesse exemplo inclui a aplicação de um questionário de pesquisa, tendo os colaboradores da empresa em que o aluno trabalha como público alvo. Levando em consideração as hipóteses acima, que perguntas poderiam ser elaboradas para o questionário de pesquisa? Veja abaixo um exemplo de pergunta.

Questão: Considerando a sua experiência com os projetos na empresa qual das afirmações abaixo melhor se aproxima da realidade?
( ) Todos os projetos da empresa são executados com um planejamento detalhado;
( ) A maior parte dos projetos da empresa é executada com um planejamento detalhado;
( ) Somente uma pequena parte dos projetos é executada com um planejamento detalhado;
( ) Somente uma pequena parte dos projetos é executada sem planejamento;
( ) Uma grande parte dos projetos é executada sem planejamento;
( ) Todos os projetos da empresa são executados sem planejamento.  

O leitor poderá perceber que as alternativas de resposta não incluem todas as situações. Nessa questão ficamos entre os limites do “planejamento detalhado” em um extremo e o “sem planejamento” no outro. Isso porque não é possível conseguir tudo o que se deseja com apenas uma pergunta. Existem as situações intermediárias de planejamento parcial ou incompleto que essa questão não abordou, mas que poderão ser pesquisadas em outras perguntas do questionário de pesquisa.

Note que as questões de múltipla escolha devem ser elaboradas dentro de critérios objetivos, conforme veremos no decorrer desse post.
Dicas para Elaboração de Questões
Perguntas não devem representar ameaça aos respondentes. Quando um respondente fica preocupado com as consequências de sua resposta há uma grande chance da resposta não corresponder exatamente a opinião verdadeira desse respondente. Por isso, os questionários que não solicitam a identificação do respondente tem maior probabilidade de produzir melhores resultados.
Perguntas devem investigar apenas uma dimensão de cada vez. Evite perguntar, por exemplo, sobre o sabor e a textura de uma nova batatinha, se é sobre esse produto a sua pesquisa. Isso porque você não saberá ao certo se as respostas se referem a uma coisa ou outra. A sua pergunta deverá tratar apenas de uma dimensão desse produto, no caso ou o sabor ou a textura. Da mesma forma, não se recomenda fazer perguntas como a que segue: - O projeto atrasou devido a falta de pessoal especializado e do excesso de mudanças? Se assim o fizer, as respostas não apontarão exatamente para o motivo real do atraso. Talvez o atraso tenha sido provocado por ambas as causas, mas qual dos dois motivos foi o maior ofensor do atraso? Você somente saberá isso se investigar uma dimensão de cada vez.
Tente acomodar todas as respostas possíveis. Como já vimos isso não é assim tão fácil. Os questionários de múltipla escolha tornaram-se populares porque são fáceis de responder. A minha sugestão é que você terá entre 4 e 6 alternativas de respostas para cobrir todas as respostas possíveis, caso contrário seu questionário ficará muito grande e será visto como trabalhoso e chato. Assim sendo, dentro das 6 alternativas de resposta sugeridas você deverá tentar acomodar todas as respostas possíveis. Se conseguir acomodar todas as respostas em menos alternativas (4 ou 5, por exemplo), também está bom. O que importa é que cada alternativa de resposta represente apenas um pedaço objetivo da informação que se deseja pesquisar. Se por outro lado, não for possível cobrir todas as situações em uma única pergunta, divida o problema em mais questões.
Agora vamos supor que estamos pesquisando os motivos de atraso do projeto X em uma empresa e acabamos de elaborar a seguinte pergunta:
