sábado, 25 de abril de 2020

Vamos Mesmo Compartilhar Conhecimento?


Como pode ser encontrado nos livros e artigos sobre administração, uma empresa precisa calibrar seu investimento em tecnologia, na modernização de sua estrutura e na otimização de seus processos, além de contar com uma equipe de profissionais qualificados, dedicados e comprometidos, que possibilitem, com seu trabalho e esforço, o alcance da excelência nos negócios e dos resultados desejados. 

- Você, como especialista senior, devia ensinar o pessoal mais jovem a fazer isso. É o que a empresa espera que você faça.

As pessoas ainda são muito importantes
Uma empresa também é uma fonte de oportunidades, considerando tudo que é necessário fazer. Precisa cortar custos e evitar desperdícios. Para ser eficiente a empresa precisa operar mais rápido e, ao mesmo tempo, com o mínimo de erros. Precisa fazer mais, com menos, e isso significa produtividade. Precisa ser lucrativa. Se uma empresa pode fazer o mesmo (ou até mais), reduzindo a quantidade de funcionários ou substituindo esses funcionários por máquinas, ela fará isso para ganhar produtividade. Todos esses conceitos mostram o que é mais importante do ponto de vista da empresa. 

Nesse momento da nossa história, mesmo com toda a robótica avançada e Inteligência Artificial (IA) que tem sido implantada, a grande maioria das empresas ainda precisa muito de bons colaboradores. Precisa de gente de carne e osso, pessoas jovens que envelhecem com o passar do tempo, os tais seres humanos cheios de qualidades e defeitos. São essas pessoas que planejam, executam e controlam os processos e projetos, que introduzem inovação, que com erros e acertos são capazes de direcionar o negócio para o sucesso. Essas pessoas precisam trabalhar em equipe e colaborar. Se essas pessoas compartilharem seu conhecimento, ainda melhor. Mas, para quem?

Colaborando e compartilhando conhecimento
O PMI (Project Management Institute) aborda o tema da colaboração e da confiança dentro do seguinte princípio: A colaboração ocorre quando todos os membros da equipe compartilham um objetivo comum, há confiança mútua e todos usam abordagens acordadas para o trabalho. Por sua vez, os gerentes de projeto precisam estabelecer relacionamentos com outros gerentes de projeto para que, com o passar do tempo e o progresso dos projetos, todos saibam que o conhecimento, que é essencial, pode ser obtido através do compartilhamento mútuo. Isso significa que todos podem aprender mais e se tornar gerentes de projeto mais eficazes. Por sua vez, isso requer um ambiente de trabalho em que exista confiança mútua. Eu confio que posso compartilhar meu conhecimento, uma vez que - em troca - receberei algo, o valioso conhecimento de outros profissionais, e isso será muito útil no meu próprio trabalho. 

Alguns colegas afirmam que em muitas estruturas organizacionais tradicionais já estabelecidas, adotar esse tipo de pensamento – de compartilhar conhecimento - é um grande desafio. Ao mesmo tempo que afirmam que isso está acontecendo cada vez mais entre as gerações mais jovens. Sim, temos jovens profissionais muito bem preparados e capazes, que estão enfrentando o mercado de trabalho com muita garra e vontade de aprender. Em estruturas organizacionais tradicionais ou em estruturas organizacionais consideradas mais avançadas esses jovens profissionais estão amadurecendo rapidamente. Como dissemos, a confiança é a base para construir esse ambiente de respeito e aprendizado mútuo. Todavia, se a confiança é quebrada, o desempenho geral pode ser seriamente afetado.

O ambiente profissional é competitivo
Bem, vejamos algumas perguntas e respostas. Pergunta: - Tem emprego sobrando? Resposta: - Não, mesmo! Pergunta: - As empresas estão pagando salários altos? Resposta: - Não, para ganhar bem são feitas muitas exigências e o profissional precisa se destacar na multidão. Pergunta: - Se o mercado oscila, mesmo que seja só um pouquinho, o que as empresas fazem? – Resposta: Demitem!!! Pergunta: - Se a empresa pode substituir um funcionário de salário maior por outro que faça o mesmo trabalho (com a mesma velocidade e qualidade) e ganhe menos, o que a empresa faz? Resposta: Troca o funcionário! Bem, isso não é nenhuma novidade, apenas um fato da vida que se aprende com o tempo.

