quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Receita de Ano Novo de Drummond


“Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo

até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre”.


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sobre os Gastos Diretos e Indiretos

No post anterior (“Classificação de Custos e Despesas”) foram revistos os conceitos de gastos, custos e despesas, cuja apuração contábil é necessária, tanto nas operações rotineiras do dia-a-dia, quanto nos projetos executados pela empresa.  Vimos que a melhor maneira de saber se um gasto deve ser classificado como um custo ou uma despesa é perguntar para que/como esse gasto será usado. Para fixar os conceitos estudados, foi apresentado um quadro com exemplos de classificação de gastos (em custos ou despesas).
A classificação de gastos (em custos e despesas) possui um segundo complicador que se refere a identificar se esses gastos são diretos ou indiretos. Esse será, exatamente, o objeto do presente post.

Para saber se um gasto é direto ou indireto é necessário, em primeiro lugar, conhecer o conceito de rateio. Para simplificar a apresentação desse conceito, vamos supor que uma empresa possua duas linhas de produção para fabricar os produtos A e B. Atuando como um supervisor da produção, a empresa conta com um funcionário experiente e treinado, que coordena o pessoal do chão de fábrica, que são os operadores das máquinas nas linhas de produção existentes. Esse pessoal (= os operadores) é mão de obra direta e o valor de seus salários mais encargos são classificados como custos diretos. Os 100% dos salários mais encargos dos operários que trabalham na linha de produção A farão parte unicamente dos custos do produto A. Por sua vez, os 100% dos salários mais encargos dos operários que trabalham na linha de produção B farão parte unicamente dos custos do produto B.

Podemos afirmar que o gasto direto oferece a oportunidade de alocação direta ao produto ou serviço que está sendo produzido.

No nosso exemplo, a soma dos salários mais encargos sociais do supervisor da produção totaliza R$4.600,00. A empresa fabrica regularmente, a cada mês, 200 produtos A e 600 produtos B. Os produtos A são mais complexos e demoram 3 vezes mais tempo para serem produzidos do que os produtos B. Mesmo assim, o supervisor da fábrica dedica 50% de seu tempo para cada linha de produção.

O que precisamos saber é o valor que deve ser considerado na composição de custos unitários mensais dos produtos A e B referente ao supervisor da fábrica? Certamente, o salário mais os encargos sociais do supervisor da fábrica devem ser classificados como um custo (e não uma despesa), pois o supervisor trabalha na produção dos produtos. Entretanto, ele não é como os operadores das linhas de produção, que são mão de obra direta. Para o supervisor do nosso exemplo, metade do valor deve ser alocado para o produto A e metade para produto B, pois o supervisor dedica metade das horas trabalhadas por ele na empresa, em um período de um mês, na produção de cada linha. O custo mensal unitário referente ao supervisor para o produto A será igual a ($4.600 ÷ 2) / 200, ou $11,5 (onze reais e cinquenta centavos). Por sua vez, o custo mensal unitário referente ao supervisor para o produto B será igual a ($4.600 ÷ 2) / 600, ou $3,833 (três reais e oitocentos e trinta e três centavos).

O que mostramos no exemplo acima foi uma forma de rateio do valor total do salário mais encargos do supervisor da fábrica, entre os produtos fabricados na empresa, com a finalidade de calcular as parcelas de custo para cada item produzido. Para isso foi escolhido o critério de rateio do “total de horas trabalhadas em cada linha de produção” ( que no nosso exemplo foi de 50% do tempo para cada linha). O critério de rateio distribui um valor total conhecido em partes proporcionais, conforme fica estabelecido no mesmo.

Se o critério de rateio fosse diferente, teríamos outros valores na distribuição dos custos. Assim sendo, vamos supor que o diretor industrial conseguiu identificar que o supervisor da fábrica trabalha 60% do seu tempo na linha de produção B e, em consequência, somente 40% do tempo na linha de produção A. Se, com base nessa descoberta, ele decidisse mudar o critério de rateio, como seria o cálculo da distribuição de custos referente ao salário mais encargos do supervisor?

Para o produto A: ($4.600 x 40/100) / 200 = $9,20
Para o produto B: ($4.600 x 60/100) / 600 =  $4,60

Podemos afirmar que o gasto indireto não oferece a oportunidade de alocação direta ao produto ou serviço que está sendo produzido. Sendo assim, é necessário fazer o rateio! Embora sejam arbitrários – definidos pela direção da empresa, com suporte da área contábil – os critérios de rateio devem ser estabelecidos da forma mais coerente possível.
Vejamos agora um exemplo que pode ajudar a fixar melhor esses conceitos.

 
Como pode ser visto no exemplo acima, a maior parte das despesas é indireta, uma vez que precisam ser rateadas.
Se, por outro lado, tivéssemos previsto no planejamento do projeto que o diretor comercial e o diretor financeiro da empresa participariam de determinadas reuniões com o cliente/comprador, para apresentar a conclusão de entregas importantes, como poderíamos classificar esses gastos? Para que não haja dúvidas aqui, o que estamos dizendo é que essas apresentações seriam feitas, de fato, pelo gerente de projetos, mas esses diretores estariam presentes nas reuniões. Em primeiro lugar, esses gastos – com passagens aéreas, taxis, alimentação e diárias de hotel - seriam despesas, uma vez que a participação dos membros da diretoria não afetaria o andamento do projeto, muito menos teria impactos na execução das atividades do projeto, ou das decisões tomadas nessas reuniões. Além disso, seriam despesas diretas, pois o valor total as mesmas seria alocado no projeto, sem a necessidade de qualquer tipo de rateio.

