quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
A Piada dos 3 Envelopes
Essa
piada é um tipo de estorinha que já deve ter sido contada inúmeras vezes e que
nem é tão engraçada assim. O que vamos fazer nesse post é explorar um pouco
mais as ideias nela contidas. Então, vamos lá!
Carlos recentemente assumiu um projeto
complicado. Há problemas nas entregas e conflitos na equipe e ele, como o novo gerente
de projetos, lembrou que Alfredo, o gerente de projetos anterior, tinha lhe
deixado 3 envelopes, com a orientação de abrir o primeiro quando o projeto
tivesse problemas. Os outros dois envelopes deveriam ser mantidos fechados e
guardados para situações futuras. Esse era o caso de agora! Nervosamente,
Carlos abriu o primeiro envelope e estava escrito o seguinte: - Coloque a culpa
no seu antecessor. Carlos, sem dó nem piedade, chamou a equipe do projeto e
culpou Alfredo pelos problemas. Com isso, o pessoal da equipe decidiu voltar ao
trabalho e o projeto seguiu em frente. Poucos meses depois os problemas
voltaram ainda mais fortes e Carlos abriu o segundo envelope, encontrando a
seguinte mensagem: - Coloque a culpa no ambiente externo. Carlos então
reuniu-se com a equipe e, munido de gráficos e tabelas, passou a reclamar da
globalização, da crise financeira, etc e tal, e mais uma vez o projeto seguiu
em frente. Passaram-se mais alguns meses e os problemas no projeto voltaram ainda
mais graves e isso fez Carlos abrir o terceiro envelope, revelando a seguinte
mensagem: - Está na hora de preparar três envelopes.
A
estorinha acima é velha, mas é boa para mostrar alguns truques usados pelos
maus gestores que, simplesmente, tentam escapar dos problemas, sem resolvê-los.
Culpar a pessoa que estava antes, que era o responsável pela coordenação da
equipe, é uma atitude típica de transferência de responsabilidade do resultado
ruim para outros. É um ataque fácil, pois quem está sendo acusado não pode se
defender, por estar longe do projeto, em outra parte na organização, exercendo
função diferente ou, como na maioria das vezes, fora dela, por ter sido
afastado. A “estratégia” de chutar cachorro morto surge muito rapidamente como
saída perfeita de uma crise. Afinal, cachorros mortos não mordem! Colocar a
culpa no gerente de projetos anterior funciona bem, até porque a existência de
gerentes ruins é um fato da vida. Estes indivíduos costumam se esconder do
trabalho, empurrar os prazos para os outros, gostar de segredinhos e agir sem o
devido senso de justiça com seus subordinados. Além disso, não são hábeis na
resolução de problemas, temem o feedback da equipe, não são equipados com as
ferramentas de análise e erram em suas conclusões, ou decidem prematuramente e
sem base sólida, dentre outros defeitos. Por sua vez, os colaboradores de forma
geral, e especialmente aqueles que usam seu tempo da forma mais produtiva
possível para a organização, não se sentem confortáveis com esses maus gerentes.
Também não é para menos!
Um
artigo publicado pela AMA (American Management Association)
dá conta que chefes abusivos parecem
ser comuns na força de trabalho. Uma pesquisa feita em 2007 pela Employment Law Alliance (ELA), envolvendo 1000 pessoas adultas, mostrou
que 44% dos trabalhadores americanos se reportavam para um supervisor que
consideravam abusivo. Entre os casos de abuso que os entrevistados da ELA
tinham testemunhado ou experimentado, estavam as piadas sarcásticas (60%), as
críticas públicas ao desempenho no trabalho (59%), interromper de uma maneira
rude (58%), gritar ou elevar a voz (55%) e ignorar o colega de trabalho como se
fosse invisível (54%). Seria isso coisa antiga apenas, somente registrada em
2007? Uma matéria de Caroline Marino, publicada na revista EXAME
em 2013, trouxe o seguinte trecho: “A pressão por resultados, a carga excessiva de trabalho e
a alta competição são responsáveis por despertar o mau comportamento dos profissionais,
segundo as professoras Christine Porath, da McDonough School of Business, e
Christine Pearson, da Thunderbird School of Global Management, ambas nos
Estados Unidos. “Eles dizem que não têm tempo para ser agradáveis”, afirma
Christine Porath”. Mais adiante, a matéria apresentava que “desde 1998, a dupla
de acadêmicas já entrevistou mais de 14.000 profissionais americanos e
constatou que praticamente todo mundo (98%) já presenciou atitudes rudes no
trabalho”. Infelizmente, e por aqui não é diferente, tudo indica que esse tipo
de comportamento ainda está muito presente nas organizações. Parece que ninguém está preocupado com
cordialidade e gentileza. Se tiverem que apontar o dedo e culpar alguém, farão
isso sem qualquer constrangimento. Por isso, não é improvável que muita gente
pense em seguir o conselho do primeiro envelope.
