Seria possível mudar facilmente a
estrutura organizacional de uma empresa? A primeira vista, não me parece algo
fácil de fazer, mesmo sabendo que as empresas precisam mudar para reagir e
sobreviver às mudanças no ambiente de negócios.
A estrutura organizacional,
segundo o PMBOK (4ª. edição) é um fator ambiental da empresa que pode afetar a
disponibilidade dos recursos e influenciar a maneira como os projetos são
conduzidos. As estruturas organizacionais variam de funcionais a projetizadas,
com diversas estruturas matriciais entre elas, como a matricial fraca, a
matricial balanceada e a matricial forte. Dependendo do tipo de estrutura
organizacional, a vida do gerente de projetos poderá ser mais ou menos difícil (pois nunca é fácil).
Na estrutura matricial forte, a autoridade do gerente de projetos e a
disponibilidade de recursos variam entre moderada e alta. Por sua vez, na
estrutura projetizada, a autoridade do gerente de projetos e a disponibilidade
de recursos variam entre alta e quase total. Já na estrutura funcional, a
autoridade do gerente de projetos e a disponibilidade de recursos variam entre
pouca ou nenhuma. Podemos, portanto, concluir que a vida de um gerente de
projetos numa organização com estrutura funcional é bastante, para dizer o mínimo,
desafiadora. Então, porque as organizações não mudam suas estruturas,
facilitando assim a vida do gerente de projetos?
Bem, em primeiro lugar as
estruturas organizacionais não são criadas pelas organizações para satisfazer
os projetos, mas sim as suas operações. Em outras palavras, uma estrutura
organizacional é a concepção formal de hierarquias gerenciais dentro de uma
organização, estabelecendo relações de subordinação e dos fluxos de informação.
Constitui a base sobre a qual as políticas operacionais são formadas e
desempenha um papel importante na formação da cultura organizacional. Quando a
estrutura organizacional é estabelecida de forma adequada, ela propicia:
·
Identificação das tarefas necessárias;
·
Organização das funções e das responsabilidades;
·
Informações, recursos e feedback aos colaboradores;
·
Medidas de desempenho compatíveis com os
objetivos;
·
Condições motivadoras
Devemos considerar também que além
da estrutura organizacional formal, uma organização funciona através sua
estrutura informal, formada pela rede de relações sociais e pessoais que não é
estabelecida ou requerida pela estrutura formal. Essa estrutura informal
focaliza as pessoas e suas relações. Já a estrutura formal focaliza autoridades
e responsabilidades.
Do ponto de vista da alta direção
da empresa, a estrutura informal é um entrave que regularmente oferece
resistência às ordens formais, ou as altera ou ainda as cumpre por um
procedimento diferente do desejado. Independentemente de ser útil ou
prejudicial, a primeira característica da estrutura informal é não poder ser extinta,
uma vez que sempre existirão pessoas se relacionando, de uma forma ou de outra,
na empresa. Isso explica, em certa medida, como é difícil mudar estruturas
organizacionais.
Toda essa discussão me lembrou um
recente artigo de Jerônimo Mendes - postado no website ADMINISTRADORES.COM - que
descreve as dificuldades de mudança nas empresas familiares.
“Na medida em que as empresas
crescem, favorecidas pelo espírito empreendedor dos fundadores ou pelo
desenvolvimento econômico do país, o número de herdeiros tende a crescer bem
mais do que os números da empresa. Com isso, o nível de conflitos gerados por
inveja, desconfianças ou mesmo insegurança daqueles que vão surgindo ao longo
da história, aumenta na mesma proporção”.
O autor do livro “Manual do
Empreendedor – como construir um empreendimento de sucesso”, publicado pela
editora Atlas, complementa sua posição com a seguinte afirmação:
“No caminho, existe ainda a
questão dos agregados de toda ordem, além dos filhos. São os cunhados, noras,
genros, netos e os próprios empregados mais próximos que, embora não tenham
participado do nascimento e tampouco do desenvolvimento da empresa, acabam
opinando e influenciando os familiares com um pouco mais de lenha na fogueira. Em
determinado momento, o instinto de sobrevivência, influenciado pelo gene
egoísta do ser humano, fala mais alto que a racionalidade necessária para
manter o negócio nos trilhos, possível de ser administrado”. (Para ler o texto completo acesse >)
Contudo, apesar das dificuldades,
as organizações para serem competitivas e lucrativas, precisam estar atentas ao
seu ambiente interno e externo. A adaptação às mudanças no ambiente de negócios
– que poderão incluir mudanças nos processos organizacionais, na estrutura
organizacional, novas tecnologias e novos modelos de negócio - será primordial
para a sobrevivência da organização. A rapidez com que as mudanças ocorrem, a
dificuldade de se ter uma previsão do futuro e a história da empresa são
fatores que dificultam a adaptação organizacional. As possibilidades e as
limitações das mudanças em qualquer organização são influenciadas pela
história, pelas atitudes, pelos relacionamentos entre os grupos de interesse e
pela mobilização para a mudança dentro de sua estrutura de poder.
