Todo mundo sabe que planejar é absolutamente essencial em qualquer projeto. Isso não é novidade e pode ser encontrado em qualquer livro sobre gerenciamento de projetos. Mas porque ainda temos que fazer barulho sobre esse tema, batendo tanto nessa mesma tecla? A resposta é que, infelizmente, nem todo mundo realmente planeja. Muitos gerentes ainda preferem ir levando, e costumam dizer “pra que perder tempo com planejamento se podemos ir direto para a ação”. A experiência mostra que um projeto sem planejamento tem grande chance de fracassar. Em projetos é preciso se comprometer, e isso demanda firmeza de atitudes por parte do gestor. Um gestor comprometido é capaz de assumir responsabilidades, sendo uma delas o planejamento.
Um exemplo da importância do planejamento pode ser encontrado na aventura do velejador Amyr Klink, que depois de atravessar o Atlântico em 100 dias em um barco a remo, decidiu lançar-se um novo projeto: passar um ano inteiro na Antártica. A viagem começou no final de 1989 e durou 22 meses. Apenas Amyr e seu veleiro, o PARATII, navegando por mais de 50 mil quilômetros. Um projeto de extrema dificuldade, um enorme desafio, que por isso teve que ser cuidadosamente planejado. Além do roteiro de viagem, o planejamento incluiu também a construção do PARATII, com todos os detalhes possíveis e imagináveis, que o fariam capaz de suportar a agruras da jornada e manter vivo seu comandante. Cada parte do veleiro - motor, velas, sala de máquinas, instrumentos, radio, GPS, o leme, a cozinha e o banheiro, enfim cada detalhe, tudo mesmo - foi exaustivamente planejado.
Amyr Klink relatou sua aventura em 1992, no livro de saborosa leitura que recebeu o título “Paratii: entre dois pólos”. O livro traz muitas lições de vida, como na ocasião que o Paratii, ao atravessar a baia Dorian, acabou chocando-se com placas de gelo que estavam por toda a parte, e o som daqueles choques foi chamado por Amir de “concerto”. O trecho seguinte conta um pouco desse episódio: “Passei, durante esse longo concerto, minutos intermináveis, suando frio, desejando terrivelmente estar horas ou dias à frente para escapar da tortura da espera, da angústia de não saber quanto tempo, da tensão de ter de agüentar até passar. Mas não há meio. Talvez seja exatamente este o verdadeiro prazer de se atravessar tempestades. Só se alcança o bom tempo passando por todos os segundos que vêm antes. Não há como cortar caminho. Só veria o sol outra vez quando passasse por todos os dias do inverno, sem pular nenhum. E não há como dar saltos. Só retornaria a Paraty percorrendo cada um dos graus de latitude, cada milha do caminho até lá”.
Em uma de suas famosas frases, Amyr Klink declara que “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu”. E eu gostaria de acrescentar que se a viagem é longa e complicada, e esse homem deseja realmente voltar para casa ao final da jornada, ele precisa planejar muito bem sua viagem.
Amyr Klink nasceu na cidade de São Paulo, a 25 de setembro de 1955. É formado em economia. Navega desde criança e participou de inúmeras regatas e travessias. Também é autor de Cem dias entre céu e mar (1985), As janelas do Paratii (1993) e Mar sem fim (2000).
Site oficial: http://www.amyrklink.com.br/
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