Segundo o PMBOK guide (PMI, 2013),
a EAP (Estrutura Analítica de Projeto) subdivide as entregas e o trabalho em
componentes menores, mais facilmente gerenciáveis. Até aí tudo bem! Então,
precisamos primeiro ter a compreensão de quais entregas farão parte do nosso
projeto. Se a EAP - ou WBS (Work
Breakdown Structure) - é uma subdivisão lógica do projeto em vários níveis de
detalhamento, até que sejam obtidos elementos de trabalho claramente
identificáveis, mensuráveis e controláveis, precisamos visualizar o trabalho
que será feito no projeto e encontrar a melhor forma de subdividi-lo
logicamente.
“A WBS pode ser totalmente nova
ou podem ser reaproveitadas partes de uma outra WBS ou de modelos (templates)
da organização. A decomposição consiste em ir detalhando (decompondo) os
subprodutos (deliverables) em componentes menores, até que eles estejam em um
nível de detalhe que permita o gerenciamento (planejamento, execução e
controle) do trabalho do projeto” (XAVIER, 2005).
As reuniões iniciais,
apresentadas no post anterior (UmExemplo de Projeto de Integração para Empresas passando por Processos de Fusõese Aquisições - Parte 2), foram muito produtivas, e usando a informação
coletada nessas reuniões foi possível criar uma primeira versão de estrutura
analítica do projeto de integração. O gerente de projetos e a equipe estavam
radiantes, embora não tivessem a certeza absoluta de que aquela EAP era
suficientemente boa e completa, incluindo tudo que fosse realmente necessário para
gerar o resultado esperado do projeto.
Ainda com muitas dúvidas, uma
certa ponta de receio de demonstrar ignorância e medo de mostrar que tinha
feito bobagem, o gerente de projetos enviou um e-mail para o executivo
principal da empresa com um resumo das informações obtidas nas reuniões iniciais
e o desenho da primeira EAP do projeto (figura 1).
Figura 1: Primeira versão da EAP
do projeto de integração (clique na figura para ampliar).
O gerente de projetos e os outros
membros da equipe sabiam que essa EAP era apenas uma primeira versão, sendo
assim um documento com elevado grau de incerteza e poderia mesmo estar
incompleta. De qualquer modo, para fazer tudo aquilo seria necessário gastar
muito tempo e dinheiro. Na verdade, faltava algum tipo de critério para definir
o que era mais importante e deveria ser feito logo e, em consequência, o que
poderia ser deixado para mais tarde.
Mas, uma coisa era certa: o
projeto de integração tinha começado a ser discutido e a alta direção da
empresa estava envolvida até o pescoço, ou talvez um pouco mais, até a raiz do
cabelo. A alta direção sabia que tinha
chegado a um ponto onde não era mais possível voltar, que a fusão era algo
muito grande que criava um ambiente de mudança. Os principais executivos da
empresa desejavam que essa fosse uma mudança planejada e, portanto, com todos
os elementos necessários para lidar com possíveis resistências e resolver os
problemas que certamente iriam surgir no decorrer desse processo.
“Como o sucesso, ou o fracasso,
de uma empresa se deve essencialmente às coisas que seus funcionários são ou
não capazes de realizar, a mudança planejada também está voltada para a mudança
do comportamento das pessoas e dos grupos dentro da organização” (ROBBINS,
2005).
Aproveitando a experiência da empresa de consultoria
A coisa começou mesmo a tomar
forma após um workshop de iniciação de projeto, conduzido pela empresa de
consultoria, que tinha sido contratada e já estava trabalhando ativamente.
Esses consultores externos eram muito abertos e receptivos, mantendo seus
radares ligados para captar tudo, ou quase tudo, que acontecia naquele momento
tão especial. Não foi difícil o entrosamento dos consultores externos com o
gerente de projeto e membros da equipe e, logo todos se sentiram jogando em um
mesmo time e buscando o alcance dos mesmos objetivos. Afinal, não poderia se
esperar nada diferente de consultores profissionais contratados para ajudar a
fazer o projeto de integração acontecer a contento.
