segunda-feira, 3 de março de 2025

Salários Ágeis e ainda Baixos !

 



Dando uma olhada no Guia Salarial 2025 produzido pela empresa Robert Half podemos confirmar como os salários no Brasil são baixos, mesmo para cargos que envolvem tecnologia, pagos para pessoas com alto nível técnico e que estão as voltas com muito trabalho nos inúmeros projetos em andamento. É claro que essa é minha opinião.

E não adianta vir com esse papo de comparar esses salários, que alguns otários consideram altos, com os salários de funções que não necessitam grau de instrução superior. Essa comparação é simplesmente tola. É evidente que pessoas menos qualificadas ganham menos. Mas, essa não é a questão que estamos discutindo. O problema é que os salários – em quase todos os níveis - são baixos no Brasil e isso parece a tônica do nosso mundinho corporativo. Em outros países capitalistas não é assim.

Então vejamos, voltando aos números que estão disponíveis no site da empresa acima citada – ver link no final desse post - temos que os salários de funções relevantes em projetos ágeis – sim, da filosofia da agilidade tão badalada nas empresas e organizações dedicadas à gestão de projetos, espalhadas por nosso sofrido planeta -  estão dentro das seguintes faixas:

VALORES EM REAIS -

Desenvolvedor(a) Mobile Senior: $13.000 até $21.900

Desenvolvedor(a) Front-End Senior: $12.690 até $19.320

Desenvolvedor(a) Full Stack Senior: $12.250 até $20.600

Desenvolvedor(a) Back-End Senior: $12.250 até $20.600

Desenvolvedor(a) RPA Senior: $12.250 até $20.600

Product Owner – PO: $7.700 até $14.190

Gerente de Produto de Tecnologia: $11.000 até $18.000

Agile Coach: $11.000 até $18.000

Analista de Testes Senior: $10.350 até $17.400

 

Lembrando que os profissionais classificados em níveis pleno e junior, para as mesmas funções, ganham ainda menos. Tá bom, eu quero ainda dizer: - De que serviu ser ágil? Pra ganhar só isso?

Mas, olhando assim de primeira, não parece tão baixo. Vejamos então! Vamos lembrar que a economia brasileira é muito dolarizada em função de políticas que não privilegiam o desenvolvimento industrial do país. Por exemplo, os itens mais caros (eletrônica embarcada e outros) nos automóveis produzidos no Brasil são importados. O resultado é que não existe mais o tal carro popular. Um carro zero quilometro custa, geralmente, acima dos R$100 mil.

A química contida nos medicamentos é importada. Por isso os remédios são e ficam cada vez mais caros. Os microchips dos celulares são todos importados e, adivinhem, os celulares também são produtos caros. Tudo isso se estende e se amplia por diferentes setores produtivos, fazendo com que quase tudo que é importante e possui tecnologia de ponta (ou algum tipo de tecnologia desconhecida ou menos desenvolvida por aqui) seja importado. Então, seria um exagero dizer que esses salários em reais não compram p#*@ nenhuma? Calma, ainda preciso dizer mais algumas coisas antes de responder.

Alguém, que não frequenta os supermercados, poderia dizer que os alimentos, produzidos pelo Agro são acessíveis para o nosso povo. Mas quanta ignorância.

Uma visitinha aos supermercados, ou mesmo uma rápida pesquisa nos sites de supermercados na Internet, mostraria que os preços dos alimentos estão bastante salgados. Encontrei hoje em alguns supermercados pesquisados os seguintes preços:

Embalagem com 20 ovos: $20,50 ou $1,02 por ovo

Tomate italiano: $12,00 / Kg

Laranja Bahia: $17,00 / Kg

Maça Gala: $16,00 / Kg

Mexerica Murgote: $11,90 / Kg

Alface Lisa: $5,70 / unidade

Banana Prata: $10,00 / Kg

Banana Nanica: $7,00 / Kg

Leite tipo A: $7,00 / Litro

Maminha Bovina: $60,00 / Kg

Picanha Bovina: $66,00 / Kg

 

Olhando a lista de produtos separados até não parece tão caro. Mas lembre-se que você precisa comprar muitos produtos diferentes de uma vez e todos esses produtos somados levam a contas altas. E eu nem inclui os produtos de higiene, limpeza e tantos outros que precisamos nas nossas vidas.

Atualmente, uma simples visita a um supermercado pode resultar em uma conta na faixa de $300 a $400 reais por visita. Um valor atualmente considerado “normal” para quase qualquer comprinha de meia dúzia de produtos. Fora isso, também costumamos fazer compras de maiores volumes, não tão grandes como as antigas compras de mês, nos tempos da hiperinflação, mas ainda assim que nos levam a gastar mais dinheiro. Pense um pouco e tente responder a seguinte pergunta: - Quantas vezes as pessoas visitam os supermercados durante um mês?

