quarta-feira, 20 de junho de 2018

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terça-feira, 5 de junho de 2018

Economia Gig ou Acelerando na Direção da Robotização do Trabalho Humano


Desde que o mundo é mundo as transformações sociais, tecnológicas e econômicas afetam o mercado de trabalho e nos dias de hoje não é diferente. 



Estamos falando da economia Gig, o conceito da moda, que compreende o ambiente de trabalho marcado pelo trabalho temporário, sem vínculo empregatício. São os empregos sob demanda, os trabalhadores de aplicativos, sendo uma massa crescente de trabalhadores que têm essa modalidade de trabalho como seu emprego primário, ou como uma forma de complementar sua renda.

O avanço da tecnologia é um fator decisivo para o grande crescimento dessas relações de trabalho, que já respondem por 0,5% do produto interno bruto da economia americana. Os meios mais famosos que conhecemos são os aplicativos, como Uber, que contam com uma massa de mais de 500.000 motoristas nos EUA, mas já existem aplicativos dos mais variados desde atividades de reparos e manutenções caseiras, até aquelas mais especializadas como serviços de freelancers de tecnologia.

Um relatório do instituto inglês CIPD (Chartered Institute for Professional Development) de março de 2017 estima que existam 1,3 milhões de britânicos empregados na economia Gig.

No Brasil já existem vários movimentos na direção da economia Gig. É possível encontrar muita propaganda que trata essa modalidade de relação entre empregadores e empregados como uma “nova revolução no mercado de trabalho” ou um “novo mundo do trabalho” e já discute e detalha os “paradigmas que serão quebrados”. Segundo o IBGE o ano de 2017 se encerrou com 34,31 milhões de pessoas trabalhando por conta própria ou sem carteira, contra 33,32 milhões ocupados em vagas formais. Quantos desses podemos classificar como Gigs, até onde pude apurar, não há ainda informação disponível.

O fato é que usar trabalhadores sem vínculo empregatício reduz custos para as empresas. Se isso é bom e eficaz é uma outra conversa. Basta lembrar que muitas empresas seguem a ideia de que seus empregados são uma parte importante do negócio e sustentam que o vínculo com as pessoas (seus empregados que são centrais na sua estratégia) deve ser muito profundo, pois elas carregam o valor na relação com o cliente. Talvez nem todas as empresas pensem da mesma forma ou nem todos os empregados tenham esse status de serem centrais na estratégia e por isso os outros empregados, ou parte deles, possam trabalhar na modalidade Gig sem que isso afete a estratégia da organização. O que se verifica no mercado é que se uma empresa tem meios para reduzir custos, digo meios legais que não estejam fazendo a empresa descumprir as leis vigentes, ela usará esses meios.  
No Reino Unido, por exemplo, é possível contratar um empregado como “independente”. Isso significa que esse empregado não terá direito de receber o salário mínimo nacional, férias pagas, auxílio-doença e outros benefícios legais de um trabalhador regular. Por lá isso tem gerado muitos processos trabalhistas.

Seria o ambiente extremamente competitivo um indutor que faz as empresas buscarem condições de sobrevivência e crescimento esquecendo o bem estar das pessoas que nela trabalham? Será que o capitalismo está em crise e precisa de mudanças? Eu acredito que não é nada disso. Afinal de contas, o capitalismo vive e se reproduz em suas crises, saindo delas cada vez mais forte. Mas, por que motivo um indivíduo gostaria de trabalhar sem ter garantias legais e direitos? Parece que é evidente que a necessidade faz com que as pessoas aceitem as condições ditadas pelos empregadores.

Sobre as ações trabalhistas no Reino Unido podemos citar:
·         Em outubro de 2017 os motoristas da Uber ganharam o direito de serem classificados como trabalhadores ao invés de contratados independentes. A decisão de um tribunal trabalhista de Londres determinou que os motoristas do aplicativo deveriam ter direito a pagamento de férias, pausas pagas e o salário mínimo nacional. A Uber recorreu afirmando que estava agindo dentro da lei.
·         No final de 2017, um grupo de entregadores de alimentos que trabalhava para a Deliveroo disse que estava tomando medidas legais para obter reconhecimento sindical e direitos trabalhistas.
·         Em janeiro de 2018, um tribunal decidiu que uma mensageira da firma de logística City Sprint deveria ser classificada como operária e não como contratada independente, dando-lhe direitos básicos.

É evidente que existem questões trabalhistas diretamente relacionados com a economia Gig em vários países. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Uber perdeu uma ação em primeira instância na Califórnia para um de seus colaboradores pleiteando direitos trabalhistas, mas está recorrendo. Nessa mesma linha, um trabalhador da Amazon escreveu a Jeff Bezos, CEO da empresa, dizendo “Sou um ser humano, não um algoritmo”.

No meio de toda essa discussão novas tecnologias apontam para aplicações avançadas de inteligência artificial e os robôs substituindo o trabalho humano. Será que se a tradicional mão de obra humana fosse trocada por robôs teríamos todos esses processos trabalhistas? Parece que não! Os robôs não se cansam, não ficam doentes, não reclamariam por aumento de salários, férias e auxílio doença. Para os empregadores esse seria o melhor dos mundos! Para o resto de nós, bem isso nós veremos! É isso aí. Até a próxima.