Vejamos o que se tem dito e
escrito sobre por que os projetos falham. Seria porque as pessoas são
estúpidas. Sim, bem lá no início isso foi dito, mas de outra forma, um pouco
mais amena. Os projetos falham porque as pessoas nele envolvidas não fazem a
coisa certa, não planejam e são incompetentes na sua execução. Seria somente
por isso? Eu tenho cá minhas dúvidas.
Sim, os projetos falhavam antes,
e ainda falham agora, mas nem tudo são, e eram antes, somente espinhos. Haviam equipes
e empresas que trabalhavam bem e, mesmo em épocas passadas, lá atrás, antes do
surgimento do PMI (Project Management Institute) e de seu PMBOK (Project Management
Body of Knowledge Guide), conseguiam alcançar os objetivos pré-definidos para
seus projetos. Portanto, valia a pena pesquisar o que essas pessoas faziam de
certo ou, em outras palavras, verificar se haviam lições a serem aprendidas com
elas. Isso foi feito e, mesmo assim, essa ação – de seguir práticas de
administração de projetos reconhecidamente bem sucedidas - não garantiu o
sucesso de todos os projetos, havendo ainda muitas situações de fracasso. Bem,
dito isso, esse é um bom momento para fazermos uma analogia com as dietas.
Nada captura tão bem a habilidade
do ser humano de ignorar o bom senso, fazendo as coisas sempre da mesma forma
e, mesmo assim, esperando por um resultado diferente. Uma viagem rápida pela
Internet mostrará uma enorme quantidade de programas de dieta, todas prometendo
resultados rápidos e duradouros. Nos EUA, as pessoas que desejam emagrecer
gastam em torno de US$45 bilhões por ano com esses programas. É muito dinheiro!
Quanta comida poderia ser comprada com esse dinheiro para alimentar os famintos
no nosso planeta? Bem, existe uma máxima muito conhecida que orienta muitos
programas de emagrecimento: “Coma menos e se mova mais!” Uma ideia que pode ser
simples e que faz todo o sentido, mas não é nada fácil de implementar. Para
emagrecer um indivíduo deve fazer exercícios físicos e comer menos. Aí entram
as variações sobre os tipos de alimentos, como devem ser ingeridos, etc e tal
e, também, as melhores séries de exercícios para tonificar e, como o pessoal
adora dizer atualmente, secar a barriga e outras áreas do corpo humano. Tudo em
nome da beleza, da boa aparência e, por que não dizer também, da boa saúde. Tudo
parece muito óbvio, mas como todos nós sabemos, isso costuma não funcionar. Não
funciona porque essa afirmação simples e direta, cheia de bom senso, requer
algo muito difícil para a maioria das pessoas: mudar seus hábitos. Demorou
muito tempo para nos transformarmos no que somos hoje. A sociedade em que vivemos
não nos incentiva a fazer dieta, havendo uma enorme oferta de alimentos. Se
você tem dinheiro, pode comer à vontade. Não precisa mais caminhar longas
distâncias para colher frutas, pescar e caçar, como faziam nossos antepassados,
lembrando que isso ajudava a queimar muitas calorias. Quando foi a última vez
que você precisou correr para escapar de um predador? É claro que esse tipo de
situação já não existe mais nos nossos tempos mais do que modernos. Vivemos num
modelo social muito diferente. Não somos mais animais tentando sobreviver.
Somos consumidores. Basta passear por entre as prateleiras dos supermercados e
escolher. Uma mudança para viver de verdade a filosofia do “coma menos e se
mova mais” passa por uma séria mudança no nosso estilo de vida.
Mas o que tudo isso tem a ver com
o gerenciamento de projetos? A história recente do gerenciamento de projetos traz
alguns marcos muito interessantes que vamos aqui pontuar. Nessa história
notamos a busca pela chamada “bala de prata”, que seria aquilo que – se usado
corretamente – faria um projeto ser barato, acontecer rapidamente e facilmente.
Nos anos 1980 essa “bala de prata” eram os softwares de gerenciamento de
projetos. Em pouco tempo notou-se que não era bem assim e no final dos anos
1980 a tal “bala de prata” passou a ser as metodologias de projeto. Essa crença
durou algum tempo apenas e em meados dos anos 1990 entraram em moda as
certificações. Mais recentemente surgiram as metodologias “Agile”, incluindo,
por exemplo, o Scrum. Também ganhou importância a implantação nas organizações dos
chamados escritórios de gerenciamento de projetos ou PMOs (Project Management
Office). Longe de mim dizer que cada uma dessas “balas de prata” não tem valor.
Ao contrário, são muito valiosas se utilizadas com harmonia. E aqui entra a semelhança entre o
gerenciamento de projetos e os programas de dieta: ambos precisam de mudanças
nos indivíduos que estão envolvidos e no ambiente onde acontecem.
Se os projetos acontecem nas
organizações, a questão que se coloca é a seguinte: - O que deve ser mudado nas
mesmas para criar um ambiente facilitador para os projetos? Estamos falando de
mudanças na conduta das pessoas na empresa, fortes o suficiente para que as
mesmas não apenas falem que entendem que os projetos são importantes, mas hajam
de acordo. Além de todas as chamadas “balas de prata” já mencionadas,
precisamos de muito mais. Algo que faça o gerente funcional liberar seus
recursos para o projeto de bom grado, sem as intermináveis discussões sobre as
“carências de pessoal na minha área” e acusações de que o gerente de projetos
está “roubando meus recursos humanos”. Uma mudança que torne a alocação de
recursos financeiros para o projeto algo normal e natural e não alguma coisa
dolorosa e difícil, que muitas vezes vem acompanhada de palavras de desconfiança como
“olha, esse dinheiro é suficiente para comprar muitos quilos de matéria prima,
portanto, não desperdice”. Como se o projeto fosse um desperdício menos
importante e não algo que foi decidido fazer pela própria direção da empresa.
Além de tudo isso, quantas vezes o projeto se vê em apuros quando simplesmente,
algum diretor decide, assim do nada, sem mais nem menos, não cumprir o que foi
prometido, resultando na perda de alguma coisa para o projeto. O resultado é
que aquele funcionário que viria trabalhar no projeto, não poderá mais vir. Ou
aquela área que seria destinada à atividades do projeto, não poderá mais ser
usada. Ou aquele dinheiro que seria gasto em alguma coisa para o projeto, agora
será gasto em outra coisa qualquer diferente do nosso projeto. Isso detona um
projeto, por melhor que seja o gerente do mesmo. Esse é o tipo de comportamento
que acontece ainda em muitas organizações que só entendem que os projetos são
importantes da boca pra fora. Na prática o que importa são as operações,
apenas! É óbvio que as operações da
empresa são importantes, mas os projetos também. Sem eles, não são
implementadas as mudanças tão necessárias, pois é através dos projetos que o
novo é implantado. Sim, é de uma mudança na cultura da empresa que os projetos necessitam.
Uma mudança na mentalidade, na forma de encarar e reagir aos projetos, uma
mudança de comportamento, um verdadeiro amadurecimento. Além das “balas de
prata” anteriormente mencionadas, é exatamente isso que os projetos necessitam
para ser bem sucedidos, dito de forma direta e simples. Para ser bem sucedidos
os projetos precisam também de uma mudança na cultura da empresa. Mas, isso que
é simples de dizer e até de entender, não é nada fácil de fazer.
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