Vivemos na era da pós-verdade. Segundo a definição dos
dicionários Oxford, pós-verdade ('post-truth' em inglês) é um adjetivo que faz
referência a "circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos
influência na formação da opinião pública do que os apelos emocionais e as
opiniões pessoais".
“A
mídia está em apuros. O modelo de negócios impulsionado pela publicidade está à
beira do colapso. A confiança na imprensa está no ponto mais baixo de todos os
tempos. E agora essas duas grandes preocupações se juntaram a uma crise
existencial ainda maior. Em uma era do pós-fato de notícias falsas e bolhas de
filtro, em que o público escolhe as informações e fontes que combinam com seus
próprios preconceitos e descarta o resto, a mídia parece ter perdido seu poder
de moldar a opinião pública.
Vale
a pena lembrar, porém, que a cerca 30 anos atrás, as pessoas estavam preocupadas
que a imprensa tinha muito poder. Em 1988, Edward Herman e Noam Chomsky
publicaram um livro chamado Manufacturing Consent (Fabricando
o Consenso), que argumentava que a mídia dos EUA colocava uma camisa de
força na discussão nacional. A notícia, eles argumentavam, era determinada por
um punhado de corporações de mídia capazes de atingir o público em massa - uma
enorme barreira de entrada que mantinha as vozes pequenas e independentes fora
da conversa.
O
modelo de negócios das corporações dependia de anunciantes de abrangência
nacional, que tendiam a não apoiar publicações ou histórias que consideravam
polêmicas ou desagradáveis. E os jornalistas contavam com a colaboração de
fontes de alto nível, em uma relação simbiótica que impediria a imprensa de distorcer
a notícia ou fazê-la tendenciosa. Assim fazendo, a matéria-prima da notícia
deveria passar por filtros sucessivos, deixando apenas o resíduo purificado
apto para ser impresso. Herman e Chomsky mostraram que o resultado, ao
contrário do que o público poderia esperar, foi a construção de um falso consenso
nacional, que ignorou fatos, vozes e ideias periféricas.
Nessas
três décadas, desde que Herman e Chomsky nivelaram sua crítica, quase todos os
aspectos da indústria de notícias mudou. A publicidade com marcas de
abrangência nacional deu lugar a trocas automatizadas que colocam anúncios em
milhares de sites, independentemente do seu conteúdo. Os políticos já não
precisam confiar em jornalistas para chegar ao seu público, uma vez que podem
falar com os eleitores diretamente no Twitter. De fato, a capacidade de
alcançar uma audiência nacional agora pertence a todos. Não há nada que impeça
que ideias e argumentos marginais entrem na corrente sanguínea informacional -
e nada que os impeça de se espalhar”.
Trecho de matéria da revista Wired, de fevereiro de
2017 (tradução livre). Para
ler a matéria completa no site da revista Wired clique aqui.
...................................
Fonte: HERMAN,
E. S., CHOMSKY, N. Manufacturing
Consent: The Political Economy of the Mass Media. New York: Pantheon books,
1988.
Neste
trabalho pioneiro os autores mostram que, ao contrário de sua imagem usual como
imparciais e obstinados na busca pela verdade e defesa da justiça, os meios de
comunicação defendem as agendas econômicas, sociais e políticas dos grupos
privilegiados que dominam a sociedade doméstica, o Estado e a ordem global.
Edward S. Herman é Professor
Emérito de Finanças na Wharton School of the University of Pennsylvania.
Noam Chomsky é Professor do Departamento de Linguística e
Filosofia na Massachusetts Institute of Technology.
......................................
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Inclua seu comentário: