Vamos começar trazendo para nossa reflexão, assim sem explicar muito pois
afinal são tópicos amplamente debatidos, as novas tecnologias, as necessidades
de negócios em constante mudança, as abordagens flexíveis de entrega e a
mudança para a economia de projeto.
Por que tudo isso? Porque tudo isso está
mudando o gerenciamento de projetos e
essas mudanças deverão se acelerar nos próximos anos. Aquele gerente de
projetos que tinha conhecimento e experiência nas boas técnicas de gestão é
ainda muito útil, mas não é mais considerado o profissional no topo da cadeia
alimentar. Esse gerente de projetos de agora precisa ser bem mais do que apenas
alguém capacitado na sua área específica de conhecimento. Para ser tudo o que se
deseja dele (ou dela), nesse momento tão desafiador, o gerente de projetos
deverá ser um super muitíssimo bem preparado gerente com múltiplas competências.
Sim, parece um pouco exagerado. De qualquer modo, toda essa conversa indica que
o ano de 2020 – como não poderia deixar de ser – será repleto de desafios para
os gerentes de projeto.
- - - Sobre a Economia de Projeto - - -
Segundo o PMI (Project Management Institute), a Economia de Projeto
(Project Economy) é aquela em que as pessoas têm as habilidades e capacidades
necessárias para transformar idéias em realidade. Acredita-se que é onde as
organizações agregem valor às partes interessadas por meio da conclusão
bem-sucedida de projetos, entrega de produtos e alinhamento aos fluxos de
valor. Tudo muito lindo, não é mesmo? Acontece que apesar de todos os esforços
de treinamento e certificações existentes (PMP, SixSigma, ITIL, ...), dos
escritórios de projeto (PMOs), do uso de métodos de gerenciamento de projetos
(Prince2, Scrum, ...), somada a enorme experiência em projetos adquirida pela
comunidade global ao longo dos anos, o indicador de sucesso em projetos está
longe dos 100%. Segundo o relatório do PMI Pulse of Profession de 2018, a taxa
de projetos completados com sucesso que alcançaram os seus objetivos foi de 68%,
portanto, um número apenas razoável. Ocorre que nesse mesmo relatório do ano
seguinte, encontramos a seguinte afirmação: “Dados da nova pesquisa Pulse 2019
mostram que as organizações desperdiçaram, devido ao baixo desempenho, quase
12% de seus investimentos em projetos, um número que mal se moveu nos últimos
cinco anos”. Em outras palavras, o tal bom desempenho e a conclusão
bem-sucedida de projetos, apesar de tudo que vem sendo feito nessa área, é ainda
frustantemente difícil de ser alcançada.
- - - O pêso extra do triângulo de talentos - - -
Com o objetivo de subir a régua indicadora da excelência na gestão, o PMI
coloca um pêso extra nas costas dos gerentes de projetos com o seu triângulo de
talentos. Por essa abordagem, não basta apenas que o gerente de projetos domine
os aspectos relativos ao gerenciamento de projetos, programas e portfolio,
sendo este apenas um vértice do triângulo. No outro vértice do triângulo o
gerente de projetos deve ser um líder, com habilidades necessárias para
orientar, motivar e dirigir sua equipe. Finalmente, no terceiro vértice do
triângulo o gerente de projetos precisa atuar no gerenciamento estratégico e de
negócios, sendo capaz de alinhar as
ações do projeto ao plano estratégico da organização. O triângulo de talentos
do PMI serve também como fundamento para compreender porque os profissionais de
gerenciamento de projetos precisam “ser a voz da mudança” em suas organizações
e buscar o treinamento e o conhecimento necessários para liderar, e não apenas
gerenciar.
- - - Mais mudanças e novas tecnologias - - -
As mudanças acontecem a todo momento. Por conta disso, grandes empresas de
consultoria como, por exemplo, a Ernst & Young, já observaram que muitos empregos
de hoje em dia simplesmente não existiam há 10 anos, e que daqui a dez anos, muitos
empregos provavelmente serão diferentes novamente. É evidente que todo esse
ritmo de mudanças é estressante. Será que devemos nos preocupar a ponto de
ficar sobrecarregados? Essa resposta será diferente para cada pessoa e para
cada gerente de projetos. Mas aqueles que aproveitarem as mudanças para
perceber o que se pode fazer para melhorar, terão vantagem sobre os demais. Ter
a mente aberta será fundamental para buscar e encontrar oportunidades
diferentes, novas ideias e maneiras de fazer o trabalho.