Esse workshop de iniciação tinha
levado o dia inteiro e trazido todos os membros da alta direção da empresa –
geralmente, pessoas muito ocupadas - para um local muito especial. Um hotel no
interior, com salas amplas, mobília sóbria, com uma vista inspiradora para
muitas árvores e belas flores em um imenso jardim. De propósito, o local
escolhido não tinha cobertura de rede celular, exatamente para evitar possíveis
dispersões causadas por insistentes e inconvenientes chamadas telefônicas,
provavelmente de pessoal subordinado, que se reportavam a essas pessoas. O gerente de projetos não se lembrava de um
dia na empresa - e ele já trabalhava lá há alguns anos - com reuniões tão
produtivas.
Os consultores externos defenderam
nesse workshop que a empresa deveria estabelecer um plano de mobilização da
mudança, capaz de envolver todos os colaboradores da empresa. Essa seria a
forma da alta direção da empresa comunicar a mudança em curso, uma mudança necessária
em função da fusão ocorrida. A figura 2 mostra os pontos principais desse plano
de mobilização.
Figura 2: Plano de mobilização.
Obviamente, a figura 2 não era uma EAP, mas mostrava um plano geral de ação. Começava com a necessidade
de criar uma visão da mudança (que
seria feita através da integração). Seguia por apoiar
a visão criada (para ajudar a ultrapassar barreiras, resolver problemas e
para manter o nível de compromisso elevado na organização), e escolher ações de curto prazo (ter
vitórias de curto prazo reforça a dinâmica da mudança em curso). Finalmente, destacava a importância de estabelecer prioridades (o que é prioritário
fazer para o progresso da integração).
“A aplicação de melhorias
imediatas reforça a dinâmica da mudança, visto que isso demonstra o compromisso
da administração. Também ajuda a fortalecer o apoio dos funcionários
envolvidos, que podem ver as medidas sugeridas por eles sendo colocadas em
prática, com efeito imediato. Somente essas mudanças normalmente recuperam uma
grande parte do investimento realizado na mudança” (GROUARD e MESTON, 2001).
Durante o workshop de iniciação,
os consultores externos elogiaram o relatório com o resumo das informações
iniciais e a EAP do projeto. Aquela EAP tinha sido um excelente ponto de
partida, mas deveria ser revista em função da necessidade de escolher as ações
que gerassem resultados no curto prazo. A EAP final, que será validada pela
alta direção da empresa, precisa levar todos esses aspectos em consideração.
Não é, obviamente, a versão inicial de EAP preparada pelo gerente de projetos,
talvez grande demais, e nem pode ser algo simplório e incompleto. O que vamos
fazer é deixar essa decisão para o estudante de gerenciamento de projetos que
nos acompanhou com tanto interesse até aqui!
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Referências Bibliográficas:
GROUARD, B. e MESTON, F. “Empresa
em movimento: conheça os fundamentos e técnicas da gestão de mudança”. São
Paulo: Negócio Editora, 2001.
PMI - Project Management
Institute. “Um guia de conhecimento em gerenciamento de projetos (guia PMBOK) –
Quinta Edição. Newtown Square – Pennsylvania – USA: 2013.
ROBBINS, S. “Comportamento
organizacional”. 11ª. edição. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
XAVIER, C. M. da S. “Gerenciamento
de projetos: como definir e controlar o escopo do projeto”. São Paulo: Saraiva,
2005.
Maravilha professor. Após a leitura das três partes, posso afirmar que esse texto como exemplo de projeto de integração é sem dúvidas uma excelente contribuição. Possibilitou uma visão rápida e objetiva do trabalho a ser executado num projeto dessa natureza. Obrigado!
ResponderExcluirOlá Caco,
ResponderExcluirEssa era a minha intenção.
Que bom que o texto foi útil para você.
Saudações,
Prof. Haroldo Simões
ola professor o senhor tem email?
ResponderExcluirOlá Diogo,
ExcluirEnvie a sua mensagem para mim em h12sblog@gmail.com
Saudações,
Prof. Haroldo Simões