Questão: Na sua opinião o atraso do projeto X foi causado principalmente por que motivo?
( ) Por falta de dinheiro
( ) Por falta de pessoal especializado
( ) Por falta de prioridade da área de suprimentos
( ) Por falta de interesse do sponsor do projeto
( ) Por falta de apoio da alta direção
( ) Outros 
Note que uma boa questão tem alternativas de resposta que não geram ambiguidade. As respostas mostram situações que se excluem.  Se analisarmos as respostas da questão anterior veremos que se alguém respondeu que o projeto atrasou – principalmente - “por falta de dinheiro” isso mostra que, mesmo que tenha havido álbum problema nas áreas mencionadas nas outras respostas, a causa determinante e principal de atraso no projeto X, na opinião desse respondente, foi a falta de dinheiro. Alguém poderia argumentar que o atraso poderia ocorrer devido a mais de um problema. Bem, como dissemos anteriormente, se essa é uma hipótese da pesquisa, perguntas adicionais deverão ser elaboradas para verificar tais situações e possibilidades.
A transição nas perguntas do questionário deve ser a mais suave possível, iniciando com questões mais simples e, pouco a pouco, levando o respondente para as perguntas mais complexas. Isso ajuda o respondente a ir se familiarizando com os assuntos em discussão. A questão que solicita ao respondente escrever a sua opinião sobre um determinado assunto ou dar sugestões, se houver uma questão desse tipo, deve ser deixada para o final do questionário.
Não crie perguntas com a suposição que o respondente possui a informação necessária ou tenha o conhecimento que possibilite responder.  Há muitos casos em que isso não é verdade. Se, por exemplo, você inclui no seu questionário a pergunta sobre “quantos porcento do faturamento a sua empresa gasta com treinamento do pessoal em gerenciamento de projetos”, muito provavelmente essa informação não será de conhecimento geral.  Da mesma forma que um questionamento sobre o “uso do método de Monte Carlo para o tratamento de riscos do projeto” seria, no mínimo, prematuro, uma vez que nem todos os colaboradores da empresa estariam familiarizados com tal método. Nessa mesma linha de raciocínio, devem ser evitadas siglas e abreviações desconhecidas ou mesmo termos técnicos (do conhecimento restrito dos especialistas) sem que haja um esclarecimento adequado sobre os mesmos. Aqui a objetividade e o conhecimento do público alvo são fundamentais para que o pesquisador não cometa o erro de criar perguntas que somente uma parte dos respondentes terá condições efetivas de responder. 
Sobre o tamanho do publico alvo
Um aspecto relevante na pesquisa é determinar o tamanho do publico alvo. Quando o público alvo é o pessoal da empresa em que o aluno/pesquisador trabalha, deve-se buscar o maior número possível de respondentes para que o resultado seja representativo dessa população. Um projeto é uma atividade multidisciplinar que envolve colaboradores de várias áreas de uma organização. Se, por exemplo, o aluno/pesquisador pretende coletar respostas do pessoal envolvido em projetos na empresa em que trabalha, deverá procurar a maior quantidade possível de colegas da empresa, incluindo pessoas que trabalhem na sua área e colaboradores de outras áreas da organização que, de alguma forma, participem dos projetos. O fato do aluno/pesquisador trabalhar na empresa é, sem dúvida, um facilitador. Ele (ou ela) terá a oportunidade de solicitar que seus colegas respondam ao questionário de pesquisa e a vantagem de poder explicar o objetivo do questionário. Poderá fazer isso através de um e-mail, um telefonema, uma visita ao local de trabalho de seus colegas ou uma combinação dessas ações. 