Por tudo isso, quando se trabalha
num projeto de mudança organizacional há que se levar em conta vários fatores
como, por exemplo:
·
Envolver os funcionários de todos os níveis;
·
Comunicar o progresso da mudança para toda a
organização de forma regular;
·
Liderar pelo exemplo a mudança, mobilizando os
gestores de nível superior para fazer o mesmo;
·
Trabalhar com um departamento de cada vez. Fazer
as alterações posteriores rapidamente para mover o processo adiante e minimizar
o impacto da mudança de curto prazo sobre a produtividade geral;
·
Consultar o departamento jurídico antes de
realizar qualquer demissão exigida por conta da mudança na estrutura
organizacional;
·
Certificar-se que a empresa está completamente
dentro da lei em termos de comunicação, notificação e de compensação durante o
processo de demissão;
·
Tentar encontrar novas posições para os
funcionários em cargos eliminados antes de demiti-los.
Tendo isso em mente, podemos
afirmar que, por um lado, as organizações são o que são e não é fácil mudá-las.
Por outro lado, as organizações precisam mudar por razões de sobrevivência e
adaptação ao ambiente de negócios, para que se tornem competitivas. Todavia, tais
mudanças não acontecem rapidamente, pois demandam um grande esforço da
organização, sendo necessário comprometimento de seus principais gestores.
E qual seria a melhor abordagem
para um gerente de projetos que está trabalhando em uma organização com
estrutura funcional? Já sabemos que o gerente de projetos não poderá, simplesmente,
propor uma mudança na estrutura organizacional, pois será considerado uma pessoa ingênua. Mas antes de responder a essa
pergunta, seria interessante questionar ainda o seguinte: As estruturas
funcionais não seriam somente para as organizações antigas, arcaicas e fora de
moda? Algo que, no nosso mundo moderno, não existe mais? Não, isso não é
verdade. Em meu post “Uma Nova Cultura em Processos e Projetos”, publicado em 21
de maio de 2013, é possível encontrar um resumo de uma pesquisa conduzida pela
empresa KPMG sobre as empresas brasileiras. Leiam atentamente o seguinte
trecho: “Um dos principais resultados da
pesquisa mostra que apenas 14% das empresas pesquisadas adotam a gestão por
processos e 29% optam pela gestão matricial. A maioria (57%) tem uma gestão
funcional, gerenciando seus processos de forma transversal. Isso pode
dificultar que as companhias tenham uma visão do processo do começo ao fim,
assim como prejudica a definição de responsabilidades. Neste tipo de estrutura,
o foco está nos recursos e na cadeia de comando e não no relacionamento
primário cliente-fornecedor”. (Para ler na íntegra esse post acesse > )
Portanto, segundo dados recentes,
57% da empresas brasileiras adotam a gestão funcional!
Dessa forma, voltamos a seguinte
pergunta: Qual seria a melhor abordagem para um gerente de projetos que está
trabalhando em uma organização com estrutura funcional? Aqui, vale lembrar que a autoridade formal está
nas mãos do gerente funcional, que possui os recursos da organização na sua
área de atuação. O gerente funcional trabalha com as pessoas do seu
departamento, portanto de forma vertical.
Então, o gerente de projetos
precisa saber explorar o pouco espaço que lhe resta. Afinal de contas, mesmo
sem a autoridade formal, o gerente de projetos precisa levar o projeto adiante,
aplicando conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do
projeto. Para que isso seja possível, será necessário criar um alinhamento com
os gerentes funcionais – abrindo uma oportunidade de trabalho colaborativo -
para adequar a alocação de recursos às atividades do projeto.
Lembrando que o desafio é ainda maior uma vez
que a atuação do gerente de projetos acontece de forma horizontal, trabalhando
com equipes compostas por colaboradores de diferentes áreas e departamentos da
organização (que se reportam a diferentes gerentes funcionais) e, muitas vezes,
pessoal de empresas terceiras.
Caberá ao gerente de projetos:
coordenar as atividades do projeto, estar na linha de frente no contato com o cliente,
acompanhando o cronograma, o orçamento, as entregas parciais e totais, os marcos,
os riscos e a qualidade, além de preparar os relatórios de andamento em todas
as etapas do projeto.
Caberá ao gerente funcional: alocar
seu pessoal, ser responsável pelo treinamento de seus funcionários e pela
qualidade técnica do trabalho executado.
O gerente de projetos não deve se
colocar numa posição de invasor, respeitando os limites de seu papel, evitando tratar
os gerentes funcionais como meros fornecedores de recursos para os seus
projetos.
Boa noite professor Aroldo.
ResponderExcluirVocê tem uma sugestão de EAP para um projeto de reestruturação organizacional de uma indústria?
Grato,
Giovanni