quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A ilusão do tempo para Einstein

“ – Um minuto-luz é a distância que a luz consegue percorrer no intervalo de um minuto. E ela é grande, pois no espaço sideral a luz percorre trezentos mil quilômetros em apenas um segundo. Um minuto-luz, em outras palavras, é trezentos mil vezes sessenta, isto é, dezoito milhões de quilômetros. Um ano-luz corresponde a cerca de dez trilhões de quilômetros.

- E qual a distância daqui até o Sol?

- Pouco mais que oito minutos-luz. Os raios do Sol que aquecem nossa face num dia quente de verão viajaram oito minutos pelo universo antes de nos alcançar.

- Continue!

- A distância até Plutão, que é o primeiro planeta mais afastado do nosso sistema solar, é de meras cinco horas-luz desde o nosso próprio planeta. Quando um astrônomo observa Plutão na objetiva do seu telescópio, na verdade está retrocedendo cinco horas no tempo. Podemos dizer de outra forma: que a imagem de Plutão leva cinco horas para se mover até aqui.

- É difícil imaginar uma coisa assim, mas, para dizer a verdade, eu acho que compreendo o que você quer dizer.

- Que bom, Hilde. Mas até agora nós só começamos a nos orientar no espaço. Nosso próprio Sol é apenas uma entre os quatrocentos bilhões de estrelas numa galáxia que chamamos de Via Láctea. Essa galáxia se assemelha a um grande disco com vários braços em forma de espiral, num dos quais está o nosso Sol. Quando observamos o céu de uma noite de inverno, podemos ver um largo cinturão de estrelas. Isso porque estamos olhando diretamente para o centro da Via Láctea.

- É por isso que a Via Láctea se chama “Rua do Inverno” em sueco.

- A distância até nossa vizinha mais próxima na Via Láctea é quatro anos-luz. Talvez seja aquela estrela ali, brilhando acima daquela ilha lá longe. Imagine que agora mesmo lá existe um astrônomo amador com um telescópio bem potente apontado para Bjerkely: ele está enxergando a Bjerkely de quatro anos atrás. Talvez ele esteja vendo uma garota de onze anos se balançando aqui.

- Incrível!

- Mas essa é apenas a estrela vizinha mais próxima. A galáxia inteira, ou “nebulosa” como também a chamamos, possui noventa mil anos-luz de largura. Essa é a quantidade de anos de que a luz precisaria para ir de uma extremidade a outra. Quando vemos o brilho de uma estrela da Via Láctea que está a cinquenta mil anos-luz de nosso próprio Sol, estamos olhando para cinquenta mil anos no passado.

- É uma ideia muito grande para uma cabeça pequena como a  minha.

- A única maneira de enxergarmos o universo é justamente olhando de volta no tempo. Não sabemos jamais como é o universo lá fora. Só conseguimos saber como ele era. Quando olhamos para uma estrela que está a milhares de anos-luz de distância, na verdade estamos retrocedendo milhares de anos na história do universo.

- Isso é completamente inimaginável.

- Tudo que vemos chega aos nossos olhos através da luz, que se locomove em ondas. E essas ondas precisam de tempo para viajar pelo espaço. Podemos fazer uma comparação com o trovão. Ouvimos o trovão um tempo depois de termos visto o relâmpago ou o raio. Quando ouço o trovão, estou ouvindo o barulho de algo que aconteceu no passado, ainda que recente. Assim é também com as estrelas. Quando olho para o alto e vejo uma estrela que se encontra a milhares de anos-luz daqui, estou “vendo o trovão” de algo que aconteceu num passado remoto, há milhares de anos”.

Diálogo entre Hilde, uma menina prestes à completar 15 anos, e seu pai. No livro eles vivem num lugar chamado Bjerkely, na Noruega.
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O texto acima, entre aspas, foi extraído do livro O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia, de Jostein Gaarder, que vendeu, somente no Brasil, mais de um milhão de exemplares.
Fonte: Gaarder, J. “O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia”. São Paulo: Cia das Letras, 2012.

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