Como afirmamos em posts anteriores, uma hipótese é uma
proposição feita na tentativa de verificar a validade de uma resposta existente
para um determinado problema. Trocando em miúdos, uma hipótese é uma resposta
antecipada, provisória, que se supõe estar correta, e que para o pesquisador
funciona como um guia para os passos seguintes do projeto e para o percurso da
pesquisa.
Sim, isso é parte do projeto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
Um projeto de TCC, além do tema, inclui tópicos como problematização, hipótese,
objetivos, justificativa, metodologia, cronograma e bibliografia. Abaixo,
apresentamos um resumo sobre cada um dos tópicos mencionados:
·
Tema: é sobre o
que será a pesquisa do TCC;
·
Problematização: é
o problema (ou problemas) relacionado (s) ao tema escolhido;
·
Hipótese: é uma
proposição feita na tentativa de verificar a validade de uma resposta existente
para um determinado problema;
·
Objetivos: é o que
será estudado, desenvolvido e analisado na pesquisa;
·
Justificativa: é o
que explica a importância e relevância da pesquisa;
·
Metodologia: é o
modo como a pesquisa será realizada (pesquisa
bibliográfica, analise
de textos, pesquisa qualitativa, pesquisa quantitativa, estudo de caso, ... )
·
Cronograma: deve
conter as atividades desenvolvidas pelo aluno na sua pesquisa e para escrever o
artigo do TCC;
·
Bibliografia: são
os livros, artigos e outros materiais usados pelo aluno como fonte de consulta
para elaboração do artigo do TCC.
Vejamos um exemplo de pergunta para um questionário de pesquisa
criado à partir de hipóteses do projeto de TCC. Vamos supor que o tema do TCC de
um aluno do curso MBA em Gestão de Projetos é o planejamento do projeto, tendo
em destaque as seguintes hipóteses:
·
Sem um bom planejamento há maiores chances de um projeto atrasar;
·
Sem um bom planejamento o projeto está sujeito a gastar mais
recursos do que seria necessário;
·
Sem um bom planejamento o projeto está sujeito a muitos tipos de
problemas que poderiam ser evitados.
A pesquisa do TCC nesse exemplo inclui
a aplicação de um questionário de pesquisa, tendo os colaboradores da empresa
em que o aluno trabalha como público alvo. Levando em consideração as hipóteses
acima, que perguntas poderiam ser elaboradas para o questionário de pesquisa? Veja
abaixo um exemplo de pergunta.
Questão: Considerando
a sua experiência com os projetos na empresa qual das afirmações abaixo melhor
se aproxima da realidade?
( ) Todos os
projetos da empresa são executados com um planejamento detalhado;
( ) A maior parte
dos projetos da empresa é executada com um planejamento detalhado;
( ) Somente uma
pequena parte dos projetos é executada com um planejamento detalhado;
( ) Somente uma
pequena parte dos projetos é executada sem planejamento;
( ) Uma grande
parte dos projetos é executada sem planejamento;
( ) Todos os
projetos da empresa são executados sem planejamento.
O leitor poderá perceber que as
alternativas de resposta não incluem todas as situações. Nessa questão ficamos
entre os limites do “planejamento detalhado” em um extremo e o “sem planejamento”
no outro. Isso porque não é possível conseguir tudo o que se deseja com apenas
uma pergunta. Existem as situações intermediárias de planejamento parcial ou
incompleto que essa questão não abordou, mas que poderão ser pesquisadas em
outras perguntas do questionário de pesquisa.
Note que as questões de múltipla
escolha devem ser elaboradas dentro de critérios objetivos, conforme veremos no
decorrer desse post.
Dicas para
Elaboração de Questões
Perguntas não
devem representar ameaça aos respondentes. Quando um respondente fica
preocupado com as consequências de sua resposta há uma grande chance da
resposta não corresponder exatamente a opinião verdadeira desse respondente.
Por isso, os questionários que não solicitam a identificação do respondente tem
maior probabilidade de produzir melhores resultados.
