terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Limonada Cubana
Limões e limonadas, essa é uma história real. O caso a seguir, escrito por Jesus Guimarães e postado em seu blog (zuguim.blog.uol.com.br) conta uma história sobre como é possível transformar limões, geralmente azedos, em uma doce limonada. É uma história simples e de pessoas fazendo a diferença. E isso nos leva a pensar que devemos aproveitar as situações difíceis que surgem em nossa vida para obter ensinamentos e nos fortalecer para enfrentar o nosso dia a dia. O mundo não é perfeito. E ele não é imperfeito somente no quintal do vizinho, na escola dos nossos amigos, nas outras empresas e nos outros países. Ele é imperfeito bem perto de nós, embora tenhamos uma enorme dificuldade em aceitar esse fato. O que nos faz viver melhor, apesar de todos os problemas que possam surgir, são as boas pessoas!
“Em março de 2011 visitei o Caribe pela primeira vez. Escolhi Cuba que, dentre as ilhas daquele mar azul, tem a maior extensão territorial e uma história recente capaz de chamar a atenção do planeta. Os rastros históricos, confesso, atraíram-me muito mais do que as belezas da região. Percorri Havana durante quatro dias, conhecendo museus, sítios históricos e mesmo os nostálgicos como “La Bodeguita del Medio” onde Ernest Hemingway tomava todas e mais algumas.
Em seguida, por imposição do pacote turístico, fui para Varadero, um balneário muito conhecido, esquema para turistas canadenses e outros gringos que adoram comer e beber à vontade nos diversos hotéis daquelas praias. Concordei porque havia alternativas como um passeio de dia inteiro a Santa Clara, cidade onde guerrilheiros comandados por Che Guevara fizeram descarrilar um trem que transportava tropas do ditador Fulgêncio Batista e um considerável lote de armas e munições. Essa ação foi decisiva para que os rebeldes entrassem em Cuba, vitoriosos. Em Santa Clara, os vagões do trem permanecem no local em que tombaram, como testemunhos do fato histórico. Um museu foi construído para relatar os pormenores desse fato, assim como para abrigar os restos mortais de Guevara.
Entretanto, na manhã em que o micro-ônibus nos apanharia no hotel, percebi ao levantar-me que estava com uma séria dificuldade visual. Como em 1989 sofrera um acidente vascular em um dos olhos, foi fácil identificar, pelos sintomas, que o acidente se repetia, daquela feita na outra vista. Cancelei a viagem e telefonei para o meu seguro-saúde. Em dez minutos o representante em Havana dava retorno orientando-me a procurar a Clínica Internacional de Varadero. Esse nome pomposo fez-me supor uma clínica moderna, instalada em um prédio à altura. Nada disso. A saúde cubana é tarefa exclusiva do estado e o prédio que encontrei era limpo, organizado, mas incrivelmente modesto. Pediram-me aguardasse a chegada do clínico geral. Enquanto isso, me ofereceram água, café e muita solidariedade. Arrisquei perguntar ao enfermeiro de plantão se possuíam aparelhos para exames oftalmológicos e ele, muito seguro, disse-me: “Si! Tenemos una lupa muy poderosa!”.
Contudo, o médico, que chegou pontualmente às sete, após ouvir-me e fazer algumas perguntas, esclareceu que não atendiam especialidades e me encaminharia de imediato à Faculdade de Medicina da Universidade de Matanzas, na capital da província, distante cerca de 20 km. Botaram-me em uma ambulância, ao lado de minha mulher, e lá fomos numa correria danada. O veículo devia ter perdido seus amortecedores havia anos, mas chegamos. Ao descer indaguei do motorista e do enfermeiro acompanhante, qual seria a melhor forma de retornar ao hotel. Disseram-me que não me preocupasse, ficariam à minha espera o tempo que fosse necessário. Foram além, levaram-me hospital adentro até o departamento de oftalmologista. Tudo limpo, organizado, mas extremamente pobre. Não passei por guichês, nem portarias e trazia apenas um formulário preenchido pelo clínico de Varadero. A profissional responsável, muito solícita, usando seus poucos equipamentos examinou-me a retina demoradamente, convidou duas colegas para participarem do exame e, por fim, apresentou seu diagnóstico: hemorragia na retina, discreta e, provavelmente, benigna.
Claro que o resultado aliviou-me até certo ponto, impressionaram-me, porém, as condições em que se deu o atendimento. Na sala estávamos eu e a esposa, as médicas, o motorista da ambulância e o enfermeiro, três ou quatro auxiliares de enfermagem do setor e, ao que me pareceu, uma servente, além de outros que ora entravam, ora saíam. Agrupados ao fundo, falavam quase ao mesmo tempo, contando casos semelhantes ocorridos com familiares e amigos. Tudo isso sem que as gentis “doctoras” sequer se incomodassem; ao contrário, com paciência esclareciam os curiosos sobre seus duvidosos palpites. Formara-se ali, espontaneamente, uma espécie de assembleia popular, interessada em solucionar o caso do “brasileño que habla español”, na verdade, “portunhol”.
Nesse clima de camaradagem, tapinha nas costas e votos de breve recuperação, sem nada pagar nem assinar papéis, deixei aquele hospital com um relatório médico cuidadosamente manuscrito, endereçado aos colegas oftalmologistas do Brasil, para onde embarcaríamos dois dias mais tarde. O diagnóstico e os cuidados recomendados pela mal aparelhada medicina cubana foram inteiramente confirmados pelos especialistas de São Paulo e, no prazo de seis meses, recobrei a normalidade da visão.
Em todos os setores na vida nacional os cubanos operam milagres com o pouco que têm. Tal e qual não raro acontece por aqui, tendo um único limão, dele fazem uma limonada para tocar em frente.
Assim que puder, voltarei a Cuba, para visitar o Museu e os vagões de Santa Clara”.
Autor: Jesus Guimarães é amigo e ex-prefeito da cidade e Tupã-SP, de 1983 à 1988, e depois eleito para mais um mandato de 1993 à 1996. Tupã está localizada a 520 quilômetros da capital, com uma população de 62.256 mil habitantes, segundo dados de 2007.
Fonte: http://zuguim.blog.uol.com.br/
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