quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A Fabulosa Lagarta

Me lembro a primeira vez que ouvi falar na Huawei. Bem, isso já foi há muito tempo, e naquela época eu e meus colegas, quase todos trabalhando em grandes e tradicionais fornecedores de soluções de telecomunicações, pensávamos na empresa chinesa como mais uma copiadora de tecnologia, sem tradição no mercado e sem produtos de qualidade. Nós pensávamos que a Huawei não teria condições objetivas para ameaçar o imperio das grandes corporações como a Alcatel, Cisco, Ericsson, Lucent, Nokia e Siemens, aqui citadas em ordem alfabética. Os nomes das empresas estão apresentados como na época em que conhecemos a Huawei, quando os movimentos de consolidação de mercado, que criaram a Alcatel-Lucent e a NSN, não eram nem mesmo imaginados.

Se fosse um conto de criança, a Huawei seria um verdadeiro bichinho feio. Não como o patinho que vira cisne, mas como uma lagarta que continua lagarta, e nunca se transforma em borboleta. Esse era o nosso ponto de vista, e é claro que estávamos errados.

A escritora Ruth Rocha tem um conto chamado A Primavera da Lagarta, que termina com a seguinte frase: “É preciso ter paciência com as lagartas, se quisermos conhecer as borboletas”. Pois muito bem, desde sua fundação há vinte anos, a empresa chinesa tornou-se uma fabulosa lagarta, empregando cerca de 37 mil colaboradores em todo o planeta e exibindo um faturamento de US$23 bilhões. Uma empresa sólida, que literalmente vem conquistando mercados, quase que da mesma forma que lagartas devoram as fôlhas a sua volta.

A Huawei é a líder absoluta no mercado de redes ópticas, conforme divulgado pela Ovum em novembro de 2009, ultrapassando sua rival mais próxima, a Alcatel-Lucent, em US$100 milhões considerando nessa comparação o volume de receitas. Este é o terceiro trimestre consecutivo em que a Huawei foi capaz de realizar essa façanha.

Mas não é só isso. Uma recente pesquisa da Dell'Oro classifica a Huawei na posição de número 2, com uma participação de 20% no mercado móvel global em 2009. A sueca Ericsson ainda mantém a liderança, com 32% de market share em 2009, mas sua posição ficou estagnada em relação ao ano passado. O tamanho do apetite da empresa chinesa fica claro quando se verifica que sua participação de mercado era de 11% em 2008. Segundo a mesma pesquisa da Dell'Oro, a NSN viu sua participação de mercado cair de 24% para 20% no final do terceiro trimestre de 2009. Esses números são por si só impressionantes.

Muita água passou por debaixo da ponte onde a lagarta montou seu casulo e trabalhou sem descanso para transformar-se num verdadeiro gigante do mercado de telecomunicações. E não se deve esquecer que durante sua vida, a empresa também precisou atravessar vendavais e tempestades. Por exemplo, a fama de copiar a tecnologia alheia vem de longe. Em janeiro de 2003, a agência de notícias Reuters noticiava que a Cisco tinha aberto um processo na justiça americana alegando que a chinesa teria copiado ilegalmente seu sistema operacional. Naquela época analistas e investidores já estavam considerando que um processo poderia ser aberto à qualquer momento, uma vez que os produtos da Huawei eram similares aos da Cisco. O noticiário dava conta que a Huawei teria infringido pelo menos cinco patentes da Cisco relacionadas a propriedade de protocolos de roteamento, incorporadas à linha de produtos Quidway. A Huawei era apelidada de “clone da Cisco” e ameaçava esse grande fabricante norte-americano nos mercados asiáticos. Pelo menos era isso que se pensava naquele momento. Os anos se passaram e a concorrência imposta pela Huawei acabou por globalizar-se.

