sexta-feira, 17 de março de 2017

Jornalismo Luta pela Sobrevivência na Era Pós-Verdade

Vivemos na era da pós-verdade. Segundo a definição dos dicionários Oxford, pós-verdade ('post-truth' em inglês) é um adjetivo que faz referência a "circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos influência na formação da opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais".
 

“A mídia está em apuros. O modelo de negócios impulsionado pela publicidade está à beira do colapso. A confiança na imprensa está no ponto mais baixo de todos os tempos. E agora essas duas grandes preocupações se juntaram a uma crise existencial ainda maior. Em uma era do pós-fato de notícias falsas e bolhas de filtro, em que o público escolhe as informações e fontes que combinam com seus próprios preconceitos e descarta o resto, a mídia parece ter perdido seu poder de moldar a opinião pública.
Vale a pena lembrar, porém, que a cerca 30 anos atrás, as pessoas estavam preocupadas que a imprensa tinha muito poder. Em 1988, Edward Herman e Noam Chomsky publicaram um livro chamado Manufacturing Consent (Fabricando o Consenso), que argumentava que a mídia dos EUA colocava uma camisa de força na discussão nacional. A notícia, eles argumentavam, era determinada por um punhado de corporações de mídia capazes de atingir o público em massa - uma enorme barreira de entrada que mantinha as vozes pequenas e independentes fora da conversa.
O modelo de negócios das corporações dependia de anunciantes de abrangência nacional, que tendiam a não apoiar publicações ou histórias que consideravam polêmicas ou desagradáveis. E os jornalistas contavam com a colaboração de fontes de alto nível, em uma relação simbiótica que impediria a imprensa de distorcer a notícia ou fazê-la tendenciosa. Assim fazendo, a matéria-prima da notícia deveria passar por filtros sucessivos, deixando apenas o resíduo purificado apto para ser impresso. Herman e Chomsky mostraram que o resultado, ao contrário do que o público poderia esperar, foi a construção de um falso consenso nacional, que ignorou fatos, vozes e ideias periféricas.
Nessas três décadas, desde que Herman e Chomsky nivelaram sua crítica, quase todos os aspectos da indústria de notícias mudou. A publicidade com marcas de abrangência nacional deu lugar a trocas automatizadas que colocam anúncios em milhares de sites, independentemente do seu conteúdo. Os políticos já não precisam confiar em jornalistas para chegar ao seu público, uma vez que podem falar com os eleitores diretamente no Twitter. De fato, a capacidade de alcançar uma audiência nacional agora pertence a todos. Não há nada que impeça que ideias e argumentos marginais entrem na corrente sanguínea informacional - e nada que os impeça de se espalhar”.
Trecho de matéria da revista Wired, de fevereiro de 2017 (tradução livre). Para ler a matéria completa no site da revista Wired clique aqui.
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Fonte: HERMAN, E. S., CHOMSKY, N. Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media. New York: Pantheon books, 1988.
Neste trabalho pioneiro os autores mostram que, ao contrário de sua imagem usual como imparciais e obstinados na busca pela verdade e defesa da justiça, os meios de comunicação defendem as agendas econômicas, sociais e políticas dos grupos privilegiados que dominam a sociedade doméstica, o Estado e a ordem global.
Edward S. Herman é Professor Emérito de Finanças na Wharton School of the University of Pennsylvania.
Noam Chomsky é Professor do Departamento de Linguística e Filosofia na Massachusetts Institute of Technology.
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