Mas, por outro lado, se o público alvo da pesquisa está, na sua maioria, do lado de fora da empresa, há um complicador a ser considerado. O aluno/pesquisador poderá decidir enviar o seu questionário de pesquisa para seus colegas de curso MBA em Gestão de Projetos, que inclui centenas de pessoas, trabalhando em empresas públicas ou privadas, com nível superior de escolaridade e que atuam ou estão interessados em atuar na área de gerenciamento de projetos. Esse grupo, certamente, tem muito a dizer. Aqui a pergunta que surge é a seguinte: - Como determinar o tamanho do publico alvo? Será que se, por exemplo, 25 pessoas desse grupo, de colegas de curso, responderem ao questionário, podemos considerar que esse número é representativo da população pesquisada? Ou teremos que ter um percentual alto de respondentes do questionário de pesquisa, algo como 70% do total de colegas do curso, para conseguirmos uma quantidade satisfatória? Para determinar o tamanho do público alvo nesse caso vamos usar a tabela apresentada por GOMES (2005) em seu artigo “Manual Como Elaborar uma Pesquisa de Mercado”, publicado pelo SEBRAE/MG.


Fonte: GOMES, 2005
A tabela indica três níveis de erro amostral: 3%, 5% e 10%. Cada um deles está subdividido em dois níveis de split diferentes. O split na tabela de amostragem demonstra o nível de variação das respostas na pesquisa, isto é, o grau de homogeneidade da população. Uma população mais homogênea é aquela que possui características semelhantes como mesmo nível de renda, idade, sexo, etc. Na tabela acima um split de 50/50 indica muita variação entre as respostas dos respondentes (população mais heterogênea). Já um split de 80/20 indica uma menor variação nas respostas (população mais homogênea). Note na tabela acima que para um determinado erro amostral, em qualquer tamanho de população pesquisada, a quantidade de respondentes é maior para o slit de 50/50 do que para o slit de 80/20.
Por sua vez, o conceito estatístico de amostragem é largamente usado e parte do princípio que é possível medir características de uma população através de uma amostra da mesma. É o que se faz com um simples exame de sangue, por exemplo, onde se colhe uma amostra, não sendo necessário usar todo o sangue do paciente. O mesmo conceito se aplica quando se deseja medir a durabilidade de um produto, a tolerância das dimensões de uma peça que está sendo produzida, a satisfação dos clientes de uma empresa ou as famosas pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Obviamente, essa amostra precisará ser tomada com critério para que a população pesquisada esteja representada nessa amostra. Por essa razão temos as colunas de erro amostral, que funcionam da seguinte forma: Quanto menor é o erro de amostral mais precisa será a representação da população.
Vamos agora explorar um pouco mais o uso da tabela acima com alguns exemplos. O primeiro deles considera uma população de 100 colaboradores de uma empresa, envolvidos com projetos internos, mas que trabalham em áreas diferentes (produção, vendas, financeiro, suprimentos, jurídico, assistência técnica e recursos humanos), com formações diferentes, alguns mais experientes e outros mais jovens. Isso nos leva a linha com população igual a 100 e a coluna com split de 50/50. Vamos supor que nesse exemplo tivemos apenas 80 participantes, o que nos leva a um erro amostral de ±5%. Para tornar a pesquisa mais precisa, com um erro amostral de ±3%, teríamos que obter mais 12 respostas, chegando a um total de 92 respondentes. É isso que a tabela nos diz!
Vamos discutir agora um segundo exemplo cujo objetivo é pesquisar 500 alunos matriculados no curso MBA em Gestão de Projetos, na modalidade EaD, no ano de 2014. Esse também parece ser um grupo bastante heterogêneo, que nos leva a linha com população igual a 500 e a coluna com um split de 50/50. Se um erro amostral de ±5% é aceitável, então a quantidade de respondentes deverá ser igual a 217. Todavia, se o erro amostral aceitável é de ±3%, teremos que conseguir 341 respondentes participando dessa pesquisa.
Se ainda tivermos um exemplo de pesquisa cujo publico alvo sejam os pouco mais de 16.000 profissionais brasileiros com certificação PMP (Project Management Professional), respondendo a questões relacionadas aos desafios dos projetos nas empresas em que trabalham, poderíamos dizer que esse público é homogêneo. Isso nos leva a uma linha que não está na tabela acima, localizada entre as linhas 10.000 e 25.000, e a coluna com split 80/20. Por segurança vamos escolher a linha com a maior população (igual a 25.000). Notem que as diferenças nas quantidades de amostras são pequenas, sendo a maior diferença encontrada na coluna com um split de 50/50 e erro amostral de ±3% (1023 – 964 = 59), e a menor diferença encontrada na coluna com um split de 80/20 e erro amostral de ±10% (61 – 61 = 0). Se para esse exemplo um erro amostral de ±10% é aceitável, a quantidade de respondentes participando dessa pesquisa seria de apenas 61.
Se, finalmente, tivéssemos um exemplo de público alvo igual aos aproximadamente 35 milhões de pessoas ocupadas no Brasil (segundo dados de 2014), na faixa etária entre 25 e 40 anos, certamente poderíamos considerar que esse público é heterogêneo. Isso nos leva a uma linha que não está na tabela acima, localizada entre as linhas 1000.000 e 100.000.000, e a coluna com split 50/50. Por segurança vamos escolher a linha com a maior população (igual a 100.000.000). Se o erro amostral aceitável para esse caso é de ±5%, teremos que conseguir 384 respondentes participando dessa pesquisa.
Nesse ponto entendo que o estudante já terá condições de elaborar o seu questionário de pesquisa e determinar a quantidade da amostra de sua população alvo. Depois da criação do questionário da pesquisa, o mesmo poderá ser carregado no website Survey Monkey. Para dicas sobre como implementar um questionário de pesquisa no Survey Monkey, leia o post “Coletando Dados para o seu TCC – Parte 2”. Em caso de dúvidas, será um prazer responder aos questionamentos sobre esse assunto tão interessante.
Fonte: Gomes, Isabela Motta. “Manual Como Elaborar uma Pesquisa de Mercado”. SEBRAE/MG, 2005. 
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