Em setembro de 2007, a 3Com confirmou uma transação divulgada pelo Wall Street Journal, com respeito a venda do controle da empresa para dois fundos de investimento por 2,2 bilhões de dólares. Um dos fundos, o Shenzhen Huawei Investment & Holding Co. Ltd., obviamente pertencia à Huawei. O outro fundo, que participava da transação, era o Bain Capital Partners. Entretanto, em março de 2008 as duas empresas abandonariam sua oferta pela 3Com, barradas pelas preocupações do governo dos Estados Unidos com questões de segurança. Diz a lenda que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos utilizava produtos de detecção de invasão da 3Com e hackers chineses teriam atacado a agência no passado. A alegação de que a Huawei teria forte ligação com o governo chines justificava a preocupação do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, com relação a uma provável vulnerabilidade, no caso de se concretizar a compra da 3Com pela Huawei. Bem, tudo dito e escrito no condicional. Mas o fato é que esse negócio nunca foi para frente.

Do patamar de fábrica copiadora a Huawei subiu varios degraus e passou a ser uma empresa obcecada por inovação. O exemplo mais recente foi o ingresso no mercado de telefones celulares, tornando a empresa uma das primeiras no mundo a fabricar o Android, terminal que traz a plataforma operacional do Google. No Brasil, o Android da Huawei estava prometido para chegar às lojas no início de novembro desse ano, quase simultaneamente ao desembarque por aqui dos aparelhos da Samsung e da HTC, suas rivais nesse processo.

Ainda sobre inovação, há um fato que talvez surpreenda muita gente. Em setembro de 2009 a Huawei anunciou que possuía 147 patentes LTE (Long Term Evolution, a quarta geração da telefonia móvel) concedidas pelo Instituto Europeu de Normas de Telecomunicações (ETSI), o que equivale a 12% do total de 1.272 LTE patentes outorgadas por este instituto.

Inovação, patentes, mas a coisa não parou por aí. O mercado de telecom é movido a pesados investimentos, e por conta disso, a Huawei anunciou a expansão de sua linha de crédito junto ao China Development Bank (CDB) para US$30 bilhões, facilitando o acesso a financiamento para seus clientes, além de proporcionar novas oportunidades para a empresa no mercado externo. Mas enganam-se os que pensam que a empresa utiliza apenas o CDB como fonte de recursos. A Huawei já estabeleceu contratos com HSBC, Citibank e Deutsche Bank, apenas para mencionar alguns pêsos pesados do mercado financeiro global.

O fenômeno Huawei já produziu até um estudo muito interessante sobre a incrível ascensão da empresa, e que se chama Why Huawei is Going to Be the Number One Telecom Manufacturer in the World, escrito pelo professor William A. Foster, da Arizona State of University.

http://www.fosterandbrahm.com/docs/HuaweiNumber1.pdf

O estudo mencionado apresenta evidências de que a empresa chinesa é detentora da tecnologia de telecomunicações necessária para garantir sua posição de liderança e crescer ainda mais, e afirma que a Huawei aprendeu a desenvolver uma vantagem competitiva sustentável, baseada no fornecimento de equipamentos de baixo custo e de fácil integração com os equipamentos existentes nas redes das operadoras. Por conta dessa estratégia, a Huawei continuará crescendo.

O estudo conclui o seguinte: “If it is both the low-cost provider and the technology leader, no one will be able to stop Huawei from becoming the number one telecom company in the world”. Minha tradução deste parágrafo é a seguinte: “Se ela (Huawei) for ao mesmo tempo um fornecedor de baixo custo e a líder em tecnologia, ninguém poderá evitar que a Huawei se torne a empresa de telecom numero um no mundo”.

Talvez alguém possa estar pensando: - mas porque não pisaram na cabeça da lagarta quando tiveram oportunidade? Well, I believe it is too late, my friend! É isso mesmo amigo, agora é muito tarde. Já era! Bem, humor negro à parte, eu fico me perguntando se os fornecedores tradicionais, Alcatel-Lucent, Ericsson e Nokia-Siemens, citando-os após as fusões e ainda respeitando a ordem alfabética, ficarão apenas olhando o tempo passar, sem de fato fazer algo que modifique a visão de futuro do prof. William A. Foster, e de muita gente que eu conheço que compartilha dessa visão. Quando será que o império irá contra-atacar? Ou será que as grandes irão simplemente implementar estratégias de defesa ortodoxas, que as farão encolher cada vez mais de tamanho, demitir seus funcionários, diminuir seus portfolios de solução, amputar seus processos, na tentativa de encontrar o ponto de equilíbrio, e de voltar aos velhos e bons tempos das gordas margens de lucro?

