Dando uma olhada no Guia Salarial 2025 produzido pela empresa Robert Half podemos confirmar como os salários no Brasil são baixos, mesmo para cargos que envolvem tecnologia, pagos para pessoas com alto nível técnico e que estão as voltas com muito trabalho nos inúmeros projetos em andamento. É claro que essa é minha opinião.
E não adianta vir com esse papo de comparar esses salários, que alguns otários consideram altos, com os salários de funções que não necessitam grau de instrução superior. Essa comparação é simplesmente tola. É evidente que pessoas menos qualificadas ganham menos. Mas, essa não é a questão que estamos discutindo. O problema é que os salários – em quase todos os níveis - são baixos no Brasil e isso parece a tônica do nosso mundinho corporativo. Em outros países capitalistas não é assim.
Então
vejamos, voltando aos números que estão disponíveis no site da empresa acima
citada – ver link no final desse post - temos que os salários de funções
relevantes em projetos ágeis – sim, da filosofia da agilidade tão badalada nas
empresas e organizações dedicadas à gestão de projetos, espalhadas por nosso
sofrido planeta - estão dentro das
seguintes faixas:
VALORES
EM REAIS
-
Desenvolvedor(a)
Mobile Senior: $13.000 até $21.900
Desenvolvedor(a)
Front-End Senior: $12.690 até $19.320
Desenvolvedor(a)
Full Stack Senior: $12.250 até $20.600
Desenvolvedor(a)
Back-End Senior: $12.250 até $20.600
Desenvolvedor(a)
RPA Senior: $12.250 até $20.600
Product
Owner – PO: $7.700 até $14.190
Gerente
de Produto de Tecnologia: $11.000 até $18.000
Agile
Coach: $11.000 até $18.000
Analista
de Testes Senior: $10.350 até $17.400
Lembrando
que os profissionais classificados em níveis pleno e junior, para as mesmas
funções, ganham ainda menos. Tá bom, eu quero ainda dizer: - De que serviu ser
ágil? Pra ganhar só isso?
Mas,
olhando assim de primeira, não parece tão baixo. Vejamos então! Vamos lembrar
que a economia brasileira é muito dolarizada em função de políticas que não
privilegiam o desenvolvimento industrial do país. Por exemplo, os itens mais
caros (eletrônica embarcada e outros) nos automóveis produzidos no Brasil são importados. O resultado é que não
existe mais o tal carro popular. Um carro zero quilometro custa, geralmente,
acima dos R$100 mil.
A
química contida nos medicamentos é importada. Por isso os remédios são e ficam
cada vez mais caros. Os microchips dos celulares são todos importados e, adivinhem,
os celulares também são produtos caros. Tudo isso se estende e se amplia por
diferentes setores produtivos, fazendo com que quase tudo que é importante e
possui tecnologia de ponta (ou algum tipo de tecnologia desconhecida ou menos
desenvolvida por aqui) seja importado. Então, seria um exagero dizer que esses
salários em reais não compram p#*@ nenhuma? Calma, ainda preciso dizer mais
algumas coisas antes de responder.
Alguém,
que não frequenta os supermercados, poderia dizer que os alimentos, produzidos pelo
Agro são acessíveis para o nosso povo. Mas quanta ignorância.
Uma
visitinha aos supermercados, ou mesmo uma rápida pesquisa nos sites de
supermercados na Internet, mostraria que os preços dos alimentos estão bastante salgados.
Encontrei hoje em alguns supermercados pesquisados os seguintes preços:
Embalagem
com 20 ovos: $20,50 ou $1,02 por ovo
Tomate
italiano: $12,00 / Kg
Laranja
Bahia: $17,00 / Kg
Maça
Gala: $16,00 / Kg
Mexerica
Murgote: $11,90 / Kg
Alface
Lisa: $5,70 / unidade
Banana
Prata: $10,00 / Kg
Banana
Nanica: $7,00 / Kg
Leite
tipo A: $7,00 / Litro
Maminha
Bovina: $60,00 / Kg
Picanha
Bovina: $66,00 / Kg
Olhando
a lista de produtos separados até não parece tão caro. Mas lembre-se que você
precisa comprar muitos produtos diferentes de uma vez e todos esses produtos
somados levam a contas altas. E eu nem inclui os produtos de higiene, limpeza e
tantos outros que precisamos nas nossas vidas.
Atualmente,
uma simples visita a um supermercado pode resultar em uma conta na faixa de
$300 a $400 reais por visita. Um valor atualmente considerado “normal” para
quase qualquer comprinha de meia dúzia de produtos. Fora isso, também costumamos fazer compras de maiores volumes, não tão grandes como as antigas compras de mês, nos tempos da hiperinflação, mas ainda assim que nos levam a gastar mais dinheiro. Pense um pouco e tente
responder a seguinte pergunta: - Quantas vezes as pessoas visitam os
supermercados durante um mês?
