Estaria
o conceito de “homem-hora” absolutamente furado?? Há quem acredite nisso,
apesar de ser algo largamente utilizado. Estou falando do norte-americano Tim
Bryce, um escritor e consultor de gestão. No post a seguir teremos a
oportunidade de acompanhar os argumentos de Bryce sobre o que ele chama de
“falácia do homem-hora”.
“Eu nunca estive confortável com
o conceito de "homem-hora",
não que seja uma questão de gênero,
mas porque implica em ignorar como o
tempo é usado no ambiente de
trabalho e não considera dois conceitos
simples de gerenciamento, necessários
para rodar qualquer negócio, que são a responsabilidade
e o compromisso. Na verdade, eu
achava que o conceito de
"homem-hora" desapareceria com o passar do século 20, mas isso não
aconteceu.
A
falácia do conceito de "homem-hora" é que ele assume uma pessoa
trabalhando de forma produtiva em 100% do tempo. Isso, é claro, não é o caso em
nenhuma empresa. Os trabalhadores, por um lado, ou estão envolvidos com suas
atribuições, sejam elas quais forem, ou há interferências impedindo-os de executar
seu trabalho, e isso inclui reuniões, telefonemas, e-mails, pausas, etc. O tempo
gasto em tarefas de trabalho é chamado de “direto”, e o tempo gasto com as interferências
é referido como "indireto". A relação entre o tempo direto e o indireto
é definida como a "taxa de eficácia",
que sintetiza o uso do tempo durante o dia de trabalho. Por exemplo, em um
escritório onde 5,6 horas são normalmente gastas em trabalho direto e 2,4 horas
são normalmente gastas em interferências indiretas (assumindo um dia útil de
oito horas), teremos uma “taxa de
eficácia” de cerca de 70% (5,6 ÷
8 = 0,7). De forma
nenhuma a “taxa de eficácia deve ser
confundida como o “índice de eficiência”
uma vez que não são sinônimos. O “índice
de eficiência” indica o quanto alguém executa bem uma tarefa em um
determinado tempo. Por sua vez, a “taxa
de eficácia” simplesmente mede o uso do tempo durante o dia de trabalho.
A
“taxa de eficácia” nos ensina que
uma pessoa não pode ser 100% eficaz o tempo todo, e este fato está no cerne do
problema com o conceito de “homem-hora." Por exemplo, vamos considerar que em um
projeto espera-se que a responsabilidade de gerenciar o tempo direto seja do
próprio colaborador e a responsabilidade de gerenciar o tempo indireto seja do
gerente de projetos. Tanto o tempo direto quanto o indireto devem ser
apresentados e controlados, ou utilizando programas de computador (como um software
específico de gerenciamento de projetos) ou com uma folha de papel para
controle de horas trabalhadas. Para fazer este trabalho, o colaborador deve
participar no processo de estimativa e alocação de atribuições. Ao invés de
simplesmente receber uma informação sobre uma estimativa feita pelo gerente, como
em um cenário de microgestão, o colaborador é solicitado a fornecer sua
estimativa, considerando a sua experiência e a complexidade do trabalho a ser
executado. Dessa forma espera-se que o colaborador esteja pessoalmente
comprometido com a estimativa de horas diretas necessárias para completar a
tarefa.
À
medida que o trabalho progride, as planilhas de controle de horas são
atualizadas com base em informações fornecidas pelos próprios colaboradores
envolvidos com a execução das tarefas do projeto. Como resultado, geralmente,
fica disponível para controle o número de horas diretas restantes para terminar
cada tarefa do projeto. Essa ênfase na avaliação e na declaração das horas
diretas significa que o proprio colaborador deve supervisionar a si mesmo ou,
em outras palavras, mostra que o gerente do projeto deve gastar menos tempo
supervisionando o colaborador. Na prática os colaboradores são tratados como
profissionais e espera-se, portanto, um comportamento profissional da sua
parte.
Como
o gerente de projeto é responsável pelo gerenciamento do ambiente de trabalho, deverá
monitorar e controlar o tempo indireto do colaborador. Mais uma vez, devemos
lembrar que uma pessoa não pode ser 100% eficaz. Se forçado demais, o colaborador
poderá cometer erros ou acidentes, e isso certamente seria contraproducente. É
por isso que, por exemplo, as linhas de montagem japonesas costumam parar
periodicamente para permitir que os trabalhadores se afastem de suas máquinas e
realizem algum tipo de exercício básico antes de retomar seu trabalho. O
exercício é certamente uma atividade indireta, que os impede de executar suas tarefas,
mas é importante para descansar e limpar suas mentes.