Perguntas devem investigar apenas uma
dimensão de cada vez. Evite perguntar, por exemplo, sobre o sabor e a textura
de uma nova batatinha, se é sobre esse produto a sua pesquisa. Isso porque você
não saberá ao certo se as respostas se referem a uma coisa ou outra. A sua
pergunta deverá tratar apenas de uma dimensão desse produto, no caso ou o sabor
ou a textura. Da mesma forma, não se recomenda fazer perguntas como a que
segue: - O projeto atrasou devido a falta de pessoal especializado e do excesso
de mudanças? Se assim o fizer, as respostas não apontarão exatamente para o
motivo real do atraso. Talvez o atraso tenha sido provocado por ambas as
causas, mas qual dos dois motivos foi o maior ofensor do atraso? Você somente
saberá isso se investigar uma dimensão de cada vez.
Tente acomodar todas as respostas
possíveis. Como já vimos isso não é assim tão fácil. Os questionários de
múltipla escolha tornaram-se populares porque são fáceis de responder. A minha
sugestão é que você terá entre 4 e 6 alternativas de respostas para cobrir
todas as respostas possíveis, caso contrário seu questionário ficará muito
grande e será visto como trabalhoso e chato. Assim sendo, dentro das 6
alternativas de resposta sugeridas você deverá tentar acomodar todas as
respostas possíveis. Se conseguir acomodar todas as respostas em menos
alternativas (4 ou 5, por exemplo), também está bom. O que importa é que cada
alternativa de resposta represente apenas um pedaço objetivo da informação que
se deseja pesquisar. Se por outro lado, não for possível cobrir todas as situações
em uma única pergunta, divida o problema em mais questões.
Agora vamos supor que estamos
pesquisando os motivos de atraso do projeto X em uma empresa e acabamos de elaborar
a seguinte pergunta:
Questão: Na sua opinião o atraso do
projeto X foi causado principalmente por que motivo?
( ) Por falta de
dinheiro
( ) Por falta de
pessoal especializado
( ) Por falta de
prioridade da área de suprimentos
( ) Por falta de
interesse do sponsor do projeto
( ) Por falta de
apoio da alta direção
( ) Outros
Note que uma boa questão tem
alternativas de resposta que não geram ambiguidade. As respostas mostram
situações que se excluem. Se analisarmos
as respostas da questão anterior veremos que se alguém respondeu que o projeto
atrasou – principalmente - “por falta de dinheiro” isso mostra que, mesmo que
tenha havido álbum problema nas áreas mencionadas nas outras respostas, a causa
determinante e principal de atraso no projeto X, na opinião desse respondente,
foi a falta de dinheiro. Alguém poderia argumentar que o atraso poderia ocorrer
devido a mais de um problema. Bem, como dissemos anteriormente, se essa é uma
hipótese da pesquisa, perguntas adicionais deverão ser elaboradas para
verificar tais situações e possibilidades.
A transição nas perguntas do questionário
deve ser a mais suave possível, iniciando com questões mais simples e, pouco a
pouco, levando o respondente para as perguntas mais complexas. Isso ajuda o
respondente a ir se familiarizando com os assuntos em discussão. A questão que
solicita ao respondente escrever a sua opinião sobre um determinado assunto ou
dar sugestões, se houver uma questão desse tipo, deve ser deixada para o final
do questionário.
Não crie perguntas com a suposição que
o respondente possui a informação necessária ou tenha o conhecimento que
possibilite responder. Há muitos casos
em que isso não é verdade. Se, por exemplo, você inclui no seu questionário a
pergunta sobre “quantos porcento do faturamento a sua empresa gasta com
treinamento do pessoal em gerenciamento de projetos”, muito provavelmente essa
informação não será de conhecimento geral.