Mas
não devemos esquecer que a piada dos 3 envelopes conta uma estorinha que tem um
componente de tempo. Aqui não se trata de eximir de responsabilidade o gerente
antecessor. Ele cometeu erros e por isso
perdeu sua posição na organização. Só que a estorinha considera que o tempo
passou e que o gerente atual aproveita falhas ocorridas no passado (de
responsabilidade do gerente antecessor) e as transfere como sendo a causa das
falhas presentes (para fugir da responsabilidade). Esse é o truque que deve nos
deixar atentos! Mas alguém poderia dizer que há situações reais em que o
antecessor deixa o projeto em uma condição tão ruim que não é exagero dizer que
estamos caminhando em “terra arrasada”. Sim, já dissemos acima que existem maus
gerentes e que isso, portanto, pode realmente acontecer. Mas, novamente,
devemos ficar atentos para não cair no truque de simplesmente trazer os
problemas do passado sem analisar a situação no tempo presente.
Depois
vem a desculpa de culpar o ambiente externo, outra forma muito usada de
transferência de responsabilidade do resultado ruim para algo que está
absolutamente fora do controle do gestor. O ambiente externo inclui os fatores
econômicos, políticos, sociais, competitivos e legais. Mas, como isso funciona?
Uma
matéria da revista Carta Capital, de Thomaz Wood
Jr., publicada em 2014, com o título “A culpa não é só dos astros”, faz a
seguinte análise da indústria brasileira: “A manufatura encolhe, os empregos
desaparecem, a competitividade é baixa e o moral está abalado. Nos últimos
anos, com o crescimento da renda, a demanda aumentou, mas foi em grande parte
suprida por produtos importados. Os vilões são fortes e numerosos: incoerência
entre a política macroeconômica e a política industrial, taxas de câmbio
desfavoráveis, juros altos e desregulamentação atrapalhada. Resultado:
desindustrialização”. Notem que todos são fatores externos, que as empresas não
podem controlar. Todavia, essa mesma matéria rebate essa ideia dizendo que nem
tudo, nesse quadro negativo da indústria nacional, pode ser atribuído aos
famosos fatores externos. A matéria complementa com a seguinte afirmação: “Na
ponta externa, a competitividade depende dos chamados fatores sistêmicos e
estruturais: ambiente macroeconômico, taxa de câmbio, acesso a capital,
regulação, porte do mercado, configuração do setor, concorrência e outros mais.
São componentes importantes. Porém, na dimensão interna, a competitividade é
função de diversos fatores ao alcance dos empresários e executivos. E nem
sempre são bem cuidados. O setor industrial brasileiro evoluiu de forma
heterogênea desde a abertura do mercado e as mudanças econômicas ocorridas nos
anos 1990. Algumas ilhas de excelência emergiram, mas o arquipélago continua
cheio de ilhotas anacrônicas. Uma pesquisa realizada há alguns anos por Luiz
Arthur Ledur Brito, da FGV-EAESP, e por este escriba avaliou dez práticas
gerenciais de 163 empresas locais de 20 setores de atividades e comparou os
resultados com os de outros países. Apenas 3% das empresas industriais
apresentavam nível de excelência”. Isso significa, segundo o autor da matéria,
que as empresas fazem muito pouco, ou quase nada, para melhorar e culpam o
ambiente externo por suas mazelas. Que malandros, não acham? Ei, vamos com
calma, também não é assim. Como o artigo comenta, é preciso analisar cada caso
e ver quem está fazendo o dever de casa e quem apenas coloca “a culpa nos
astros”. O ambiente externo é, sem qualquer sombra de dúvida, um fator importante
que impacta os negócios das empresas. Esse é um fato da vida.
