Creio que existe uma enorme dificuldade sentida
pela maioria dos estudantes de gerenciamento de projetos quando se deparam com
a seguinte situação: enquanto estão lendo um texto teórico sobre o assunto,
começam a imaginar como tudo seria na prática, de preferência no ambiente da
empresa em que trabalham. É uma reação quase automática e impossível de evitar.
“Na minha empresa isso não funciona bem assim, desse jeito”, pensam alguns. “Se
não posso usar na minha empresa, então não serve para nada”, é o que passa pela
cabeça de muitos outros. A ansiedade de querer saber tudo muito rápido, e de
odiar perder tempo com “teorias inúteis”, age como uma trava mental, que não
deixa o aluno prosseguir nos seus estudos.
Nos textos teóricos, geralmente, os conteúdos são
apresentados uns após os outros, de uma forma linear que explica o problema e
mostra a solução. É claro que o mundo real da gestão de projetos não é
tão simples e organizado como aparece
nos textos. Na realidade, há um choque de
interesses e uma disputa de prioridades impactando os
projetos e o planejamento costuma ser uma folha em
branco que precisa ser totalmente preenchida.
A maneira de trabalhar com projetos costuma também mudar dependendo da
organização em que é desenvolvido. E aí começam a saltar perguntas como: - Não
existe o guia PMBOK, do PMI (Project Management Institute), com regras,
práticas e processos que todas as empresas deveriam usar? – Então, por que não usam?-
Por que existem todas essas diferenças e complicadores? - Como lidar com tudo
isso? Essas perguntas, sem dúvida, não são facilmemte respondidas por um
estudante que se inicia na gestão de projetos. Felizmente, a maioria dos
estudantes percebe que estudar o texto teórico é vital para entender sobre que
bases se apoia a gestão de projetos. Isso significa compreender os conceitos, as
práticas de gestão, como os processos são organizados, que ferramentas são
usadas e a linguagem comum dos projetos. Mas, esse é o primeiro passo. À medida que os estudos avançam, fica clara a necessidade de
trabalhar com um sistema que seja flexível o suficiente para permitir manter o controle
dos projetos, mesmo em tempos de dificuldade. Para ilustrar um pouco essa idéia, a figura
abaixo vai nos ajudar a mostrar alguns cenários de um projeto real.
Na figura, podemos ver um modelo de projeto que tem
por objetivo criar um produto ou serviço que atenda certos requisitos e
especificações (Qualidade), precisando, para isso, gastar um certo valor
(Custos) e ser implementado num certo prazo (Tempo). À medida que o tempo passa,
pressões externas podem tentar influenciar o projeto. Dependendo da magnitude
dessas influências (por exemplo, vinda da alta administração da organização), o
projeto acaba não conseguindo ficar imune a tais pressões e, em resposta às
mesmas, surge uma demanda por mudanças. É
recomendável levantar os impactos que tais mudanças causarão ao projeto do
ponto de vista de custo, prazo e qualidade. Se algo vai mudar e custar mais
caro, o projeto precisa que seja aprovada uma verba adicional. Se algo vai
mudar e devido a essa mudança o projeto necessitar de mais recursos, será
necessário aprovar a alocação de recursos adicionais. Se algo vai mudar e essa
mudança gera um atraso no projeto, esse atraso precisa ser aceito por todos e
não apenas entrar na conta do gerente de projetos. Ou se o atraso não pode ser
tolerado, mais recursos precisam ser aprovados para se juntar aos recursos já
existentes. Esses recursos extras farão o trabalho adicional para manter o
projeto dentro de seu prazo originalmente estabelecido no planejamento. Mas,
nem sempre é assim que acontece. Afinal, o mundo corporativo não é perfeito.
Muitos gerentes, inclusive aqueles com alguma experiência em projetos, pensam
que podem melhorar o cronograma estabelecido no planejamento e, o melhor de
tudo, reduzir os custos do projeto, apenas com uma “carteirada”. Afinal, pensam
eles: “- Todos mentem, aumentando a quantidade de tempo que necessitam para
executar suas atividades no projeto. Se o projeto gastar menos homens-hora,
certamente ficará menos custoso para a empresa”. O fato é que essa suposição
pode ser inteiramente falsa. Na prática, uma vez tomada a decisão de mudança,
sem o respectivo acréscimo de dinheiro, recursos humanos e materiais, o projeto
entra numa trilha muito perigosa, que poderá levá-lo ao fracasso.
Pensando apenas nas três restrições clássicas que
estão presentes em um projeto - Qualidade, Custo e Tempo - quando o mesmo é simplesmente
atropelado por pressões irresistíveis que vêm de escalões superiores da
organização, a primeira “coisa” que costuma ser sacrificada é a qualidade do
produto ou serviço a ser criado pelo projeto. Com uma qualidade menor, o
projeto não precisa produzir todas as entregas especificadas inicialmente, havendo
um boa chance da manutenção dos prazos e de preservação dos custos orçados. A idéia
de “flexibilizar” envolve a decisão de produzir algo com uma qualidade inferior
a aquela inicialmente definida. Portanto, parte dos requisitos não serão
atendidos. O projeto não tem outra alternativa senão a de se voltar para o
básico, para a produção de algo que, pelo menos, atenda as especificações
mínimas para ser aceito. Se isso for possível, muito que bem. Mas, se temos um
cliente exigente, isso costuma levar o projeto para intermináveis reuniões com
o cliente e desconfortáveis tentativas de explicar o inesplicável.
Voltanto à figura acima, se a pressão das “outras
prioridades” continua aumentando, é comum que a carga de trabalho aumente sobre
a equipe do projeto. Em outras palavras, ao invés de ir para casa às 05:00
horas da tarde, o pessoal começa a trabalhar todo o dia até tarde da noite.
Tudo isso para que o cronograma do projeto seja cumprido. É óbvio que, com o
aumento das horas trabalhadas, através das horas-extras, o custo do projeto
aumentará. Muitas empresas, cumpridoras de suas obrigações, sabem disso e
tentam evitar esta situação ao máximo. Mas existem formas de escapar dessa
obrigação. Apesar de concordarem que o pessoal trabalhe até mais tarde, não são
todas as organizações – e seus gestores - que concordam em pagar pelas horas-extras
trabalhadas. Em algumas delas, é comum o uso de planilhas de controle para o
“banco de horas” de seus colaboradores. Essas horas não-pagas como
horas-extras, poderão ser trocadas, no futuro, por dias de descanso ou mesmo
dias adicionais no período de férias do colaborador. Bem, aqui é pagar para ver!
Um projeto real ocorre em meio a pressões internas e externas, cabendo ao
gerente de projetos estar muito atento, porque precisa manter o controle sobre
o projeto para que o mesmo possa progredir.
E você estudante que está apenas começando, não se apresse em queimar
etapas e tentar entender tudo de um primeiro gole. Se fizer isso, poderá
engasgar facilmente. Com um pouco mais de tempo para alguns e um pouco menos
para outros, os conceitos do gerenciamento de projetos costumam ser pouco a
pouco absorvidos e o estudante acaba percebendo que tudo se encaixa muito
melhor e mais claramente do que possa parecer num primeiro momento.
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