Da mesma forma que um questionamento sobre o “uso do método de Monte
Carlo para o tratamento de riscos do projeto” seria, no mínimo, prematuro, uma
vez que nem todos os colaboradores da empresa estariam familiarizados com tal
método. Nessa mesma linha de raciocínio, devem ser evitadas siglas e
abreviações desconhecidas ou mesmo termos técnicos (do conhecimento restrito
dos especialistas) sem que haja um esclarecimento adequado sobre os mesmos.
Aqui a objetividade e o conhecimento do público alvo são fundamentais para que
o pesquisador não cometa o erro de criar perguntas que somente uma parte dos
respondentes terá condições efetivas de responder.
Sobre o tamanho do
publico alvo
Um aspecto relevante na pesquisa é
determinar o tamanho do publico alvo. Quando o público alvo é o pessoal da
empresa em que o aluno/pesquisador trabalha, deve-se buscar o maior número
possível de respondentes para que o resultado seja representativo dessa
população. Um projeto é uma atividade multidisciplinar que envolve
colaboradores de várias áreas de uma organização. Se, por exemplo, o
aluno/pesquisador pretende coletar respostas do pessoal envolvido em projetos
na empresa em que trabalha, deverá procurar a maior quantidade possível de
colegas da empresa, incluindo pessoas que trabalhem na sua área e colaboradores
de outras áreas da organização que, de alguma forma, participem dos projetos. O
fato do aluno/pesquisador trabalhar na empresa é, sem dúvida, um facilitador.
Ele (ou ela) terá a oportunidade de solicitar que seus colegas respondam ao
questionário de pesquisa e a vantagem de poder explicar o objetivo do
questionário. Poderá fazer isso através de um e-mail, um telefonema, uma visita
ao local de trabalho de seus colegas ou uma combinação dessas ações.
Mas, por outro lado, se o público alvo
da pesquisa está, na sua maioria, do lado de fora da empresa, há um complicador
a ser considerado. O aluno/pesquisador poderá decidir enviar o seu questionário
de pesquisa para seus colegas de curso MBA em Gestão de Projetos, que inclui
centenas de pessoas, trabalhando em empresas públicas ou privadas, com nível
superior de escolaridade e que atuam ou estão interessados em atuar na área de
gerenciamento de projetos. Esse grupo, certamente, tem muito a dizer. Aqui a
pergunta que surge é a seguinte: - Como determinar o tamanho do publico alvo?
Será que se, por exemplo, 25 pessoas desse grupo, de colegas de curso, responderem
ao questionário, podemos considerar que esse número é representativo da
população pesquisada? Ou teremos que ter um percentual alto de respondentes do
questionário de pesquisa, algo como 70% do total de colegas do curso, para
conseguirmos uma quantidade satisfatória? Para determinar o tamanho do público
alvo nesse caso vamos usar a tabela apresentada por GOMES (2005) em seu artigo
“Manual Como Elaborar uma Pesquisa de Mercado”, publicado pelo SEBRAE/MG.
Fonte: GOMES, 2005
A tabela indica três níveis de erro
amostral: 3%, 5% e 10%. Cada um deles está subdividido em dois níveis de split
diferentes. O split na tabela de amostragem demonstra o nível de variação das
respostas na pesquisa, isto é, o grau de homogeneidade da população. Uma
população mais homogênea é aquela que possui características semelhantes como mesmo
nível de renda, idade, sexo, etc. Na tabela acima um split de 50/50 indica
muita variação entre as respostas dos respondentes (população mais
heterogênea). Já um split de 80/20 indica uma menor variação nas respostas
(população mais homogênea). Note na tabela acima que para um determinado erro amostral,
em qualquer tamanho de população pesquisada, a quantidade de respondentes é
maior para o slit de 50/50 do que para o slit de 80/20.
Por sua vez, o conceito estatístico de
amostragem é largamente usado e parte do princípio que é possível medir
características de uma população através de uma amostra da mesma. É o que se
faz com um simples exame de sangue, por exemplo, onde se colhe uma amostra, não
sendo necessário usar todo o sangue do paciente. O mesmo conceito se aplica
quando se deseja medir a durabilidade de um produto, a tolerância das dimensões
de uma peça que está sendo produzida, a satisfação dos clientes de uma empresa
ou as famosas pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Obviamente, essa amostra precisará ser tomada com critério para que a população
pesquisada esteja representada nessa amostra. Por essa razão temos as colunas
de erro amostral, que funcionam da seguinte forma: Quanto menor é o erro de
amostral mais precisa será a representação da população.