Geralmente,
em um escritório, cada pessoa terá uma “taxa
de eficácia” diferente que o gerente deverá monitorar. Novamente, há uma
grande diferença entre a “taxa de eficácia”
e o “índice de eficiência”. Para
ilustrar, um colaborador novato pode ter uma elevada “taxa de eficácia”, mas pode levar mais tempo para executar uma
tarefa do que um trabalhador experiente, que pode, por sua vez, ter uma “taxa de eficácia” menor. Aqui, o
gerente de projetos deve considerar as habilidades e competências dos colaboradores
ao selecionar o pessoal para executar uma tarefa.
Explorando
um pouco mais essa ideia, vamos imaginar a situação hipotética de um funcionário
novato, que está muito motivado e para mostrar serviço para o chefe, consegue
manter-se ligado nas atividades do trabalho por 6 horas, de um dia útil de 8
horas (“taxa de eficácia” de 75%).
Por outro lado, vamos considerar também um colaborador experiente que só
consegue manter-se ligado no trabalho por 5 horas de um dia útil de 8 horas (“taxa de eficácia” de 62,5%). Agora, se
dermos uma determinada tarefa para o novato ele levará 3 horas para
completá-la, enquanto o colaborador mais experiente conseguirá terminá-la em 2
horas. Como esperado, o colaborador mais experiente tem um “índice de eficiência” maior do que o colaborador
novato (e por isso faz a tarefa em menos tempo), apesar de ter uma “taxa de
eficácia” menor (devido ao maior tempo indireto no trabalho). Isso nos mostra
também que um dos principais benefícios do
tempo indireto é
a sua utilização no cálculo de horas.
Por exemplo, se 100 horas foram estimados para executar uma determinada
tarefa, sob a abordagem
de "homem-hora", a tarefa seria realizada
em 12,5 dias úteis (assumindo um dia útil de oito horas; 100 ÷ 8 = 12,5). Ao estudar “taxa
de eficácia” o gerente de projetos poderá reajustar seu cronograma para algo
mais realista. Por exemplo, supondo
que um trabalhador tenha uma “taxa de eficácia” de 70%, o que significa 5,6 horas diretas em um dia útil de trabalho, seriam necessários 17,8 (=100
÷ 5,6) dias úteis para
executar a tarefa planejada (substancialmente diferente da
abordagem do "homem-hora"). O que se estabelece aqui é que a “taxa de eficácia” constrói a realidade em
uma programação.
Obviamente, o gerente de projetos observa o
progresso do trabalho a medida que este avança. Assim, se o gerente de projetos observa uma
queda na “taxa de eficácia” de um colaborador, poderá agir da
melhor forma possível para determinar
a causa do problema, buscando a correção de rota e a manutenção
do cronograma conforme planejado. Por exemplo, o
gerente poderá instruir o colaborador a minimizar
telefonemas pessoais e a participação em reuniões. Ao fazer isso, o gerente de projetos está controlando o ambiente de trabalho (tempo
gasto com atividades indiretas).
Para que tudo isso funcione, os colaboradores do projeto precisam reportar a sua utilização do tempo, algo que alguns rejeitam afirmando ser "invasivo
e até mesmo pouco profissional." Bem, tais algumentos são pura bobagem.
Ser um profissional significa assumir responsabilidade
por suas ações e estar comprometido
com a entrega contida em suas promessas. Se profissionais como advogados, médicos e contadores conseguem manter o controle de
seu tempo, por que não os colaboradores de
um projeto? Se os colaboradores de um projeto e os trabalhadores
em geral realmente desejam ser tratados como profissionais, com menos microgestão,
então eles devem relatar com precisão o uso do seu tempo. Em última análise, esta interpretação do uso do tempo promove o conceito de "Mini-Project
Manager", no qual os colaboradores do projeto supervisionam
a si mesmos. Se feito corretamente,
o gerente de projetos gastará mais tempo gerenciando do
que apenas supervisionando. O conceito
de "homem-hora" é
simplesmente a antítese dessa
abordagem”.
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Fonte do texto: http://www.pmhut.com/the-fallacy-of-man-hours
Fonte da ilustração desse post: The
Wall Street Journal, 11 de dezembro de 2012. Autor: Rachel Emma Silverman
Link: http://www.wsj.com/articles/SB10001424127887324339204578173252223022388