Eu nem quero lembrar que tem brasileiros comendo osso, notícia alardeada em diferentes telejornais pelo país recentemente. Para a maioria da população pobre, está muito difícil conseguir comprar alimentos. O perfil salarial do trabalhador brasileiro é muito baixo. Vamos deixar de lado essa historinha de perfil. O brasileiro do povão ganha pouco! Para este ano de 2025, o salário mínimo nacional deverá ser reajustado para o valor de R$1,518, ou seja, a insignificância de US$261,63.

Repetindo algo que eu disse aqui em abril do ano passado, a renda média real domiciliar per capita da metade mais pobre da população brasileira é de R$537 mensais, constatou o IBGE em 2022. Ou seja, cerca de 107 milhões de brasileiros sobreviveram com apenas R$17,90 por dia. É isso! Agora faça as contas e veja se os alimentos estão baratos ou caros.

Em 2021, o 1% mais ricos concentravam 49,6% da riqueza nacional, constatou o relatório da Riqueza Global, publicado pelo banco Credit Suisse. As fontes citadas não pertencem ao atual governo ou ao governo passado. De fato, é muito desigualdade! Isso não está nos levando para um bom caminho.

Agora, voltando ao nosso caso dos profissionais ágeis, gente que estudou e se preparou para o trabalho com curso superior, MBAs, certificações, curso de inglês e outros caraminguás. O dono do salário de $20.000, um valor médio encontrado para os profissionais sênior, poderá comprar muita coisa, se for um jovem talentoso que ainda mora com os pais. Entretanto, não é comum ser um sênior jovem, uma vez que ser sênior significa que se trata de alguém experiente e isso só acontece com o passar dos anos. A experiência não se ensina, se adquire trabalhando muito, aprendendo com os problemas que foram enfrentados e resolvidos nesse período.

Então, só para não perder o raciocínio, essa pessoa sênior – mais madura - deve morar em sua própria casa, já quitada (tendo que pagar IPTU e despesas de manutenção) ou sendo paga através de parcelas de financiamento, ou pode ser ainda alugada, pode ter uma família, provavelmente um carro, ou quem sabe mais de um, que consome combustível cada vez mais caro pela atual forma de cobrança utilizada em nosso país, pode ter uma conta no cartão de crédito, e mensalidades escolares dos filhos, e ainda precisar pagar os planos de saúde cada dia mais impagáveis, além dos contínuos boletos disso e daquilo outro que nos vencimentos os credores sempre nos lembram de pagar.

Segundo o site https://economia.uol.com.br/cotacoes/cambio/ o valor do dólar comercial em 26/fevereiro/2025 foi cotado em R$5,802 para compra. Em outras palavras, os R$20 mil mensais do nosso sênior do exemplo acima resulta na merreca de US$3.447,08. Mesmo assim, são muitas bananas, um tolo ou cínico, ou ambos, iria dizer e rir no canto do lábio. O mundo está cheio deles. Essas pessoas estão tão ocupadas enchendo o próprio prato, que não vêm que os outros estão com fome.

O que eu quero dizer mais uma vez é que o Brasil precisa voltar a crescer e se desenvolver com mais força e energia e isso só irá acontecer com a reindustrialização. E a razão é muito simples: são as indústrias que pagam os melhores salários. Uma economia que arranca dinheiro de todo o lugar para dar para o setor financeiro está nos levando a falência e ao fracasso. Não é nova a expressão “Brazilianization”, lançada por Douglas Coupland em seu livro “Geração X: Contos de uma cultura acelerada”. O autor defendia que o fenômeno de – traduzindo livremente – brasilionização significa o “abismo crescente entre os ricos e os pobres, acompanhado pelo desaparecimento da classe média”. Mas, deixando a cegueira ideológica de lado, não é isso que estamos vendo acontecer? A economia é uma ciência social, e como tal seu desenvolvimento deve servir a toda a sociedade, e não apenas a um grupo.

O processo de desindustrialização que o Brasil vem sofrendo há anos tem incessantemente nos tirado oportunidades de crescer no presente, com forte impacto negativo em nosso futuro. Para o brasileiro está sobrando o emprego precarizado e a maquiagem do falso empreendedorismo. Como no sucesso popular de Zeca Pagodinho, “sobrou pra mim, o bagaço da laranja”. Ser motorista de aplicativo e outros bicos não é ser empresário. É só um disfarce para manter você pobre e ferrado. Um baita esforço de um indivíduo por muito pouco retorno. Novamente, eu afirmo que o nosso país precisa voltar a caminhar para se tornar uma nação verdadeiramente industrializada, para que os brasileiros tenham uma chance real de melhorar de vida e crescer em suas existências. E isso se faz com trabalho bem remunerado. É isso aí, até a próxima!

******************************************************************************

Para mais informações acesse: https://www.roberthalf.com/br/pt/insights/guia-salarial