Vamos agora explorar um pouco mais o
uso da tabela acima com alguns exemplos. O primeiro deles considera uma
população de 100 colaboradores de uma empresa, envolvidos com projetos
internos, mas que trabalham em áreas diferentes (produção, vendas, financeiro,
suprimentos, jurídico, assistência técnica e recursos humanos), com formações
diferentes, alguns mais experientes e outros mais jovens. Isso nos leva a linha
com população igual a 100 e a coluna com split de 50/50. Vamos supor que nesse
exemplo tivemos apenas 80 participantes, o que nos leva a um erro amostral de ±5%.
Para tornar a pesquisa mais precisa, com um erro amostral de ±3%, teríamos que
obter mais 12 respostas, chegando a um total de 92 respondentes. É isso que a
tabela nos diz!
Vamos discutir agora um segundo exemplo
cujo objetivo é pesquisar 500 alunos matriculados no curso MBA em Gestão de
Projetos, na modalidade EaD, no ano de 2014. Esse também parece ser um grupo
bastante heterogêneo, que nos leva a linha com população igual a 500 e a coluna
com um split de 50/50. Se um erro amostral de ±5% é aceitável, então a
quantidade de respondentes deverá ser igual a 217. Todavia, se o erro amostral
aceitável é de ±3%, teremos que conseguir 341 respondentes participando dessa
pesquisa.
Se ainda tivermos um exemplo de
pesquisa cujo publico alvo sejam os pouco mais de 16.000 profissionais
brasileiros com certificação PMP (Project Management Professional), respondendo
a questões relacionadas aos desafios dos projetos nas empresas em que
trabalham, poderíamos dizer que esse público é homogêneo. Isso nos leva a uma
linha que não está na tabela acima, localizada entre as linhas 10.000 e 25.000,
e a coluna com split 80/20. Por segurança vamos escolher a linha com a maior
população (igual a 25.000). Notem que as diferenças nas quantidades de amostras
são pequenas, sendo a maior diferença encontrada na coluna com um split de
50/50 e erro amostral de ±3% (1023 – 964 = 59), e a menor diferença encontrada
na coluna com um split de 80/20 e erro amostral de ±10% (61 – 61 = 0). Se para
esse exemplo um erro amostral de ±10% é aceitável, a quantidade de respondentes
participando dessa pesquisa seria de apenas 61.
Se, finalmente, tivéssemos um exemplo
de público alvo igual aos aproximadamente 35 milhões de pessoas ocupadas no
Brasil (segundo dados de 2014), na faixa etária entre 25 e 40 anos, certamente
poderíamos considerar que esse público é heterogêneo. Isso nos leva a uma linha
que não está na tabela acima, localizada entre as linhas 1000.000 e 100.000.000,
e a coluna com split 50/50. Por segurança vamos escolher a linha com a maior
população (igual a 100.000.000). Se o erro amostral aceitável para esse caso é
de ±5%, teremos que conseguir 384 respondentes participando dessa pesquisa.
Nesse ponto entendo que o estudante já
terá condições de elaborar o seu questionário de pesquisa e determinar a
quantidade da amostra de sua população alvo. Depois da criação do questionário
da pesquisa, o mesmo poderá ser carregado no website Survey Monkey. Para dicas
sobre como implementar um questionário de pesquisa no Survey Monkey, leia o
post “Coletando Dados para o seu TCC – Parte 2”. Em caso de
dúvidas, será um prazer responder aos questionamentos sobre esse assunto tão
interessante.
Fonte: Gomes, Isabela Motta. “Manual Como
Elaborar uma Pesquisa de Mercado”. SEBRAE/MG, 2005.
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