Se um dos diretores, ou mesmo ambos, não pudesse comparecer, nada de pratico mudaria, pois afinal, o gerente de projetos teria toda a informação necessária para representar a empresa executora nessas reuniões.  A participação dos diretores, funciona como uma mensagem do tipo “eu valorizo você como meu cliente”, tendo o objetivo de mostrar que a empresa executora do projeto (fornecedor) dá a devida importância ao cliente/comprador e, por conta disso, faz questão de que seu pessoal mais graduado esteja envolvido no projeto.
A necessidade das empresas de classificar os gastos em custos e despesas (diretas e indiretas) está ligada a uma obrigação legal de apresentação de seus resultados, feito através da DRE (Declaração de Resultados do Exercício). O objetivo da DRE é fornecer aos usuários das demonstrações financeiras da empresa os dados básicos e essenciais da formação do resultado do exercício (lucro ou prejuízo).

domingo, 1 de dezembro de 2013

Classificação de Custos e Despesas

Como vimos no post anterior (“Sobre o Gerenciamento de Custos do Projeto”), os processos do gerenciamento de custos incluem planejar o gerenciamento de custos, estimar os custos, determinar o orçamento e controlar os custos (PMI, 2013). Nesse post vamos discutir alguns aspectos da chamada contabilidade de custos. 
Todas as empresas necessitam adotar um sistema de contabilidade de custos por razões legais e gerenciais e isso abrange as operações rotineiras do dia-a-dia e os projetos.  Por essa razão as empresas usam os contadores – profissionais independentes ou empresas de contabilidade - para fazer a sua escrituração contábil.
O nome contabilidade de custos, num primeiro momento, confunde um pouco os estudantes. E então surge a seguinte pergunta: - Por que não se chama contabilidade de gastos, já que os gastos tem um significado mais amplo e geral, como veremos a seguir? Bem, eu não sei dizer, mas as coisas são como são! Afinal de contas, se pensarmos apenas na língua portuguesa, os termos despesa, custo e gasto são, praticamente, a mesma coisa. Entretanto, em contabilidade, cada uma dessas designações tem um significado único e bastante específico. O que vamos fazer agora é explicar o que cada designação significa e dar alguns exemplos para fixar esses conceitos.

Em primeiro lugar temos os gastos que são, basicamente, compostos de custos e de despesas. Os gastos, segundo Mota (2002), são os sacrifícios financeiros que a empresa faz para adquirir bens ou serviços que ela necessita. Nesse momento a empresa está comprando alguma coisa e faz isso por um motivo. Ela usa esse bem ou serviço para – ela mesma – produzir alguma coisa, movimentando assim os seus processos produtivos. Também estamos usando a expressão processo produtivo de forma ampla, podendo ser um processo que produza bens (produtos) ou serviços. Portanto, reforçando essa ideia, estamos falando em sentido amplo e geral, que se aplica para uma fábrica comprando componentes usados na produção de seus produtos, uma loja contratando um gerente ou um banco comprando um projeto de uma nova agência. Para obter matérias primas (caso da fábrica), mão de obra (caso da loja) ou serviços (caso da agência bancária), é necessário pagar ou, em outras palavras, fazer um sacrifício financeiro.  Portanto, custos e despesas são gastos. Mas, como diferenciar um custo de uma despesa?

Custo – um gasto que se destina a produção de um bem ou serviço;
Despesa – um gasto que se destina à outra atividade, diferente da produção de um bem ou serviço.

Por definição, “um projeto é um esforço temporário, progressivamente elaborado, para produzir um produto ou serviço único” (PMI, 2008). Assim sendo, como um projeto é algo que produz alguma coisa, mesmo que seja um único item (produto ou serviço), se aplicam as definições acima da mesma forma.
O conceito chave aqui não é identificar exatamente o que se está comprando, mas sim identificar a destinação do uso daquilo que se está comprando. Assim, para identificar se alguma coisa deve ser classificada como um custo ou uma despesa, devemos perguntar: - Para que isso serve? Onde isso será usado? Se for usado no projeto, para a produção do produto ou serviço a que o projeto se destina, será classificado como um custo. Caso contrário, será classificado como uma despesa.
Vejamos agora um exemplo que pode ajudar a fixar melhor esses conceitos.

Portanto, a melhor maneira de saber se um gasto deve ser classificado como um custo ou uma despesa é perguntar para que/como esse gasto será usado.
A classificação de gastos, em custos e despesas, possui um segundo complicador que se refere a identificar se esses gastos são diretos ou indiretos. Esse será exatamente o objeto de nosso próximo post.
 
Referências Bibliográficas:
Mota, A. G. da. “Noções de Contabilidade de Custos”. Cacoal: UNESC, 2002.
Este texto pode ser obtido gratuitamente em www.ResumosConcursos.hpg.com.br

PMI, Project Management Institute. “PMBOK Guide - Project Management Body of Knowledge Guide – 4th Edition". Newton Square: PMI, 2008.