O
razão de bater nessa velha tecla, num assunto que deveria estar absolutamente
superado, é que ainda encontro alunos que não conseguem articular um simples parágrafo
explicando corretamente o que é o escopo do projeto. E aqui não estou
generalizando, uma vez tenho constatado que muitos alunos explicam corretamente
esse conceito. Mas, uma quantidade significativa de alunos ainda está errando
feio.
Será
que devo mesmo me inquietar por encontrar ainda um grupo relativamente grande
de alunos que não consegue entender esse conceito tão importante? Por que as
respostas – sobre uma das questões de prova mais frequentes em cursos de gestão
de projetos - estavam tão confusos e sem sentido? Num primeiro momento, pensei que
o problema estivesse relacionado à dificuldade do aluno escrever um texto, algo
que, infelizmente, acontece com os nossos alunos bem mais do que eu gostaria
que acontecesse. Depois, lendo e relendo as respostas notei que o buraco era
mais em baixo, havendo realmente uma falta de entendimento conceitual.
É
que esse tipo de erro chama a atenção. Algumas das respostas conseguiram
misturar os conceitos de escopo do produto (o que será criado pelo projeto) com
o escopo do projeto (o trabalho que precisa ser feito durante o projeto para
criar esse produto). Algumas frases passavam a impressão de que o escopo era
tudo, ou quase tudo. Bem, como a maior parte de nós sabe, o escopo é o escopo,
e ponto.
O
PMBOK Guide, por exemplo, em sua 5ª. edição, apresenta dez áreas do
conhecimento, sendo o escopo apenas uma delas. As dez áreas do conhecimento do
gerenciamento de projetos são as seguintes: escopo, tempo, custo, qualidade,
recursos humanos, riscos, comunicações, aquisições, integração e partes
envolvidas (stakeholders). São áreas separadas onde cada coisa é explicada
detalhadamente. É claro que uma coisa interfere na outra. É claro que existem
interdependências. Assim como o feijão é uma coisa e o arroz é outra, mas podem
ser colocados juntos e funcionar muito bem. Da mesma forma que o leite é
diferente do café, e também combinam. O escopo, o tempo, o custo e todas as
outras áreas do conhecimento do gerenciamento de projetos são interdependentes,
embora cada uma seja algo específico e diferente.
Para
esclarecer esse tópico, fui buscar a definição de escopo do projeto por diferentes
autores. Vejamos o que eles dizem sobre isso:
· O
escopo do projeto “está relacionado ao trabalho
que deve ser realizado para que seja
entregue o produto final do projeto, com as características e funções que
foram definidas. O escopo do projeto é representado na estrutura analítica do
trabalho, ... , que contém os deliverables (subprodutos) que devem ser gerados
no projeto”. (Xavier, 2005).
· "O
gerenciamento do escopo do projeto inclui os processos necessários para assegurar que o projeto inclui todo o
trabalho necessário, e apenas o necessário, para terminar o projeto com
sucesso. Esse gerenciamento está relacionado principalmente com a definição
e controle do que está e do que não está incluso no projeto". (PMI, 2008).
· "Estamos
vendo algumas formas de tratar o desdobramento do escopo do projeto e a lógica
que interligará as atividades que
deverão ser executadas no projeto. No detalhamento do escopo do projeto,
podemos citar a simples elaboração de uma “lista
de coisas a fazer”. (Menezes, 2009).
· "O
gerenciamento de escopo é um subconjunto do gerenciamento de projetos que
inclui os processos necessários para assegurar que o projeto englobe todas as atividades necessárias, e apenas
as atividades necessárias, para que seja finalizado com sucesso". (Xavier,
2008).
O
escopo do projeto refere-se ao trabalho que precisa ser feito
para produzir e entregar o produto do projeto.
Como
resultado do planejamento do escopo é criada a EAP (Estrutura Analítica do Projeto), através da técnica de decomposição do projeto
em entregas. Cada entrega é decomposta em pacotes de trabalho. Com a EAP é
possível saber o trabalho
que precisa ser feito para criar o produto (ou serviço) do projeto.
Para
elaborar o cronograma os pacotes de trabalho são subdivididos em atividades,
sendo o resultado desse processo a lista de atividades. Cada atividade tem uma duração estimada. O cronograma mostra a
sequencia de atividades do projeto, que é, em termos práticos, o conjunto de
passos que precisam ser dados, desde o início até o final, para que o projeto
seja iniciado, executado e concluído.
De
posse da EAP é possível definir as alocações de recursos. Em outras palavras, é
possível dizer quem executará cada pacote de trabalho. Esse alguém pode ser um
membro da equipe de projeto pertencente a empresa executora do projeto, ou um
recurso contratado externamente.
Com
a EAP é possível também estimar os custos de cada pacote de trabalho, sendo
esse um passo muito importante para a elaboração do orçamento do projeto.
A
EAP – que é o resultado do planejamento de escopo – serve para várias coisas
ou, usando a terminologia do PMBOK, é uma entrada para vários outros processos
do gerenciamento de projetos, diferentes do gerenciamento do escopo. Mas o
escopo não é tempo, não é RH, não é custo, não é risco e não é aquisição. O
escopo é apenas e somente o próprio escopo.
Referências
bibliográficas:
Menezes,
L. C. de M. “Gestão de Projetos”. 3ª. edição. São Paulo: Atlas, 2009.
Xavier,
C. M. da S. “Metodologia de Gerenciamento de Projetos no Terceiro Setor: uma
estratégia para a condução de projetos”. Rio de Janeiro: Brasport, 2008.
Xavier,
C. M. da S. “Gerenciamento de Projetos: como definir e controlar o escopo do
projeto”. São Paulo: Saraiva, 2005.
PMI
(Project Management Institute). “Project Management Body of Knowledge Guide”.
Newtown Square: PMI, 2008.