segunda-feira, 6 de julho de 2015

Sobre a Resistência à Mudança, o Rio de Heráclitus e a Caverna de Platão

Nenhum analista de mercado trabalha com cenários estáveis, previsíveis e controláveis. Surgem novas tecnologias, novos produtos que substituem os antigos, novos processos, novas ideias e, enfim, novas formas de fazer as coisas. Um mercado que ano passado era agressivo e grande comprador pode tornar-se, esse ano, mais tímido, comprando bem menos. Isso não é nenhuma novidade. Por conta disso, as organizações precisam se manter em movimento, fazendo os ajustes necessários e as mudanças fundamentais para sua sobrevivência. Sim, essa é, basicamente, a realidade em que vivemos nos dias de hoje. A questão é que mudar não é assim tão fácil e requer das organizações flexibilidade e agilidade. Portanto, o sucesso de uma organização depende de como ela reage a essa necessidade. Se existe lentidão, a mudança não é feita no tempo certo, e os resultados não são alcançados.
O filósofo grego Heráclitus (535ac – 475ac) observou que “não se pode pisar duas vezes o mesmo rio, já que as águas continuam constantemente rolando”. Portanto, há quase 2400 anos já se percebia que o universo se encontra em contínua transformação. Mas, e daí? A questão é que embora o conceito da mudança seja aceito pela maioria das pessoas, fazer a mudança traz medo e insegurança. Em outras palavras, podemos afirmar que analisar a mudança dos outros é fácil, mas encarar e fazer a nossa própria mudança é outra conversa. Resumindo, podemos dizer que a maior parte das pessoas resiste à mudança mesmo tendo a compreensão de que ela acontece quer aceitemos ou não!
Um outro filósofo grego, o mestre Platão (428ac-348ac), nos deixou o seu mito da caverna que, resumidamente, coloca a seguinte situação:
Imagine que um grupo de pessoas vive no fundo de uma caverna. Eles e elas estão acorrentados e não podem olhar para o lado de fora. A única coisa que veem é uma enorme parede de dentro da caverna. Atrás deles há um muro alto, e por cima desse muro passam criaturas humanoides erguendo nas mãos diferentes figuras. Como há uma grande fogueira iluminando a caverna, tudo que as pessoas acorrentadas podem ver são as sombras dessas figuras refletidas na parede que está a sua frente. Eles estão lá desde que nasceram e acreditam piamente que aquelas sombras são tudo que existe.
Agora, imagine que um dos acorrentados consiga se libertar. Logo ele vai perceber de onde vêm aquelas sombras. Ele consegue escalar o muro, passar pelos humanóides e sair da caverna. Então ele descobre toda a beleza que jamais conseguira enxergar direito. Ele que só tinha visto sombras, pela primeira vez consegue distinguir cores e formas definidas. Ele pode ver os verdadeiros animais, plantas e tudo mais. Ele poderia simplesmente dar-se por satisfeito, experimentando o gosto da liberdade e aproveitando sua nova vida. Mas ele se compadece de todos os outros que ficaram para trás e decide regressar à caverna. Assim que retorna, tenta convencer os demais que as sombras na parede não passam de projeções malfeitas das coisas reais. Mas ninguém lhe dá o mínimo crédito. Eles apontam para a parede da caverna e dizem que o que estão vendo é o que existe, e ponto final. Por fim, golpeiam-no na cabeça e o matam.
Como no mito da caverna de Platão, a resistência à mudança aparece sob a forma de rejeição e hostilidade. Se materializa através de comportamentos defensivos – e até mesmo agressivos  - que se colocam em oposição à mudança que se deseja implementar. O medo de enfrentar a realidade do lado de fora da caverna e de mudar foi tão grande que as pessoas acabaram destruindo quem estava propondo a mudança. O mito da caverna de Platão exemplifica o caminho percorrido pelo homem para alcançar o conhecimento tendo, muitas vezes, que enfrentar grandes dificuldades e até mesmo a descrença de seus próprios semelhantes.
Inúmeros estudos mostram que as organizações precisam aprender a enfrentar esse fenômeno de resistência à mudança se quiserem ser bem sucedidas em seus programas de mudança. Caminhando nessa direção, vários trabalhos têm sido desenvolvidos no sentido de recomendar técnicas sobre como superar essa resistência. Bem, mas isso é assunto para outro post!

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