Eu
nem quero lembrar que tem brasileiros comendo osso, notícia alardeada em
diferentes telejornais pelo país recentemente. Para a maioria da população
pobre, está muito difícil conseguir comprar alimentos. O perfil salarial do
trabalhador brasileiro é muito baixo. Vamos deixar de lado essa historinha de
perfil. O brasileiro do povão ganha pouco! Para este ano de 2025, o salário
mínimo nacional deverá ser reajustado para o valor de R$1,518, ou seja, a
insignificância de US$261,63.
Repetindo
algo que eu disse aqui em abril do ano passado, a renda média real domiciliar
per capita da metade mais pobre da população brasileira é de R$537 mensais,
constatou o IBGE em 2022. Ou seja, cerca
de 107 milhões de brasileiros sobreviveram com apenas R$17,90 por dia. É isso!
Agora faça as contas e veja se os alimentos estão baratos ou caros.
Em
2021, o 1% mais ricos concentravam 49,6% da riqueza nacional, constatou o relatório
da Riqueza Global,
publicado pelo banco Credit Suisse. As fontes citadas não pertencem ao atual governo ou ao governo passado. De fato, é muito desigualdade! Isso não está nos
levando para um bom caminho.
Agora,
voltando ao nosso caso dos profissionais ágeis, gente que estudou e se preparou
para o trabalho com curso superior, MBAs, certificações, curso de inglês e
outros caraminguás. O dono do salário de $20.000, um valor médio encontrado
para os profissionais sênior, poderá comprar muita coisa, se for um jovem
talentoso que ainda mora com os pais. Entretanto, não é comum ser um sênior
jovem, uma vez que ser sênior significa que se trata de alguém experiente e
isso só acontece com o passar dos anos. A experiência não se ensina, se adquire
trabalhando muito, aprendendo com os problemas que foram enfrentados e
resolvidos nesse período.
Então,
só para não perder o raciocínio, essa pessoa sênior – mais madura - deve morar
em sua própria casa, já quitada (tendo que pagar IPTU e despesas de manutenção) ou sendo paga através de parcelas de
financiamento, ou pode ser ainda alugada, pode ter uma família, provavelmente
um carro, ou quem sabe mais de um, que consome combustível cada vez mais caro
pela atual forma de cobrança utilizada em nosso país, pode ter uma conta no
cartão de crédito, e mensalidades escolares dos filhos, e ainda precisar pagar
os planos de saúde cada dia mais impagáveis, além dos contínuos boletos disso e
daquilo outro que nos vencimentos os credores sempre nos lembram de pagar.
Segundo
o site https://economia.uol.com.br/cotacoes/cambio/ o valor do dólar comercial
em 26/fevereiro/2025 foi cotado em R$5,802 para compra. Em outras palavras, os
R$20 mil mensais do nosso sênior do exemplo acima resulta na merreca de
US$3.447,08. Mesmo assim, são muitas bananas, um tolo ou cínico, ou ambos, iria dizer e rir no canto do lábio. O mundo está cheio deles. Essas pessoas estão
tão ocupadas enchendo o próprio prato, que não vêm que os outros estão com
fome.
O
que eu quero dizer mais uma vez é que o Brasil precisa voltar a crescer e se
desenvolver com mais força e energia e isso só irá acontecer com a
reindustrialização. E a razão é muito simples: são as indústrias que pagam os
melhores salários. Uma economia que arranca dinheiro de todo o lugar para dar
para o setor financeiro está nos levando a falência e ao fracasso. Não é nova a
expressão “Brazilianization”, lançada por Douglas Coupland em seu livro
“Geração X: Contos de uma cultura acelerada”. O autor defendia que o fenômeno
de – traduzindo livremente – brasilionização significa o “abismo crescente
entre os ricos e os pobres, acompanhado pelo desaparecimento da classe média”.
Mas, deixando a cegueira ideológica de lado, não é isso que estamos vendo
acontecer? A economia é uma ciência social, e como tal seu desenvolvimento deve
servir a toda a sociedade, e não apenas a um grupo.
O processo de desindustrialização que o Brasil vem sofrendo há anos tem incessantemente nos tirado oportunidades de crescer no presente, com forte impacto negativo em nosso futuro. Para o brasileiro está sobrando o emprego precarizado e a maquiagem do falso empreendedorismo. Como no sucesso popular de Zeca Pagodinho, “sobrou pra mim, o bagaço da laranja”. Ser motorista de aplicativo e outros bicos não é ser empresário. É só um disfarce para manter você pobre e ferrado. Um baita esforço de um indivíduo por muito pouco retorno. Novamente, eu afirmo que o nosso país precisa voltar a caminhar para se tornar uma nação verdadeiramente industrializada, para que os brasileiros tenham uma chance real de melhorar de vida e crescer em suas existências. E isso se faz com trabalho bem remunerado. É isso aí, até a próxima!
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Para mais
informações acesse: https://www.roberthalf.com/br/pt/insights/guia-salarial