terça-feira, 22 de julho de 2014

Mas afinal o que é o escopo do projeto?

O razão de bater nessa velha tecla, num assunto que deveria estar absolutamente superado, é que ainda encontro alunos que não conseguem articular um simples parágrafo explicando corretamente o que é o escopo do projeto. E aqui não estou generalizando, uma vez tenho constatado que muitos alunos explicam corretamente esse conceito. Mas, uma quantidade significativa de alunos ainda está errando feio.

Será que devo mesmo me inquietar por encontrar ainda um grupo relativamente grande de alunos que não consegue entender esse conceito tão importante? Por que as respostas – sobre uma das questões de prova mais frequentes em cursos de gestão de projetos - estavam tão confusos e sem sentido? Num primeiro momento, pensei que o problema estivesse relacionado à dificuldade do aluno escrever um texto, algo que, infelizmente, acontece com os nossos alunos bem mais do que eu gostaria que acontecesse. Depois, lendo e relendo as respostas notei que o buraco era mais em baixo, havendo realmente uma falta de entendimento conceitual.

É que esse tipo de erro chama a atenção. Algumas das respostas conseguiram misturar os conceitos de escopo do produto (o que será criado pelo projeto) com o escopo do projeto (o trabalho que precisa ser feito durante o projeto para criar esse produto). Algumas frases passavam a impressão de que o escopo era tudo, ou quase tudo. Bem, como a maior parte de nós sabe, o escopo é o escopo, e ponto.

O PMBOK Guide, por exemplo, em sua 5ª. edição, apresenta dez áreas do conhecimento, sendo o escopo apenas uma delas. As dez áreas do conhecimento do gerenciamento de projetos são as seguintes: escopo, tempo, custo, qualidade, recursos humanos, riscos, comunicações, aquisições, integração e partes envolvidas (stakeholders). São áreas separadas onde cada coisa é explicada detalhadamente. É claro que uma coisa interfere na outra. É claro que existem interdependências. Assim como o feijão é uma coisa e o arroz é outra, mas podem ser colocados juntos e funcionar muito bem. Da mesma forma que o leite é diferente do café, e também combinam. O escopo, o tempo, o custo e todas as outras áreas do conhecimento do gerenciamento de projetos são interdependentes, embora cada uma seja algo específico e diferente.

Para esclarecer esse tópico, fui buscar a definição de escopo do projeto por diferentes autores. Vejamos o que eles dizem sobre isso:

·        O escopo do projeto “está relacionado ao trabalho que deve ser realizado para que seja entregue o produto final do projeto, com as características e funções que foram definidas. O escopo do projeto é representado na estrutura analítica do trabalho, ... , que contém os deliverables (subprodutos) que devem ser gerados no projeto”. (Xavier, 2005).

·       "O gerenciamento do escopo do projeto inclui os processos necessários para assegurar que o projeto inclui todo o trabalho necessário, e apenas o necessário, para terminar o projeto com sucesso. Esse gerenciamento está relacionado principalmente com a definição e controle do que está e do que não está incluso no projeto". (PMI, 2008).

·        "Estamos vendo algumas formas de tratar o desdobramento do escopo do projeto e a lógica que interligará as atividades que deverão ser executadas no projeto. No detalhamento do escopo do projeto, podemos citar a simples elaboração de uma “lista de coisas a fazer”. (Menezes, 2009).

·        "O gerenciamento de escopo é um subconjunto do gerenciamento de projetos que inclui os processos necessários para assegurar que o projeto englobe todas as atividades necessárias, e apenas as atividades necessárias, para que seja finalizado com sucesso". (Xavier, 2008).

 

O escopo do projeto refere-se ao trabalho que precisa ser feito para produzir e entregar o produto do projeto.

Como resultado do planejamento do escopo é criada a EAP (Estrutura Analítica do Projeto), através da técnica de decomposição do projeto em entregas. Cada entrega é decomposta em pacotes de trabalho. Com a EAP é possível saber o trabalho que precisa ser feito para criar o produto (ou serviço) do projeto.  

Para elaborar o cronograma os pacotes de trabalho são subdivididos em atividades, sendo o resultado desse processo a lista de atividades. Cada atividade tem uma duração estimada. O cronograma mostra a sequencia de atividades do projeto, que é, em termos práticos, o conjunto de passos que precisam ser dados, desde o início até o final, para que o projeto seja iniciado, executado e concluído.

De posse da EAP é possível definir as alocações de recursos. Em outras palavras, é possível dizer quem executará cada pacote de trabalho. Esse alguém pode ser um membro da equipe de projeto pertencente a empresa executora do projeto, ou um recurso contratado externamente.

Com a EAP é possível também estimar os custos de cada pacote de trabalho, sendo esse um passo muito importante para a elaboração do orçamento do projeto.

A EAP – que é o resultado do planejamento de escopo – serve para várias coisas ou, usando a terminologia do PMBOK, é uma entrada para vários outros processos do gerenciamento de projetos, diferentes do gerenciamento do escopo. Mas o escopo não é tempo, não é RH, não é custo, não é risco e não é aquisição. O escopo é apenas e somente o próprio escopo.

Referências bibliográficas:

Menezes, L. C. de M. “Gestão de Projetos”. 3ª. edição. São Paulo: Atlas, 2009.

Xavier, C. M. da S. “Metodologia de Gerenciamento de Projetos no Terceiro Setor: uma estratégia para a condução de projetos”. Rio de Janeiro: Brasport, 2008.

Xavier, C. M. da S. “Gerenciamento de Projetos: como definir e controlar o escopo do projeto”. São Paulo: Saraiva, 2005.

PMI (Project Management Institute). “Project Management Body of Knowledge Guide”. Newtown Square: PMI, 2008.

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