Especialista fala sobre como a
inteligência emocional ajuda a fazer amigos e influenciar pessoas na carreira
profissional.
Em 1937, o livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas chegava às livrarias americanas numa tiragem de 5
mil exemplares que logo se revelou surpreendentemente modesta. A obra compilava
os ensinamentos de Dale Carnegie aos alunos de seu curso de comunicação para
adultos em Nova York – dicas simples, mas fundamentais, como sorrir, falar o
nome das pessoas (“o som mais doce e importante” para qualquer um), ou sempre
começar uma consideração com um elogio sincero. Hoje, com dezenas de milhões de
cópias vendidas e traduzido para quase 40 idiomas, tornou-se uma “bíblia”.
A esse cânone do bom relacionamento veio se somar,
em 1995, o livro Inteligência
Emocional, do psicólogo Daniel Goleman, que
também alcançou escala planetária. De certa forma são obras complementares:
enquanto Carnegie foca principalmente no poder da empatia, Goleman traz o
elemento não menos importante do autoconhecimento. Na soma de ambos, reside a
chave capaz de abrir portas – e de influenciar pessoas – no trabalho e na vida
pessoal.
O consultor e palestrante Eduardo Ribeiro, é especialista em relacionamentos em grande parte
por utilizar os conceitos propostos por Carnegie e Goleman. Ele explica que
exercitar a inteligência emocional não significa atingir um estado de nirvana
em que nada o desagrada, e sim reagir de maneira mais inteligente até às
situações mais desagradáveis. “Entre o que acontece comigo e a minha reação ao
que acontece comigo, há um espaço de tempo. Nesse espaço está a minha
oportunidade de escolher as minhas respostas e definir o meu destino”, explica
o professor.
“Antes de Goleman, sabe como se chamava isso? Maturidade”, diz, bem-humorado.
“Goleman apenas encontrou processos de acelerarmos nossa maturidade, que é a
inteligência emocional.” Processos que Ribeiro ensina com detalhes no seu
curso, e dos quais fala um pouco nesta entrevista.
1. Você não consegue mudar a sua
personalidade. E nem precisa.
“Imagine a estrutura de um prédio, com pilares e
vigas... Você não pode mudar uma viga de lugar, desfazer a fundação. Isso é a
sua personalidade. Mas você pode pintar a fachada de uma cor diferente, ou
cobrir de azulejo. Isso é o que as pessoas vêem, o seu comportamento. Para ser
inteligente emocionalmente, você precisa ter consciência de sua personalidade.
Você é um cara estourado? Sabe que alguma coisa lhe incomoda e que sua reação
natural seria responder com uma grosseria? Então, você se reprograma. Não deixa
de sentir, o que é impossível, mas reage diferente. Por exemplo, você usa uma
frase amortecedora: ‘Entendo que possa pensar dessa forma, mas...’ ou ‘Eu
também me sentia assim, mas...’. Ou então conta até 10.”
2. Sim, contar até 10 funciona. E tem
explicação científica.
“Todo ditado popular tem um fundo de sabedoria.
Neste caso, contar até 10 numa situação difícil funciona por duas razões.
Primeiro, óbvio, porque leva tempo. Se inteligência emocional é saber
aproveitar o espaço de tempo entre o que acontece comigo e a minha reação, para
então decidir como reagir, esse tempo de contar é valioso. Segundo, porque quem
conta é o lado esquerdo do cérebro, que é o lado racional. Quando você conta
até 10, você estimula o cérebro a reagir racionalmente, e não emocionalmente.”
3. Até as profissões mais técnicas
exigem que você saiba se relacionar.
“Dale Carnegie dizia que 85% do sucesso
profissional vem de competências de relacionamentos e 15% de competências
técnicas. A proporção pode variar, dependendo da atividade. A competência
técnica de um cirurgião cardíaco certamente é muito importante. Mas mesmo esse
cirurgião precisa se relacionar bem com o hospital, o cliente, o plano de
saúde, a secretária, o anestesista... Ou então imagine um cientista, que
trabalha em frente ao microscópio: como ele consegue um microscópio melhor?
Amostras? Os recursos para uma viagem ao exterior? Ele precisa se relacionar e
influenciar pessoas até para desenvolver sua técnica. Além disso, é bom lembrar
que muitas pessoas são contratadas por habilidades técnicas, mas demitidas por
comportamento.”
4. Networking não é questão de quantidade, exige
trabalho.
“Você tem de manter seu network vivo e alimentado. Não adianta ter uma lista de
nomes para quem pedir ajuda ou um contato profissional quando necessário, que
você termina excluído. É preciso administrar seus relacionamentos, conhecer as
pessoas, saber do que elas gostam. É as pessoas receberem de você sem terem
pedido ajuda: ‘Olha, vi uma matéria que pode te interessar, copiei num DVD,
você vai gostar...’ Assim, você está semeando no outro a vontade de estar junto
e de lhe ajudar. Isso é influência.”
5. Influenciar com mentiras é
manipular, mas há verdades que não precisam ser ditas.
“Influência é quando nós conversamos sobre algo, e
eu sou transparente com você e acho sinceramente que nós dois temos ganhar com
a minha visão, e você se convence. Manipulação é eu usar de mentira ou
distorcer a verdade, de má fé, para meu ganho próprio. É importante que eu seja
sincero, mas isso não significa ser franco. Sinceridade é falar a verdade,
franqueza é falar toda
a verdade. Por exemplo, se você está bem
gordo, mas é um cara bonito, eu estarei sendo sincero se disser que você é
bonito. Se eu também disser que você é gordo, estarei sendo franco. Mas não
preciso ser.”
6. Não trate os outros como
gostaria de ser tratado. Você pode fazer melhor.
“Esse é um dos erros mais comuns, em termos de
relacionamento e inteligência emocional. Imagine que você é líder de vários
funcionários, com diversos perfis psicológicos. Se você tratar a todos como
gostaria de ser tratado, não vai tratá-los como eles gostariam de ser tratados. Tem gente que você precisa bater na mesa, falar
forte, desafiar, e eles dirão: ‘Pode deixar comigo, vou te provar que consigo’.
Já outros vão para o banheiro chorar, ou pedem demissão. Trate o outro como ele
gostaria de ser tratado: para isso, você precisa se relacionar, se interessar
por ele, conhecê-lo, ouvi-lo, diagnosticar o seu mundo.”
Eduardo
Ribeiro Consultor e palestrante
Especialista em Relacionamentos