terça-feira, 2 de março de 2021

A História do Nó Górdio e da Espada de Alexandre

 

Em 333 AC, enquanto Alexandre (O Grande) liderava seus exércitos pela Ásia, ele alcançou a cidade de Gordian, na Frígia. Lá, lhe mostraram a carruagem do antigo fundador da cidade, com seu mastro amarrado a equipagem por meio de um nó intrincado. Segundo a tradição, esse nó deveria ser desatado apenas pelo futuro conquistador da Ásia. Muitos tentaram e todos falharam ...

 



Diz a lenda que Alexandre olhou para o nó, desembanhou a espada e cortou o nó com um único golpe. Pouco depois, sob seu governo, a Ásia foi unida pela primeira vez. Moral da história: às vezes é melhor não ficar muito preso a um problema. Busque uma solução ousada!

Para desatar o nó de um projeto muitas coisas são necessárias. Tais coisas são, por natureza, inter-relacionadas. Todas essas coisas juntas formam uma espécie de “espada de Alexandre” que precisa ser usada com ousadia, mas também com sabedoria.

Para ser ousado é preciso ter confiança e estar emponderado. No projeto, o emponderamento significa proporcionar autonomia e, ao mesmo tempo, determinar os limites que o gerente de projetos terá sobre os recursos, o cronograma e a coordenação do projeto.

Para ser ousado é preciso estar preparado para correr riscos. Toda oportunidade tem um risco implícito. Da mesma forma que todo risco tem uma oportunidade implícita. Gerenciar os riscos é vital para conseguir uma execução do projeto bem sucedida.

Mas, olhando um pouco mais adiante, sabemos que correr riscos sem ter um plano é como voar as cegas. Os projetos gerenciados de forma tradicional são baseados em planos detalhados que incluem o escopo, o cronograma, o orçamento, os recursos, a qualidade, as compras, a comunicação, as partes interessadas, os riscos e a integração de tudo isso. No plano de riscos, é feita a identificação, a análise qualitativa e quantitativa, e a definição de ações de tratamento dos riscos. Por sua vez, em projetos em que prevalecem abordagens ágeis, os planos também existem, mas são de curto prazo, geralmente do tamanho das rodadas de trabalho de algumas semanas, chamadas de sprints ou iterações, dependendo o método ágil utilizado. Trabalhar em rodadas de trabalho mais curtas é um fator que também reduz os riscos. De uma forma ou de outra, os projetos precisam de gente ousada, que pise firme, trabalhando calçadas em planos, e capazes de criar soluções inovadoras. Um projeto não necessita de cegos que não enxergam o caminho, de mudos que não sabem se comunicar e de surdos que não ouvem o cliente. 

E aí entra uma grande qualidade de saber aproveitar o tempo precioso com o cliente. Isso significa estar envolvido, sabendo ouvir e se comunicar. O envolvimento do cliente no projeto facilita a tarefa de obter informações, conhecer necessidades, preferências e expectativas. Afinal de contas, tudo gira em torno do cliente.

Deve-se considerar também que muitas vezes os clientes tem dificuldade para dizer exatamente o que desejam e até mesmo saber exatamente o que precisam. Então, o escopo de um projeto que parece muito bem definido no início pode, a qualquer momento, precisar seguir um rumo diferente. Em um projeto os clientes podem fazer solicitações de mudança, assim como outras partes interessadas podem também solicitar mudanças. Quanto mais longo é um cronograma (de vários meses, por exemplo), maior será a probabilidade de alguém descobrir que não era bem isso que ele (ou ela) queria e, em consequência, uma mudança ser solicitada. Mudanças têm impactos no cronograma, nos custos, na qualidade e afetam os planos com maior ou menor intensidade. Se as mudanças forem muitas e forem grandes, poderão matar um projeto.  Os projetos tradicionais (que costumam ser longos) sofrem com esse problema e essa é a principal razão dos cuidados tomados para que se faça um levantamento de requisitos bastante detalhado e se leve a sério as lições aprendidas em projetos anteriores. Mesmo assim, as mudanças de escopo costumam ser a principal razão de fracasso de um projeto tradicional.

Por sua vez, nos projetos ágeis as rodadas de trabalho mais curtas são adequadas para a execução de partes menores de um projeto, escolhidas – com a participação do cliente - do ponto de vista do que é mais prioritário a agrega mais valor para esse mesmo cliente. O projeto completo será concluído após a execução de certo número de rodadas de trabalho, que acontecem uma após a outra. O risco de errar em uma rodada é menor. Se houver erro, o custo do erro em uma rodada será igualmente menor. Mesmo assim, há situações em que mudanças são solicitadas e necessitam ser analisadas quanto ao seu impacto no projeto. Se uma mudança causa um impacto grande o suficiente que afete de forma negativa a rodada que foi planejada, essa mudança poderá ser levada para uma próxima rodada de trabalho.  

Por tudo isso, seja em um método tradicional de gerenciamento de projetos ou em um método ágil, é evidente que o gerenciamento das mudanças no projeto é muito importante. A sabedoria adquirida com a experiência nos mostra que apesar do planejamento, mudanças geralmente ocorrem durante a execução do projeto, sendo necessário analisar, de todas as formas possíveis, os impactos dessas mudanças no projeto, antes de aceitá-las.

Outro ponto que a experiência nos ensina é que o suporte da alta direção da empresa é vital para que tudo funcione bem nos projetos. É a alta direção que disponibilizará os recursos necessários para o projeto, que exigirá que esses recursos sejam usados com eficiência e eficácia e, sem a menor sombra de dúvida, que cobrará os resultados esperados para o projeto.

Conseguir todas as coisas de que se precisa para formar a tal “espada de Alexandre” pode ser bastante difícil. Isso, como tudo na vida, mostra algo que é ruim e bom ao mesmo tempo. Mas, será que a espada de Alexandre teria feito tudo sem a ação daquele que a usava? Se fosse fácil, qualquer um conseguiria. Bem, é isso aí, até a próxima.

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