Bem,
e como devemos lidar com tudo isso? Ao invés de gastar o tempo da organização
com desculpas esfarrapadas e antigas, o novo gestor deve fazer uma análise da
situação presente, antes de seguir em frente com o projeto. Obviamente, nada de
envelopes. Apenas uma análise que seja capaz de mostrar à quantas anda o
projeto, se o mesmo tem condições de prosseguir e, já sendo proativo, apresentar
um plano com as ações necessárias, sejam estas corretivas ou preventivas, para
ser devidamente aprovado pela direção da organização. Se essa análise mostrar
que o projeto deve ser encerrado, uma vez que atingiu um ponto em que não é mais
possível que suas metas sejam alcançadas, que seja então terminado. Se, por
outro lado, por qualquer que seja a razão, não for permitido ao novo gerente de
projetos fazer uma análise objetiva de um projeto já começado por outro gestor e
que está com problemas, antes de assumir efetivamente a responsabilidade pelo
mesmo, esse gerente vai estar em duplo risco: além de pegar o bonde andando,
estará em voo cego. Bem é isso aí! Até a próxima.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
Cada vez mais próximos do Robocop
Quem
não conhece o Robocop? Um filme de 1987, que ganhou uma nova versão em 2014, sobre
um robô policial ou quase isso! Na verdade o Robocop não é um robô propriamente
dito, uma vez que existe alguém vivo lá dentro, ou quase vivo, que passa a
“viver” integrado a uma sofisticada engenhoca cibernética cheia de superpoderes.
No filme, que projeta um futuro que se passa em 2028, onde as coisas serão
piores do que são hoje, o Robocop faz o trabalho mais difícil, sujo e
arriscado. Afinal ele é, em primeiro lugar, um robô apenas, operando com alguém
que já tinha morrido mesmo.
o
Robocop é capaz de substituir o trabalho de vários policiais, fazendo melhor e
mais rápido, sem reclamações ou discordâncias. E basta prestar um pouquinho de
atenção ao filme para ver que, tal qual ocorre quando se automatiza uma linha
de produção, o Robocop tira o emprego de muita gente. Para os seus criadores da
OmniCorp, nome fictício da empresa vilã no filme, o Robocop é um tremenda
solução de redução de custos e melhoria da qualidade. O Robocop é vendido como
uma ferramenta de otimização, capaz de aumentar a produtividade em todos os
sentidos. Semelhante ao mundo real, onde os fins justificam os meios, a empresa
faz o que precisa ser feito para seu benefício, não se importando com as
consequências de suas ações. Em outras palavras, nada é pessoal, apenas
negócios (“just business”).
Mas há
um drama rolando nessa estória xarope, com bandidos e vilões na plenitude de
suas maldades e o Robocop, e ninguém sabe como isso acontece, conseguindo
perceber o certo e o errado, mesmo que os comandos enviados ao seu detonado cérebro
digam outra coisa. O Robocop consegue separar o bem do mal e demonstrar um
certo grau de consciência. E é aí que está um pouco da graça do filme, além da
pancadaria é claro. O Robocop anda como um robô, fala como um robô, mas o seu
lado humano toma conta da situação. Parece só um monte de bobagens!
Alíás
eu quase nunca faço comentários sobre filmes aqui no blog, e aí eu vi em uma
edição recente da revista WIRED a
apresentação de um veículo autônomo chamado de “Brigade”. E aqui não estou
falando de um filme. Este é o nosso bom e velho mundo real! A moto “Brigade”
não necessita de condutor, ficando de pé graças a um giroscópio embutido, e foi
projetada para “manter a paz em pequenas cidades e manter policiais humanos
fazendo um trabalho mais importante”, como afirmam seus criadores. Para fazer o
trabalho policial a motocicleta autônoma “Brigade” possui um conjunto de
câmeras, sensores, projetores e alto-falantes. Bem, ainda está longe do
Robocop, mas quem sabe se até 2028 não vamos chegar lá! Bem, é isso aí! Até a
próxima.
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