Não é novidade que as empresas não podem prescindir do crescimento, e para isso tem que ser capazes de se adaptar para sobreviver. O que nos trouxe até aqui não nos levará para lá. Essa é a frase título do livro What got you here won't get you there, de Marshall Goldsmith, um dos pensadores de negócios mais influentes do nosso tempo.

http://www.marshallgoldsmithlibrary.com/

Esta frase, dita de boca cheia por muitos CEOs por aí, idênticas na essência, talvez apenas com pequenas modificações, significa que as empresas precisam de habilidades diferentes para continuar crescendo. Para empresas que se parecem com dinossauros gordos, essa é uma frase apenas falada, mas não praticada! Você sabe, quando um dinossauro gordo está na direção certa, descendo a ladeira na onda do mercado, não há como pará-lo, e ele passará por cima de tudo que estiver à sua frente, tornando-se algo praticamente imbatível. Entretanto, tente chamar a atenção de um dinassauro gordo, tente dizer para ele que agora o caminho mudou? Olha, existe um jardim cheio de plantas verdinhas para serem colhidas. Olha, não é mais por esse caminho, agora você precisa subir aquela nova montanha e voltar a deslizar ladeira abaixo. Bem, o dinassauro terá que frear, demorará um tempo até parar, mudar de direção, subir a nova montanha, posicionar-se para poder voltar a deslizar ladeira abaixo. Até que isso aconteça, a lagarta já deverá ter devorado todas as plantas do jardim.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Gemalto: Vivendo e Aprendendo

Vi uma máteria no IDGNow de 13 de novembro de 2009, dando conta que os clientes da operadora Oi poderiam efetuar o pagamento de suas diárias na rede de hotéis Formule 1, nas unidades do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, por meio do celular. Imediatamente, isso me fez lembrar da Gemalto.
Em agôsto passado tive o prazer de ministrar um treinamento na Gemalto, localizada no bairro do Brooklin, na cidade de São Paulo. Devo confessar que essa foi uma excelente experiência para mim. Em primeiro lugar, por ser obrigado a reconhecer que, mesmo tendo trabalhado na industria de telecomunicações por quase 14 anos, eu nunca tinha ouvido falar da Gemalto. Pois é isso mesmo, vivendo e aprendendo. Depois, durante minha preparação para o curso, pude compreender melhor que eu estava para entrar em contato com uma empresa líder mundial no segmento de segurança digital. O melhor de tudo, foi poder compartilhar experiências com um grupo de pessoas bastante motivado, energizado com o trabalho e comprometido com seus desafios. A Gemalto atua em diversos segmentos, como por exemplo, o mercado financeiro, transportes, enterprise e telecomunicações. Para o segmento de telecom, a empresa é um dos maiores fornecedes de chips de telefones celulares, como o SIM card para o GSM, e o USIM para o UMTS. A Gemalto fornece sistemas que possibilitam o uso de serviços avançados via telefone móvel, com segurança, onde se destacam o mobile payment e o mobile TV. A empresa domina a comunicação por campo em curta distância, conhecida pela sigla NFC (Near Field Communication), e mobiliza-se para fornecer para o mercado financeiro cartões inteligentes, com tecnologia NFC embutida, que substituirão no futuro os atuais cartões de crédito e débito dotados de tarja magnética. O site da Gemalto é muito interessante (www.gemalto.com), com destaque para uma parte que se chama Explore the Digital City. Lá no Explore the Digital City foi preparada uma animação interativa, onde estão apresentadas, de forma simples e direta, as soluçoes desenvolvidas para o dia a dia das empresas e das pessoas. Vale muito à pena conhecer.