A Inteligência Artifical estará cada vez mais presente nas ferramentas de
gerenciamento de projetos, permitindo, dentre outros atributos, aprimorar as
estimativas de tempo e custo, facilitar a comunicação com a equipe, além da
criação de melhores planos de antecipação e prevenção de riscos. Entretanto, há
outros fatores que não devem ser esquecidos. A tecnologia é uma área percebida
por grande parte das pessoas como capaz de oferecer um futuro melhor. Mas, ao
mesmo tempo, existem muitas dúvidas e um certo pessimismo. A mídia social que
deveria reunir as pessoas é hoje também conhecida como instrumento de invasão
da privacidade, difusora de propaganda e fonte de deterioração da democracia. O
comércio eletrônico oferece muitas conveniências, mas também abre um enorme
espaço para fraudes costuradas na grande rede através de pessoas mal
intencionadas. O comércio eletrônico abre também espaço para o trabalho mal
pago, exacerbando a desigualdade e entupindo as ruas com os carros do Uber e as
motos dos entregadores do Ifood. Os pais se preocupam com o fato dos
smartphones terem transformado seus filhos em zumbis viciados em tela. A
inteligência artificial (IA) pode muito bem criar máquinas incríveis e robos capazes
de fazer o que se pensou ser possível somente nos filmes de ficção, ao mesmo
tempo que, sem a menor cerimônia, ameaça
o emprego das pessoas. Portanto, nem tudo é brilho, pois as tecnologias que
deverão dominar a nova década também parecem lançar uma sombra escura, e essa
sombra escura afeta a sociedade, as organizações e seus projetos.
- - - Saber lidar com a ambiguidade - - -
A consultoria Deloitte afirma que liderar através da complexidade e da
ambiguidade é a principal habilidade necessária para os líderes de hoje e de
amanhã. Portanto, os gerentes de projeto
precisam saber lidar com a ambiguidade.
Em muitas organizações os especialistas tem observado um certo conflito no
momento em que tudo parece se mover muito rápido e existe a necessidade de
tomar decisões também rapidamente. Como nem sempre há informações completas,
isso cria um problema na tomada de decisões para todos os envolvidos. Há um
desconforto para decidir, uma vez que ninguém gosta de errar! E para aqueles
que ocupam a alta gerência isso é ainda mais crítico, em função do grau de
responsabilidade e do temor de resultados negativos alcançados devido a
decisões mal feitas. E, absolutamente, não importa se uma má decisão se
originou da falta de informação. Não se espera desculpas para o sucesso não
alcançado, uma vez que o desenvolvimento das organizações depende desse sucesso.
É aqui que aparece essa tal ambiguidade, exatamente porque a tomada de decisão
é afetada pela falta de informação. Muitas vezes, os cenários de mudança têm
excesso de informações e dados em grande quantidade, mas em estado de confusão.
Isso acaba se transformando, de certa forma, em falta de informação. Em outras
palavras, ao invés de trabalhar em um mundo com duas cores nítidas como, por
exemplo, o preto e o branco, o mundo em mudança é inundado por uma grande área
cinzenta que dificulta a tomada de decisão, podendo haver mais de uma
interpretação para o mesmo fato. As dificuldades para lidar com a ambiguidade
são enormes, uma vez que nem sempre será possível controlar tudo, sendo
necessário agir mesmo sem ter disponíveis todas as informações e isso poderá
levar a decisões erradas, gerando estresse e conflitos.
- - - Mais e mais desafios - - -
De fato, o mundo será muito diferente para a próxima
geração de gerentes de projeto, que terão que lidar com novas tecnologias
impregnadas de Inteligência Artificial. Como um cachorro que nunca poderá se
cansar de aprender truques novos, o gerente de projetos carregará a
responsabilidade pelo planejamento e a execução bem sucedida do projeto, usando
todas as práticas e técnicas que tiver ao seu dispor. Deverá liderar a equipe,
gerir o projeto, ser um exímio comunicador, ser capaz de manter as partes interessadas
engajadas, ter a capacidade de prever as dificuldades e agir preventivamente
assegurando o bom andamento dos trabalhos e ser um conhecedor da estratégia de
negócios da organização, estando afiado e pronto para enfrentar um mundo cada
vez mais complexo e ambíguo. Eu desejo que, pelo menos, os gerentes de projeto
sejam profissionais muito bem remunerados. E desejo também boa sorte, pois eles
e elas irão precisar. Bem, é isso aí, até a próxima!
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