Vamos supor que você seja um profissional que conheça algumas das áreas de ponta no mercado de trabalho como, por exemplo, big data, IA, business intelligence e internet das coisas, e faça parte de uma equipe de projeto. Pode ser que você esteja vivendo a seguinte situação: Esse projeto é bem interessante, eu me dou bem com o gerente e a equipe do projeto, além disso o pessoal do cliente, apesar de exigente, é muito legal. Mas, como se diz por aí, “amigos, amigos, negócios à parte”, e eu preciso me proteger. Sim, mas o que você está dizendo, cara pálida?

Nesse mundo as relações de trabalho podem ser tornar ásperas e as ilusões podem evaporar rapidamente quando nos colocam frente a frente com o departamento de RH (Recursos Humanos) para nos dizer que “infelizmente a empresa precisa seguir outros caminhos”, que a organização agradece pelo seu esforço, mas o “seu trabalho não é mais necessário”, ou mesmo que foi tomada a “decisão difícil de deixar você ir embora para poder enfrentar novos desafios”. Não é por maldade. Demitir alguém é duro e difícil. Todas essas frases, embora possam beirar o cinismo, estão inclusas no cardápio do melhor que se pode oferecer quando se demite alguém. E esse alguém sabendo disso pode, perfeitamente, pensar o seguinte: 
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Eu ganho mais porque sei mais! Eu quero ser mais valioso, não menos;

Se outro (que ganhe menos do que eu) conhecer e/ou for capaz de fazer o que eu faço, isso pode ser uma ameaça à minha posição no projeto ou até mesmo ameaçar o meu emprego.

Não é, portanto, uma questão de colaboração ruim e de falta de confiança nos colegas e outros membros da equipe. Eu colaboro quando trabalho bem e faço o meu melhor. Assim, agrego valor ao projeto. Meus colegas são como vizinhos. Trato todos bem, mas não derrubo o muro que separa nossos quintais. Mas, existe uma verdade quase absoluta para mim: - Eu não confio que a empresa possa mudar e ser boazinha comigo. Nem comigo e nem com ninguém, pois não é algo pessoal. É algo bem previsível que vale para todas as empresas que operam dentro do sistema capitalista. O sistema considera que todos os colaboradores precisam agir sabendo que tem a missão de entregar o melhor resultado possível, de continuamente reduzir custos e evitar desperdícios, e tudo o mais que é necessário para que a empresa seja competitiva e alcance os resultados desejados por seus proprietários. E demitir pessoas – quando necessário e/ou representar economia de custos – faz parte desse contexto. E isso acontece em todos os lugares e em todas as empresas, sem exceção. Por outro lado, se uma empresa deixa de ser eficiente e lucrativa corre o sério de risco de se ver obrigada a encerrar suas atividades. Simples, assim. 


Se não existe confiança ou a confiança é fraca, isso é um gatilho para que surjam conflitos de várias naturezas no ambiente do projeto. Cada um faz bem o seu trabalho, dando o melhor de si, mas se nega ... (sem dizer que se nega a fazer isso, disfarçando da melhor forma possível) – por auto defesa ou mesmo egoísmo - a compartilhar seu conhecimento.

Quando algo no projeto precisa ser feito (e bem executado), se o especialista sabe fazer, ele (ou ela) pode fazer o que precisa ser feito. Embora possa ser mais rápido, no curto prazo, que o especialista faça, ele (ou ela) mesmo, o que precisa ser feito, no longo prazo e com a empresa trabalhando em mais projetos, as coisas serão mais rápidas se o especialista compartilhar seu conhecimento com outras pessoas. Assim sendo, outras pessoas saberão fazer o trabalho também. Os conflitos de recursos surgem por não haver membros da equipe adequados (com competências, habilidades e experiência em determinado assunto) em quantidade suficiente para alocação simultânea. Em outras palavras, é uma situação em que a empresa necessita de mais de um especialista e só existe um disponível. Por outro lado, quanto mais semelhantes forem os conjuntos de habilidades dos funcionários disponíveis, mais fácil será fazer as alocações. Evidentemente, isso minimiza os conflitos.   

Olhando ainda por outro ângulo, o problema não está somente relacionado ao número real de pessoas disponíveis, mas a escassez de certas habilidades. Portanto, uma forma de lidar com essa questão é garantir que os especialistas compartilhem seu conhecimento com os outros membros da equipe. Na teoria parece simples, mas na prática isso pode ser bem complicado. Basta voltarmos ao início desse texto e, após uma breve reflexão, tentarmos responder a seguinte pergunta: - Quem é mais importante, eu ou a empresa? É isso aí, até a próxima.

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